São Paulo, sábado, 25 de agosto de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Presidente faz discurso conciliador no Estado de ACM

"Já engoli muitos sapos", diz FHC em visita à Bahia

Eduardo Knapp/Folha Imagem
O presidente Fernando Henrique prova cacau, em Itabuna, ao liberar verba para a lavoura cacaueira


LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ILHÉUS

Em sua primeira visita à Bahia depois do rompimento político com o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) e da morte do escritor Jorge Amado, o presidente Fernando Henrique Cardoso fez um discurso conciliador ontem em Ilhéus, ao anunciar a liberação de R$ 489 milhões para a lavoura cacaueira, nos próximos três anos.
"Já engoli muitos sapos. E continuarei a engolir [mais sapos" se isso for necessário para o desenvolvimento da Bahia e do Brasil", disse, no auditório da Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira). O discurso contemporizador de FHC coincide com uma trégua de ACM, que não foi a Ilhéus e tem evitado fazer críticas ao presidente.
Bem-humorado, o presidente reconheceu que os salários pagos aos pesquisadores brasileiros são baixos.
"No canteiro, conversei com um pesquisador hondurenho que mora no Brasil há muito tempo. Ele fez doutorado e reclamou do salário. É isso mesmo, tem de reclamar mesmo. Não vou reclamar do meu salário de presidente, mas eu quero reclamar do meu salário como doutor. Reclamar todos nós podemos, o que não podemos é deixar de amar a Bahia e o Brasil."
Fernando Henrique Cardoso passou a maior parte do tempo do seu discurso (30 minutos) elogiando a obra do escritor Jorge Amado, que morreu no último dia 6, aos 88 anos, de complicações cardíacas.
"Uma vez, o poeta e escritor modernista Oswald de Andrade disse que "Jubiabá" era o mais belo comício brasileiro, depois de "Navio Negreiro, de Castro Alves. O que posso dizer é que Oswald de Andrade foi muito feliz na comparação, pois os livros de Jorge Amado mostram um Brasil sem hierarquia de classes, sem cor e sem credo", disse o presidente.
FHC, que não compareceu ao velório do escritor baiano, disse que sempre recebeu mensagens de apoio de Jorge Amado.
"Eu o conheci no final da década de 40, quando ainda era jovem. Depois, eu o encontrei em várias cidades do mundo e sempre tive por parte de Jorge Amado uma mensagem de carinho."

Protecionismo
O presidente aproveitou o seu discurso para dizer que o Brasil vai intensificar a luta para romper com o protecionismo alfandegário adotado por alguns países.
"Não vamos mais ficar de costas para os países mais ricos, acabou o tempo de acreditar que o Brasil era um país autárquico."
Em um dos poucos momentos em que falou de política, FHC deixou claro que está disposto ao diálogo.
"Os meus ressentimentos partidários e pessoais não se sobrepõem aos interesses do país. A Bahia é maior do que todos nós, o Brasil é maior do que todos nós. A despeito de quaisquer fatores, vou continuar trabalhando pela Bahia e pelo Brasil."
Fernando Henrique Cardoso chegou à sede da Ceplac, em Ilhéus (429 km ao sul de Salvador) às 10h50. Antes de ir para o auditório, o presidente tomou suco de cacau e comeu o fruto. "Cacau é uma delícia", disse FHC.
Na visita à Ceplac, o presidente foi acompanhado pelo ministro Pratini de Moraes (Agricultura), o governador César Borges (PFL), os senadores Paulo Souto (PFL), Waldeck Ornélas (PFL) e Antonio Carlos Magalhães Júnior (PFL), além dos líderes Geddel Vieira Lima (PMDB) e Jutahy Magalhães Júnior (PSDB).



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