São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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JANIO DE FREITAS

A hora das regras

Ao dizer em Recife, no dia 9, que "Ciro gosta mesmo é de dólar, ele é fanático pelo dólar", José Serra não teve a repercussão presumivelmente pretendida, mas fincou uma placa no percurso da campanha eleitoral: "declive perigoso".
Nos últimos dias, as farpas e provocações que os dois vinham trocando, já antes de candidatos oficiais, passaram ao estágio de ataques e respostas com insultos graves e diários.
Em entrevistas e em eventos públicos, candidatos podem dizer o que quiserem, de si e de outros, sujeitos os seus excessos a providências legais. No horário eleitoral gratuito é diferente. Nele, mais do que os candidatos, a Justiça Eleitoral tem o dever de impedir ou punir transgressões éticas. A menos que tenham fatos e dados objetivos sobre condutas comprometedoras de seus adversários, os candidatos têm que obedecer a dois condicionamentos.
De gratuito, o horário só tem o nome, sendo compensado com recursos que saem indiretamente dos bolsos do eleitorado. Isso, para que os eleitores possam fazer escolha mais fundamentada entre os candidatos, aos quais são dadas, para tanto, oportunidades relativamente equitativas de expor o sentido de suas candidaturas.
As canalhices a que chegou a campanha de Collor, muitas sob impune responsabilidade criminosa de setores da mídia, sempre serão uma advertência à Justiça Eleitoral, para agir com rigor e presteza mesmo ao menor sinal de desregramento. Já virá atrasada -se vier- a aplicação desse rigor.
PS - Nesta hora em que a disputa começa a ferver, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Nelson Jobim -o da verticalização, e da instrução a PSDB e PMDB sobre o modo de ganhar certo recurso no tribunal, e do parecer dado de madrugada em favor desse recurso -viaja em "tour" pela China.

Crime
Justiça Eleitoral? A impugnação da candidatura do petista Jorge Viana à reeleição no Acre, sentenciada pelo TRE local, está muito além de qualquer qualificação publicável. Na trama para favorecer o esquema político do crime organizado, mesmo a OAB acreana está implicada.
O Tribunal Superior Eleitoral julgará recurso de Jorge Viana, impugnado a pretexto de que usou na campanha a mesma imagem de árvore que serviu ao slogan do seu governo. Mas a decisão final, ainda que favorável a Jorge Viana, será insuficiente: é o caso de uma investigação séria do TSE sobre o que se passa no TRE acreano. A omissão é ajuda ao crime organizado que ameaça até a vida de Jorge Viana e outros dos que o combatem.

Promessa
Tomara que José Serra, se eleito, crie mesmo, em quatro anos, os empregos que promete, oito milhões, quatro milhões no meio rural. Mas seria bom que mudasse sua mais recente promessa, feita na goiana Alexânia: se eleito, disse que vai duplicar "as estradas" que ligam Brasília ao Rio. Uma obra grandiosa, para a qual o programa da "Grande Aliança" deve conter, embora em total sigilo, recursos monumentais.
Mas por que o Rio? A ligação com São Paulo faria mais sentido. O Rio já tem problemas em excesso.


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