São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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SÃO PAULO

Funcionários de programa financiado pelo governo estadual têm de entregar material de campanha para tucanos

Monitor do Estado faz campanha para PSDB

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Funcionários de um programa financiado pelo governo do Estado de São Paulo afirmaram que estão sendo pressionados para fazer campanha política a favor do presidenciável José Serra (PSDB) e do governador e candidato à reeleição, o tucano Geraldo Alckmin, sob pena de demissão.
O projeto é o Parceiros do Futuro, que recebe aproximadamente R$ 20 milhões por ano do governo estadual, segundo afirmou o próprio secretário de Estado da Educação, Gabriel Chalita, em entrevista à Folha anteontem.
As assessorias dos candidatos tucanos afirmaram que não tiveram conhecimento do ato dos funcionários. O secretário também negou que os monitores tenham sofrido qualquer tipo de coerção para fazer a panfletagem, mas admitiu que houve o ato.
"Realmente houve esse ato, mas eu não fui informado. Mesmo assim, os monitores que participaram não são funcionários da secretaria, são terceirizados."
A lei federal 9.504 veta o uso de materiais ou serviços custeados pelo Executivo para, por exemplo, finalidades eleitorais.
Na última sexta-feira, a reportagem da Folha, sem se identificar, acompanhou cerca de 60 monitores do projeto Parceiros do Futuro que fizeram panfletagem pela região central de São Paulo.
A concentração começou ao meio-dia, atrás do prédio da Secretaria da Educação. Um carro e uma Kombi, que pertencem a dois monitores, serviram para levar o material de campanha de Serra e de Alckmin (bandeiras, adesivos, santinhos e panfletos), que seriam distribuídos pelos monitores à população.

Constrangimento
Antes de se dispersarem para a panfletagem, cada um recebeu um adesivo de Alckmin para colar na camisa e o material para ser distribuído. Em grupos fechados, os funcionários disseram estar "constrangidos" e "envergonhados" por se sentirem "obrigados" a trabalhar na campanha.
"Quase não vim. Meu marido ficou revoltado quando disse a ele que teria de fazer campanha", afirmou uma das monitoras, cujo nome será mantido sob sigilo. "Só desabafando com vocês para passar a raiva", concluiu, em seguida.
O "risco" descrito pelos funcionários é o de perder o trabalho de monitoria que desenvolvem, todos os sábados e domingos, em escolas estaduais. Como monitores socioeducativos, eles recebem R$ 470 por mês. A participação no ato de campanha é controlada por meio de uma lista de presença.
A orientação era retornar ao ponto de partida, às 13h15, para assinarem a lista e recolherem mais material de campanha.
Durante o percurso, funcionários afirmaram que a prática se repete sempre às segundas e sextas-feiras e em todas as regionais do projeto. No total, são sete regionais com cerca de 600 monitores, que atendem a 400 escolas.
O grupo acompanhado na última sexta-feira pela reportagem pertence à zona leste da capital.
Em pelo menos três ocasiões, a Folha presenciou funcionários que, ao entregarem os panfletos e as bandeiras às pessoas que passavam pelas ruas, chegaram a pedir desculpas e explicar que estavam sendo obrigados a trabalhar para a campanha tucana.
"O senhor me perdoe, mas tenho de fazer isso porque o meu chefe mandou", disse um dos monitores enquanto apontava para a foto de Alckmin, estampada em um folheto que era entregue.
O projeto Parceiros do Futuro é coordenado pela Secretaria de Estado da Educação por meio da FDE (Fundação para Desenvolvimento da Educação) e da FFM (Fundação Faculdade de Medicina). Nasceu para estimular programas socioeducativos entre crianças e jovens que frequentam escolas estaduais, com a participação da sociedade.
A coordenadora do projeto, Maria Amélia Fernandes, responde diretamente à gerência de projetos da FDE, que é subordinada à diretoria de projetos, por sua vez ligada à presidência da fundação. A última instância dessa hierarquia é o secretário de Estado da Educação, Gabriel Chalita.
"Não tenho o valor exato, mas a FDE repassa cerca de R$ 20 milhões por ano ao Parceiros do Futuros. Quero ressaltar, no entanto, que toda a administração é feita pela Fundação Faculdade de Medicina, que é um órgão sério e idôneo", afirmou o secretário.



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