São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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Trotskista quer fixar salário de R$ 1.500

LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Na estréia como candidato à Presidência, o jornalista Rui Costa Pimenta (PCO), 45, está ciente das chances nulas de eleição. "A intenção é estruturar o partido, chamar a atenção sobre nossas propostas e ser a real oposição do país no futuro", disse.
O presidenciável, contudo, espera o voto dos cerca de 10 mil filiados em 16 Estados. Em 1998, Pimenta disputou a eleição para deputado federal, obtendo 1.160 votos. Em 2000, concorreu à Prefeitura de São Paulo. Teve 870 votos.
Mesmo admitindo a derrota, Pimenta afirmou que o partido só vai decidir apoio para o segundo turno em outubro. "Vai ficar difícil porque o PT hoje deveria ser chamado de Partido Patronal, depois da aliança com o PL [o site do partido chama José de Alencar de "explorador selvagem dos operários têxteis", disse, repetindo o slogan da campanha: "Quem bate cartão não vota em patrão."
O PCO foi uma das correntes radicais do PT. Os militantes da ala radical trotskista foram expulsos em 1991, mas só conseguiram organizar candidaturas em 1996. Até agora não elegeram ninguém. "Falta estrutura e mídia a favor."
O partido declarou ao Tribunal Superior Eleitoral que deve gastar R$ 200 mil na campanha, mas Pimenta acha que não vai chegar a isso. Viagens? De ônibus ou carro para o interior de São Paulo, Minas Gerais e Rio. De avião foi à Paraíba e Pernambuco. Hospedagem sempre na casa de militantes.
No programa eleitoral, vai pregar um salário mínimo de R$ 1.500. "É um pouco mais justo do que o valor apontado pelo Dieese", disse. Mas como pagar esse salário? "A prioridade é sempre o trabalhador, e não o mercado."
Reestatizar tudo o que foi privatizado por Fernando Henrique Cardoso também é prioridade.
Moratória à dívida externa e "fora FMI" são outras regras. Sobre o acordo com o FMI, diz: "É típico do acordo de uma pessoa falida diante de um agiota. O agiota ao perceber que não vai receber o empréstimo de volta procura esfolar a vítima ao máximo para minimizar as perdas".
Tranquilo, não reage agressivo às provocações sobre a derrocada dos países comunistas. "Mas quem está em crise é o capitalismo. Para nós, a crise da União Soviética é um capítulo da crise do capitalismo: foram à bancarrota como o Brasil está indo."
A sede do partido, onde foi concedida a entrevista à Folha, é quase uma biblioteca. Obras no original alemão de Karl Marx, de Leon Trotski e muitos livros sobre ícones do comunismo-trotskismo.
Ao ser indagado se teria só literatura engajada, Pimenta se apressa em mostrar boa parte da estante com obras de poetas franceses. Tradutor de obras em inglês, Pimenta afirma que lê um pouco também em alemão e francês. E anuncia que, nas horas vagas da campanha, está finalizando um livro sobre o surrealismo, na arte e na literatura.


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