São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O ACUSADOR

Jairo Carneiro (PFL-BA) apresenta hoje relatório que aponta quatro situações em que petebista quebrou decoro parlamentar

Relator vai recomendar cassação de Jefferson

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O relator do processo de cassação do mandato de Roberto Jefferson (PTB-RJ) no Conselho de Ética da Câmara, Jairo Carneiro (PFL-BA), apresentará hoje seu parecer, cujo texto lista elementos que apontam quebra do decoro parlamentar pelo petebista. O voto do relator, entretanto, só será divulgado na próxima segunda.
O texto que será distribuído hoje aos integrantes do Conselho aponta quatro pontos que sugerem a quebra de decoro. O principal deles é o argumento que o "mensalão", denunciado por Jefferson, nunca teria existido. Em vez disso, haveria um vasto caixa dois entre os partidos da base.
Além disso, apontará indícios de tráfico de influência de Jefferson em estatais, e crime ao admitir ter recebido R$ 4 milhões, em dinheiro vivo, repassados pelo PT para financiar campanhas.
O parecer possui ainda indicativos de que Jefferson teria pressionado deputados do próprio PTB a testemunharem a seu favor, entre eles o líder da bancada, José Múcio (PE). Um dos exemplos seria uma reunião da bancada para falar sobre o "mensalão" que nunca teria ocorrido e teria sido inventada por Jefferson.
Correligionário de Jefferson, Múcio o contradisse várias vezes durante seu depoimento ao Conselho, por exemplo, quando negou a ocorrência da reunião com a bancada para decidir pela aceitação ou não do "mensalão". Em outros pontos de contradições, Múcio afirmou "ter quase certeza" que os R$ 4 milhões não chegaram aos candidatos a prefeito pelo PTB e que ele nunca discutiu o assunto com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, diferentemente da versão de Jefferson.
O relator do processo de cassação de Jefferson apresentará seu voto na próxima segunda-feira, mas segundo a Folha apurou o texto só receberá o aval dos integrantes do Conselho na quinta-feira, porque o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) pedirá vista do processo. O prazo para o pedido de vista é de duas sessões do Plenário da Casa.
O relatório de Carneiro foi elaborado com base em um outro parecer, emitido pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que não restringiu a apuração do Conselho às denúncias do chamado "mensalão" e permitiu uma investigação ampla sobre ações que caracterizassem a quebra de decoro por Jefferson.
O aval da CCJ foi dado após Jefferson apresentar requerimento à comissão reclamando que a apuração deveria se restringir às denúncias do "mensalão".
Os integrantes do Conselho dão como certa a recomendação da cassação de Jefferson. A contabilidade dos deputados que compõem o Conselho aponta dois cenários, com placar de 12 a 2 ou 12 a 4 contra o petebista.
O processo de cassação do mandato de Jefferson foi protocolado pelo presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), em 7 de junho, um dia depois de o petebista denunciar em entrevista à Folha a existência de um esquema de pagamento de mesadas na Câmara, conhecido como "mensalão". Segundo Jefferson, o PT pagaria uma espécie de mesada, no valor de R$ 30 mil, para deputados do PP e do PL em troca de apoio no Congresso. O três partidos negam a acusação.
As denúncias do "mensalão" desencadearam a abertura de duas CPIs e uma investigação paralela dos deputados citados na Corregedoria da Câmara.


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