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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O ACUSADOR
Jairo Carneiro (PFL-BA) apresenta hoje relatório que aponta quatro situações em que petebista quebrou decoro parlamentar
Relator vai recomendar cassação de Jefferson
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O relator do processo de cassação do mandato de Roberto Jefferson (PTB-RJ) no Conselho de
Ética da Câmara, Jairo Carneiro
(PFL-BA), apresentará hoje seu
parecer, cujo texto lista elementos
que apontam quebra do decoro
parlamentar pelo petebista. O voto do relator, entretanto, só será
divulgado na próxima segunda.
O texto que será distribuído hoje aos integrantes do Conselho
aponta quatro pontos que sugerem a quebra de decoro. O principal deles é o argumento que o
"mensalão", denunciado por Jefferson, nunca teria existido. Em
vez disso, haveria um vasto caixa
dois entre os partidos da base.
Além disso, apontará indícios
de tráfico de influência de Jefferson em estatais, e crime ao admitir ter recebido R$ 4 milhões, em
dinheiro vivo, repassados pelo PT
para financiar campanhas.
O parecer possui ainda indicativos de que Jefferson teria pressionado deputados do próprio PTB a
testemunharem a seu favor, entre
eles o líder da bancada, José Múcio (PE). Um dos exemplos seria
uma reunião da bancada para falar sobre o "mensalão" que nunca
teria ocorrido e teria sido inventada por Jefferson.
Correligionário de Jefferson,
Múcio o contradisse várias vezes
durante seu depoimento ao Conselho, por exemplo, quando negou a ocorrência da reunião com
a bancada para decidir pela aceitação ou não do "mensalão". Em
outros pontos de contradições,
Múcio afirmou "ter quase certeza" que os R$ 4 milhões não chegaram aos candidatos a prefeito
pelo PTB e que ele nunca discutiu
o assunto com o ex-tesoureiro do
PT Delúbio Soares, diferentemente da versão de Jefferson.
O relator do processo de cassação de Jefferson apresentará seu
voto na próxima segunda-feira,
mas segundo a Folha apurou o
texto só receberá o aval dos integrantes do Conselho na quinta-feira, porque o deputado Nelson
Marquezelli (PTB-SP) pedirá vista do processo. O prazo para o pedido de vista é de duas sessões do
Plenário da Casa.
O relatório de Carneiro foi elaborado com base em um outro
parecer, emitido pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça),
que não restringiu a apuração do
Conselho às denúncias do chamado "mensalão" e permitiu uma
investigação ampla sobre ações
que caracterizassem a quebra de
decoro por Jefferson.
O aval da CCJ foi dado após Jefferson apresentar requerimento à
comissão reclamando que a apuração deveria se restringir às denúncias do "mensalão".
Os integrantes do Conselho dão
como certa a recomendação da
cassação de Jefferson. A contabilidade dos deputados que compõem o Conselho aponta dois cenários, com placar de 12 a 2 ou 12
a 4 contra o petebista.
O processo de cassação do mandato de Jefferson foi protocolado
pelo presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP),
em 7 de junho, um dia depois de o
petebista denunciar em entrevista
à Folha a existência de um esquema de pagamento de mesadas na
Câmara, conhecido como "mensalão". Segundo Jefferson, o PT
pagaria uma espécie de mesada,
no valor de R$ 30 mil, para deputados do PP e do PL em troca de
apoio no Congresso. O três partidos negam a acusação.
As denúncias do "mensalão"
desencadearam a abertura de
duas CPIs e uma investigação paralela dos deputados citados na
Corregedoria da Câmara.
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