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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ OS INTELECTUAIS
Em evento, Francisco de Oliveira cita como saídas para partido separar "petismo" de "lulismo" e afastar dirigentes responsáveis por crise
"Gangues" podem dominar PT, diz sociólogo
LUIZ FERNANDO VIANNA
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
Dissociar o "petismo" do "lulismo" e afastar do comando do
partido os dirigentes responsáveis
pela crise atual são as únicas saídas para o PT continuar existindo. Foi o que afirmou o sociólogo
Francisco de Oliveira ontem em
palestra, em Belo Horizonte, dentro do seminário "O Silêncio dos
Intelectuais".
Oliveira, que rompeu ruidosamente com o PT em 2003, ainda
no início do governo Lula, disse
que a legenda corre o risco de se
transformar em um "partido de
gangues".
"É a gangue do ex-tesoureiro,
do ex-secretário-geral, dos publicitários. Seria uma tragédia se isso
acontecesse", disse ele, acrescentando que, "no limite, o PT pode
até desaparecer". "Não é o meu
desejo, mas, se continuar com esse tipo de conduta, corre risco de
desaparecer."
Para o sociólogo, um péssimo
futuro para o PT seria repetir o
que houve com o peronismo na
Argentina. "Morreu o líder carismático, a cúpula se desligou das
bases e virou um vale-tudo. O PT
já parece uma luta de vale-tudo."
Ele ressaltou que não espera um
expurgo do grupo de José Dirceu,
pois é "coisa medieval", mas que
os militantes mudem o comando
do partido nas próximas eleições
internas, programadas para o
mês que vem.
Oliveira foi irônico ao falar sobre a responsabilidade de Lula
nos casos de corrupção no governo. "Só ele não sabia que membros do PT roubavam? Muita
gente sabia e ele não? Ah, não vai
dar uma de Adão: "foi Eva"."
Segundo Oliveira, já está na hora de os intelectuais deixarem de
ser complacentes com Lula por
causa de sua origem operária. "Os
únicos erros permitidos em razão
dessa origem são os de português.
Ele é um homem de Estado, tem
25 anos de PT, não pode dar uma
de inocente", declarou.
Esse comentário sucedeu à crítica que Oliveira fez à filósofa Marilena Chaui, expoente da intelectualidade do PT que, na abertura
do seminário, segunda-feira, no
Rio, disse que há momentos em
que o silêncio é o dever de um intelectual, para que não seja irresponsável e leviano.
"Ele [o intelectual] não tem o direito de se calar. Não pode ser inocente útil. Não pode desconsiderar a pesada dívida do século 20.
Não estou dizendo que este governo poderá produzir um desastre semelhante ao que outros produziram, mas a tarefa do intelectual é pôr o dedo na ferida", disse
Oliveira.
Para ele, a "Carta ao Povo Brasileiro", produzida pela campanha
de Lula em junho de 2002, já era
um aviso de que o PT viraria um
"partido da iniqüidade". "Não é
possível pagar o que se paga de juros da dívida pública e da dívida
externa", afirmou, referindo-se a
duas promessas da carta.
Oliveira disse que foi o PT quem
levantou a bandeira da ética na
política e seria "uma grande perda" se isso fosse derrotado pela
crise. Mas ele acredita ser possível
o contrário: "Talvez algo de bom
seja a retomada do clamor popular pela ética na política."
Segundo o sociólogo, seu ex-amigo Fernando Henrique Cardoso é o "grande vitorioso" da política brasileira nos últimos anos,
já que "o PT adotou como suas as
teses do cardosismo das quais era
crítico tenaz".
Mesmo ressaltando que é o
"movimento social mais importante do país", Oliveira ainda declarou que o MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) não tem futuro.
"A reforma agrária não vai mudar o sistema. Não haverá uma re-ruralização do país. Isso é impossível e até indesejável. Os dirigentes do MST sabem disso, o que
eles buscam é uma interlocução
com movimentos sociais urbanos. Vejo chance nesse diálogo."
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