São Paulo, Quarta-feira, 25 de Agosto de 1999
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PROTESTO
Entidades defendem bandeira; partidos amenizam discurso
Oposição "racha" sobre impeachment de FHC

da Sucursal de Brasília

da Sucursal do Rio


A ""Marcha dos 100 Mil", que pretende ser o maior protesto contra o governo Fernando Henrique Cardoso, chega amanhã a Brasília dividida.
O ""racha" se configurou ontem, com as principais entidades não-partidárias preparando um manifesto pedindo o impeachment de FHC e os líderes do PT negando que vão pregar tal bandeira.
Sem consenso sobre as palavras de ordem do ato, as entidades decidiram lançar manifesto pedindo a saída de FHC.
O texto, cuja redação só será fechada hoje, deve mencionar a proposta de impeachment, disse Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares.
Entre as entidades que endossarão o documento estão o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), a CUT (Central Única dos Trabalhadores), a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas).
Já os partidos políticos que comandam a organização da marcha, PT, PDT, PSB, PCB e PC do B, investem sem sucesso no apoio de entidades como a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e ABI (Associação Brasileira de Imprensa) para seu manifesto.
A ABI e a OAB já descartaram assinar um texto que cite o impeachment. A CNBB só irá se decidir na sexta, após a chegada da marcha.
O líder do maior partido da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse no Rio que o objetivo do movimento é pedir a abertura de uma CPI para apurar suposto crime de responsabilidade de FHC na privatização das teles.
"Pode-se até chegar ao impeachment, a partir do que for apurado pela CPI", afirmou.
Lula voltou a elogiar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. "O Chávez poderia ter feito o que fez o Fernando Henrique, que comprou sua reeleição, pagando R$ 400 mil aos deputados."
Em Brasília, líderes oposicionistas procuraram ontem deixar claro sua versão de que o slogan "Basta de FHC" não é golpista, como acusam aliados do governo e ministros de Estado.
O partido espera a votação pela Câmara do recurso contra a decisão do presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), de não aceitar o pedido de abertura de processo contra FHC no caso das teles, primeiro passo para um pedido de impeachment.
De acordo com o pedido, FHC teria cometido crime quando permitiu o uso de seu nome para induzir a entrada da Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil) no leilão. O presidente alega que agiu em benefício do país, estimulando a concorrência.
"Qualquer deputado pode pedir à Mesa da Câmara a abertura de processo contra o presidente da República. Dizer que isso é golpe é falta de assunto", disse o presidente do PT, José Dirceu.
"A possibilidade de impeachment está na marcha. O PT não prega a renúncia do presidente, mas onde está escrito que as pessoas não podem gritar renúncia? O presidente vai baixar uma medida provisória dizendo as palavras de ordem que podem ser ditas em manifestações públicas?", disse o líder do PT na Câmara, José Genoino (SP).
Também no Rio, o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, definiu como uma "coisa obsessiva" a mobilização do PT contra o governo FHC.
"Dizer fora FHC, de duas uma: ou se faz um sistema parlamentarista no Brasil ou se dá um golpe de Estado", acrescentou Francisco Weffort, ministro da Cultura que já foi filiado ao PT, presente ao mesmo evento que Pimenta da Veiga no Rio.
Na oposição, o discurso mais inflamado segue sendo o de Leonel Brizola. Ontem, nas homenagens aos 45 anos da morte de Getúlio Vargas, em Porto Alegre e São Borja (RS), o presidente do PDT defendeu a renúncia de FHC.
""Eles (FHC e sua equipe) não têm os mesmos métodos da ditadura, mas fazem as mesmas coisas", disse o pedetista.


Colaborou a Agência Folha, em Porto Alegre


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