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Presidente acena à oposição para evitar crise de governabilidade
Lula prepara agenda de reformas políticas e econômicas com o objetivo de melhorar sua relação com os tucanos, a mídia e os mercados, caso seja reeleito
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara uma agenda
política e econômica para enfrentar uma eventual crise de
governabilidade caso seja reeleito. Ele avalia que a tentativa
de compra de dossiê contra o
PSDB dinamitou pontes com a
oposição que estava reconstruindo, além de ter aumentado dúvidas do mercado e da imprensa sobre sua gestão em um
eventual segundo mandato.
Sexta, Lula ouviu de um ministro: "Os próximos dez dias
serão de guerra. Depois, será
preciso acalmar o ambiente".
Lula concordou. Ainda que nos
próximos dias adote retórica
inflamada, confirmada a reeleição, tomará "medidas de distensão", nas palavras de um auxiliar. Serão acenos para angariar simpatia de setores de oposição, empresariado e mídia.
Exemplo: convidará os tucanos José Serra e Aécio Neves,
prováveis vencedores em São
Paulo e Minas, para encontro.
Ambos são potenciais candidatos à Presidência em 2010.
A Folha apurou que já está
tomada pelo presidente a decisão de promover um ajuste fiscal em 2007. Ele apenas preservará a política de correção
do salário mínimo acima da inflação. Para um ministro, não
vai dar para atravessar o ano
que vem com a proposta de Orçamento enviada em agosto.
Com austeridade fiscal, Lula
buscará a simpatia do empresariado e dos chamados "formadores de opinião" que questionam a sustentabilidade do
crescimento econômico com o
aumento de gastos públicos.
No Planalto, descarta-se o
cenário de "chavização", temido por setores da oposição. Estariam fora, assim, ações à la
Hugo Chávez, presidente da
Venezuela, como hostilidade às
instituições.
Governabilidade
Alguns ministros pensam
que a governabilidade do petista será complicada. Mas dizem
também que o país ficará "ingovernável" se Alckmin se eleger
à custa do caso do dossiê. Nesse
contexto, o próprio presidente
registrou como positiva a reação de Serra ao escândalo. O tucano tem criticado levemente
Lula, evitando associá-lo à tentativa de compra do dossiê. Isso
porque, com o aval do presidente, o ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, tem
mantido Serra informado sobre as investigações.
O ministro procurou o tucano já na sexta-feira, 15 de setembro, dia em que Lula foi informado da operação da Polícia
Federal que prendera petistas.
Lula crê que Serra deseja liderar a oposição, mas sem hostilizá-lo em demasia. Como o
petista não será mais seu adversário em 2010, o correligionário Aécio seria seu principal
oponente. Se Serra for para a
guerra, poderá ver o petista dar
apoio ao mineiro em 2010.
Essa hipótese não é absurda,
apurou a Folha. No entorno de
Lula, há quem avalie que o PT
terá dificuldade para construir
candidatura para daqui a quatro anos. Mais: Serra e Aécio terão interesse em ajuda federal.
Já Lula precisará dos dois para
aprovar a reforma política e
voltar aos temas previdenciário, tributário e trabalhista.
O presidente tem dito que
necessita mais do que nunca de
um governo de coalizão com o
PMDB, mas acha que o custo
cresceu com o caso do dossiê.
Uma forma de tentar diminuir
esse custo é evitar dar corda a
uma tentativa de a oposição levar adiante seu impeachment.
O cenário "Nixon", referência
ao presidente dos EUA que renunciou em 1974 após conquistar um segundo mandato, demandaria a entrega de posições
estratégicas do governo.
Há preocupação ainda com
futuras decisões da Justiça. Lula avalia que precisará tratar
com cautela o pedido de impugnação de sua candidatura
feito pela oposição. Para petistas, o presidente do TSE, Marco Aurélio Mello, tem dado sinais de que o caso do dossiê poderá permitir questionamento
da lisura de sua eleição.
Leve autocrítica
Apesar de intolerante a críticas, Lula tem feito uma espécie
de "mea culpa" em conversas
reservadas. Avalia que o seu estilo informal contribuiu para
gerar o clima que levou ao escândalo do dossiê. Traduzindo:
amigos e auxiliares próximos
teriam confundido demonstrações de afeto com frouxidão em
relação a desvios éticos. Segundo auxiliares, num eventual segundo mandato, Lula tiraria alguns deles do Planalto.
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