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Pepebista atrai antigos eleitores
ao mencionar obras e realizações
DA REPORTAGEM LOCAL
Paulo Maluf (PPB) é bem-sucedido ao transportar imaginariamente seu eleitor a uma São Paulo
do Primeiro Mundo, uma cidade
em que a visibilidade da administração pública é fornecida por
uma profusão de grandes obras.
A pesquisa qualitativa coordenada pelo Datafolha demonstrou
que tanto malufistas da elite
quanto o de segmentos de excluídos o enxergam como uma espécie de mágico, que concretamente
materializa -por meio de pontes, túneis ou avenidas- sua capacidade de empreendedor.
O Maluf visionário e poderoso é
também a autoridade que, na visão dos eleitores, vai assegurar
saúde, segurança e moradia.
Pouco importa, para eleitores
de maior renda e escolaridade,
que ele prometa coisas que escapem à alçada de um prefeito ("pôr
a Rota nas ruas"). O que vale é o
reforço de sua imagem pelo conjunto de intenções.
Aceitação
Há formas muito curiosas de digestão de facetas negativas do
candidato. "Vamos passar uma
borracha no Pitta e apagar o que
Maluf fez no passado", diz uma
mulher de baixa renda, em referência ao atual prefeito Celso Pitta
(PTN), ex-afilhado político que
sucedeu o pepebista em 1997.
Outra forma de neutralizar a dimensão negativa do fator Pitta
transparece na seguinte frase:
"Maluf ajuda todos, ajuda os pobres e também os poderosos. Ajudou Pitta, que não era nada, foi
um tiro n'água." Ou seja, o candidato do PPB é vítima de um ato de
ingratidão e não o responsável
por um sucessor incompetente.
Dentro da mesma lógica pela
qual o candidato tem invariavelmente razão: "Se Maluf voltar, ele
vai querer abafar o que foi Pitta,
ele vai querer fazer melhor."
Uma curiosidade, sem valor estatístico: 3 dos 10 participantes de
um grupo de malufistas de renda
e escolaridade altas responderam
pela afirmativa ao serem indagados sobre a consistência dos rumores de que Maluf era desonesto. Mas nenhum deles se dispunha a mudar seu voto.
"Ninguém provou nada contra
o Maluf. E, se provarem, ele será
como todo político, mas com a diferença de que ele fez coisas por
São Paulo", diz em outro grupo
um homem de baixa renda. Uma
outra variante do mesmo raciocínio: "Maluf rouba, mas faz três vezes mais do que os outros".
"Estou descansada, porque alguém (Maluf) vai preparar o caminho de nosso sucesso", diz
uma mulher de renda alta.
"Ele restaurou a estação Júlio
Prestes (na realidade, uma obra
do atual governador Mário Covas,
do PSDB) e com isso demonstrou
que fará outras restaurações que
darão muito emprego", afirma
um pequeno empresário.
Essa percepção provoca uma
adjetivação superlativa quando os
grupos de malufistas são estimulados a qualificar o candidato: experiente, lutador, empreendedor,
educado, inteligente, astuto e generoso. Palavras como conservador e megalomaníaco perdem a
conotação negativa.
Rejeição
Entre os eleitores de Marta, tanto a elite quanto os excluídos têm
a mesma percepção de Maluf, rejeitado em nome de atributos
-mentiroso, desonesto, oportunista, autoritário, desleal- que
não deveriam mais ser vistos num
homem público.
Nessa faixa de eleitores, os mais
pobres acreditam que as obras de
Maluf favoreceram prioritariamente a população mais rica. Citam ainda o descaso com a educação, o não funcionamento do
PAS, a inexistência de policiamento nos bairros pobres e a má
qualidade dos transportes.
Quanto aos mais ricos, Maluf é
automaticamente associado a Pitta e a métodos escusos para obter
apoio político (máfia da propina
na Câmara Municipal). Para a elite, o candidato do PPB representaria o atraso, o retrocesso e o aumento da corrupção.
Retorno
Quanto aos eleitores malufistas,
a pesquisa constatou não haver
diferenças substanciais entre a
percepção daqueles que votaram
em Maluf no primeiro turno e
quem escolheu outro candidato.
O que está havendo entre os dois
turnos é o movimento de retorno
de malufistas "rebeldes".
"Sabe aquela frase dele -"se o
Pitta não for um bom prefeito,
nunca mais votem em mim'? Pois
eu já não votei nele no primeiro
turno. Agora já posso votar", resume de maneira exemplar uma
eleitora de baixa renda. E ela o faz
com uma incontida satisfação, a
exemplo de outros malufistas que
expressaram o mesmo raciocínio.
Há por fim diferenças sutis e
importantes na percepção que excluídos e elite têm do candidato
pelo qual optaram.
Os excluídos se sentem mais seguros com um governante experiente e que os conduz. A elite deseja um governante que imponha
respeito, pela experiência e pela
firmeza de pulso.
O malufista pobre projeta no
candidato atributos que gostaria
de possuir: liderança e poder. A
visão do malufista de renda mais
elevada é menos modelar.
Prevalece a idéia de que o candidato possui um projeto para São
Paulo, tendo nas obras o carro-chefe e tornando visível, por elas,
a operância do poder público.
(JOÃO BATISTA NATALI)
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