São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 2002

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JANIO DE FREITAS

Nove meses

José Serra deve ter logo mais, afinal, o debate que tanto desejou com Luiz Inácio Lula da Silva. É uma concessão do líder das pesquisas, não sei se a Serra ou à sua própria imagem. Além de não ter conveniência eleitoral no espetáculo que nada lhe pode acrescentar, Lula contaria com os exemplos vitoriosos de Tancredo Neves, que se negou a debater com Paulo Maluf na eleição indireta, e de Fernando Henrique Cardoso, que não foi aos debates na eleição nem na reeleição.
O que diferencia os candidatos são as respectivas diretrizes. Dados precisos, promessas exatas e maneiras de fazer, seja o que for, são matéria de ministros e assessores técnicos. E, em uma campanha que toma nove meses, quase um quarto do mandato disputado, Lula e Serra já disseram e repetiram tudo o que tinham a dizer -considerando-se os limites, muito mais apertados para Serra do que para Lula, do que as circunstâncias lhes permitem dizer.
Em condições normais, o debate só poderá reproduzir o que foi aquele no encerramento do primeiro turno, que nada acrescentou em sentido algum, para os candidatos e para os eleitores. José Serra insinua ter munição para inverter as posições atuais, mas, nesse caso, seriam condições anormais. E nem assim precisariam esperar tanto tempo, desde que um candidato seja capaz de praticá-las.
Já no primeiro turno ficara demonstrado o tempo excessivo das campanhas no Brasil. Não é só o eleitorado que tende à exaustão: é o país mesmo, o país todo que sofre muito com a duração tão longa da campanha que provoca, forçosamente, inúmeros desgastes administrativos e econômicos, públicos e privados.
As campanhas eleitorais no Brasil são um caso único. Merecedor de uma peneira fina na reforma política que o próximo governo não tem o direito de relegar, como fez o atual por conveniências nada dignificantes.

Zebra
Início de frase de Arthur Virgílio Netto: "Se der zebra e o Serra perder", e se seguiu uma qualquer infantilidade, como é próprio do autor.
Zebra mesmo deu no Amazonas, onde Arthur Virgílio Netto elegeu-se senador. Estará ocupando o lugar do senador Bernardo Cabral, que não se reelegeu, provavelmente por conta da ironia a que as eleições são afeitas, nos países de povo desinformado. Bernardo Cabral esteve fazendo, nos últimos anos, importante papel na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, onde aplicou dedicação no estudo de matérias e rigor na produção de pareceres contra várias impropriedades espertas e privilégios mais que isso.


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