SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A CAXAMBU

Uma eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de domingo pode inspirar partidos de esquerda da América Latina a rumar ao centro e a adotar o pragmatismo eleitoral como estratégia para alcançar o poder.
Essa idéia é compartilhada por um grupo de cientistas políticos latino-americanos reunidos em Caxambu no 26º Encontro Anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais). "A eleição de Lula pode levar as esquerdas a serem mais realistas", disse o argentino Marcelo Cavarozzi, da Universidade San Martin.
O uruguaio Jorge Lanzaro, da Universidad de la Republica, de Montevidéu, concorda. "O primeiro efeito de uma vitória do PT sobre a esquerda uruguaia deve ser o de irradiar uma alternativa de mudança importante. Mas o principal legado vem mesmo deste período de campanha, a idéia de que é possível opor-se ao modelo vigente, apresentando moderação ideológica e rumando em direção ao centro."
Lanzaro acredita que um possível governo Lula deve ser determinante nas eleições presidenciais no Uruguai, em 2004. "Já se terá passado um período de dois anos de governo do PT. Tanto sua competência como seu fracasso administrativo serão usados como exemplo na campanha. Se Lula for bem, pode ajudar a candidatura de Tabaré Vasquez (Frente Amplio, de esquerda)."
Também o PRD (Partido da Revolução Democrática) mexicano deve se espelhar no PT, na opinião de Jean François Prud'Homme, do Colegio de Mexico. "Ambos têm uma trajetória semelhante, vêm de movimentos sociais, depois transformaram-se em partidos, depois em partidos que administram. Agora, o PT dá o exemplo de que o pragmatismo político é necessário. E o PRD começa a se abrir também para alianças com partidos nacionalistas e setores do empresariado."
Já a venezuelana Margarita Lópes-Maya, da Universidade Central de Venezuela, acha que uma vitória de Lula terá um impacto mais amplo na política venezuelana. "Será importante para que a Venezuela não se sinta sozinha em algumas decisões que tomou em busca de um projeto alternativo para o continente."
"A eleição de Lula é positiva porque dá à Hugo Chávez a oportunidade de não ser mais o único protagonista da esquerda na América Latina. Como Lula tem estrutura partidária mais forte e o Brasil é mais influente, Chávez deixará de ser o único alvo das preocupações internacionais."


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