São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 2002

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SEGURANÇA ALIMENTAR

Petistas, no entanto, aceitam diálogo com americanos sobre o tema; MST diz que é "oportunismo"

PT e MST condenam lobby por transgênicos

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA

Lideranças do PT e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) criticaram o lobby feito pelos EUA e por companhias americanas de biotecnologia para a liberação da produção de transgênicos no Brasil aproveitando o debate sobre a fome, como mostrou reportagem publicada ontem pela Folha.
Petistas argumentam que não se pode abrir mão da ética em nome do combate à fome, embora se mostrem abertos ao diálogo sobre o tema. Para os sem-terra, é "oportunismo" e um "golpe" associar a luta contra a fome à liberação dos transgênicos -organismos com genes vindos de outra espécie, visando maior produtividade e economia. Seus oponentes dizem que podem causar danos à saúde e ao ambiente.
"É preciso que a engenharia genética busque soluções e não apenas defenda o lucro das empresas. O combate à fome não pode servir de argumento para o "vale-tudo". Temos de ter cuidado para prevenir os oportunistas que só pensam em lucro", afirmou o governador do Acre, Jorge Viana (PT).
Para a senadora Marina Silva (PT-AC), é "ingênuo" tratar os transgênicos como a "tábua de salvação" para a fome.
"Não é uma questão ideológica, dogmática. Se as empresas têm interesse, tem de ser acompanhado de preocupações sociais. É preciso que se façam experimentos baseados na realidade brasileira. A sociedade tem o direito de se prevenir", afirmou.
A senadora, cotada para assumir a pasta do Meio Ambiente, é autora de um projeto visando proibir a comercialização de transgênicos por três anos, até se provar que eles não representam danos à saúde e ao ambiente.
Para o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), "o apoio de empresas americanas ao combate à fome não deve ser a contrapartida de abrirmos a entrada do que possa causar problemas à saúde dos brasileiros e ao ambiente".
"A questão deve ser discutida, mas isso não tem nenhuma relação com o combate à fome", afirmou o senador eleito Cristovam Buarque (PT-DF).
Líderes do MST -que já patrocinou a destruição de plantações de transgênicos no país- dizem que a liberação dessas sementes pode até agravar o problema da fome, por se basear em um modelo "concentrador de renda".
"A liberação dos transgênicos iria garantir monopólio da comercialização das sementes a apenas duas ou três empresas, prejudicando o pequeno agricultor e promovendo a concentração de renda", disse João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional.
"Se as multinacionais quiserem ajudar o Brasil a combater a fome, serão bem-vindas. Mas é oportunismo e golpe associar isso à liberação dos transgênicos", disse ele.
Outro líder nacional do MST, Jaime Amorim, de Pernambuco, diz que o governo Lula sofrerá pressões e terá de "assumir uma posição". "É impossível atender a todos os interesses. O projeto principal de combate à fome tem de estar baseado em pequenos agricultores produzindo para o mercado local", afirmou. (CLÁUDIA CROITOR, GABRIELA ATHIAS, FLÁVIA SANCHES E MAURO ALBANO)


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