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NA CONTRAMÃO
Ausência de última hora de Lula é vaiada; Stedile xinga o agronegócio e ataca ministro da Agricultura
Meio Ambiente reforça críticas ao governo
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Conferência Nacional Água e
Terra que ocorre em Brasília, com
militantes do campo, virou campo de vaias e críticas ao governo e
de reforço das investidas contra o
agronegócio. Depois do ataque do
presidente do Incra, Rolf Hackbart, ontem outro representante
do governo criticou os grandes fazendeiros pela degradação da biodiversidade e reclamou da força
do setor na administração federal.
Paulo Kogeyama, diretor de
Biodiversidade e Florestas falou à
platéia de cerca de 9.000 pessoas
sobre a divisão existente no governo e criticou a monocultura, as
recentes autorizações de plantio
de sementes transgênicas e a degradação da biodiversidade.
Afirmou falar em nome da ministra Marina Silva (Meio Ambiente) e disse representar o "braço do governo que apóia a agricultura familiar" e que tem sido a
"resistência contra o rolo compressor". Não escondeu os choques entre a área econômica e
agrícola e o setor de desenvolvimento agrário e meio ambiente.
"Não diria que são dois governos.
São braços do governo que têm
contradições muito fortes."
"Certamente o governo tomou
uma atitude de priorizar a questão da balança comercial [com exportações agrícolas], o que deixa
o outro braço enfraquecido", disse. "Já deu para ver que nesse governo não vão ocorrer as mudanças que todos esperavam." Mas
disse: "É uma organização que
pode afetar a relação de forças entre os diferentes modelos".
Rolf Hackbart, por sua vez, foi
defendido pelo líder do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), João Pedro
Stedile. "O Rolf disse alguma bobagem aqui ontem? Não. Mas ele
terminou de dar a palestra aqui e
já correu um bando de ruralistas
pressionar o governo para demitir o Rolf. O coitado só falou a verdade. Qual foi a verdade que ele
disse aqui? É que o problema da
reforma agrária está vinculado diretamente com a necessidade de
um novo modelo agrícola e de política econômica", disse.
Anteontem Hackbart havia dito
que estão, "sob a etiqueta do agrobusiness", os fazendeiros suspeitos de matar e ferir sem-terra e
acampados. E pediu união contra
o "outro lado".
A ausência de última hora de
Lula foi vaiada, assim como o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura), suposto representante
do "agronegócio burro". O Planalto avisou os organizadores que
Lula não iria comparecer ao evento no meio da tarde. Um palestrante perguntou ao público se almoçar com o PMDB era mais importante que dialogar com as lideranças do campo. Confirmada a
ausência, a vaia foi geral.
Burrice
O ponto alto do dia ocorreu no
discurso de Stedile, que distribuiu
críticas e insultos aos grandes
agricultores, ao governo e à imprensa. Depois de anunciar que o
encontro irá definir em quem vão
"bater" e quem são os "verdadeiros inimigos", atacou duramente
a política de exportação agrícola.
"Vender matéria-prima não é
orgulho, é burrice", disse, citando
nominalmente os ministros Rodrigues e Luiz Fernando Furlan
(Desenvolvimento). Em seguida,
pediu uma vaia para Rodrigues e
foi atendido pelo público, que gritou por 28 segundos. Amanhã os
sem-terra irão marchar até a sede
do BC, onde pedirão a demissão
do presidente do órgão, Henrique
Meirelles, e do ministro Antonio
Palocci (Fazenda).
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