São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GOVERNO PETISTA

Futuro ministro da Fazenda falará das restrições orçamentárias

Palocci imporá choque de realidade à "família Lula"

KENNEDY ALENCAR
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os ministros de Luiz Inácio Lula da Silva receberão de Antonio Palocci Filho (Fazenda) o que está sendo chamado na cúpula petista de "choque de realidade": a mensagem de que a conjuntura impõe severas restrições orçamentárias e provavelmente o adiamento de projetos mais ambiciosos.
O recado, com uma esperança de melhora a partir de 2004, está programado para a primeira reunião ministerial de Lula, nesta sexta-feira, antes mesmo da posse do novo governo. Palocci terá a participação mais importante do encontro, na condição de coordenador da equipe de transição.
Serão apresentados aos futuros ministros os documentos com as conclusões dos técnicos da transição, com os problemas e limitações das respectivas área. Cada ministro se reunirá em separado com os técnicos que estudaram a situação de sua pasta. Não por acaso, o evento ocorrerá no prédio do Banco do Brasil cedido ao grupo de Palocci, em Brasília.
Na permanente associação que faz entre seu ministério e um time de futebol, Lula quer consolidar na reunião um ambiente análogo ao da "família Scolari", vitoriosa na Copa do Mundo de 2002.
Por prosaico que possa parecer, a estratégia segue uma lógica que foi sendo delineada pelo presidente eleito nos anúncios a conta-gotas de seus ministros: a "família Lula" deve estar acima de projetos e vaidades pessoais, e todos terão de arcar com os custos dos sacrifícios necessários.
Lula já ensaiou seu papel de "técnico" em uma espécie de preleção para os 21 futuros ministros presentes ao anúncio final da equipe. Na ante-sala de uma auditório, antes de abrir a cerimônia à imprensa, disse a todos: "Vocês são uma ótima equipe. Confio em vocês. Vamos trabalhar em grupo, com afinação".
Depois, fez brincadeiras com quase todos os anunciados, num estilo de liderança que guarda semelhanças com o do treinador da seleção pentacampeã.
Lula adota uma abordagem pessoal e emocional com seus auxiliares, mas também tem momentos de mau humor pouco conhecidos publicamente. Usa muito expressões como "meu querido" e "vamos tratar isso com carinho", além de tratar sua equipe com gestos afetuosos. Daí vem parte de sua fama de chorão.
Chamado pelos mais próximos de "baiano" (codinome usado por seus seguranças nas campanhas de 1989 e 1994, inspirado num apelido que ganhou na época em que era líder sindical), Lula também tem explosões de ira, principalmente quando discute as disputas internas do PT.
Com uma equipe heterogênea, que reúne petistas no núcleo dominante, neolulistas, ortodoxia na equipe econômica, empresários e nomes mais à esquerda, Lula também usará a reunião ministerial para fazer uma espécie de confraternização. Muitos dos futuros ministros se conhecerão pessoalmente no encontro.
Com as metáforas futebolísticas de sempre, Lula deverá dizer, por exemplo, que Luiz Furlan (Desenvolvimento) e Roberto Rodrigues (Agricultura), dois empresários que votaram no tucano José Serra, formarão "a dupla de ataque das exportações".
Para os ministros da área social, Lula e Palocci darão uma orientação: em tempos bicudos, eles devem procurar os organismos internacionais para pedir financiamento a seus projetos.
Lula dirá que as administrações do PT, especialmente as prefeituras, têm boa imagem nesses organismos, em razão de prêmios internacionais obtidos.
O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), presidido por Enrique Iglesias, deverá ser um dos principais financiadores de novos projetos petistas.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Lula critica números do governo sobre a transição
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.