|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO PETISTA
Futuro ministro da Fazenda falará das restrições orçamentárias
Palocci imporá choque de
realidade à "família Lula"
KENNEDY ALENCAR
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os ministros de Luiz Inácio Lula
da Silva receberão de Antonio Palocci Filho (Fazenda) o que está
sendo chamado na cúpula petista
de "choque de realidade": a mensagem de que a conjuntura impõe
severas restrições orçamentárias e
provavelmente o adiamento de
projetos mais ambiciosos.
O recado, com uma esperança
de melhora a partir de 2004, está
programado para a primeira reunião ministerial de Lula, nesta
sexta-feira, antes mesmo da posse
do novo governo. Palocci terá a
participação mais importante do
encontro, na condição de coordenador da equipe de transição.
Serão apresentados aos futuros
ministros os documentos com as
conclusões dos técnicos da transição, com os problemas e limitações das respectivas área. Cada
ministro se reunirá em separado
com os técnicos que estudaram a
situação de sua pasta. Não por
acaso, o evento ocorrerá no prédio do Banco do Brasil cedido ao
grupo de Palocci, em Brasília.
Na permanente associação que
faz entre seu ministério e um time
de futebol, Lula quer consolidar
na reunião um ambiente análogo
ao da "família Scolari", vitoriosa
na Copa do Mundo de 2002.
Por prosaico que possa parecer,
a estratégia segue uma lógica que
foi sendo delineada pelo presidente eleito nos anúncios a conta-gotas de seus ministros: a "família
Lula" deve estar acima de projetos
e vaidades pessoais, e todos terão
de arcar com os custos dos sacrifícios necessários.
Lula já ensaiou seu papel de
"técnico" em uma espécie de preleção para os 21 futuros ministros
presentes ao anúncio final da
equipe. Na ante-sala de uma auditório, antes de abrir a cerimônia à
imprensa, disse a todos: "Vocês
são uma ótima equipe. Confio em
vocês. Vamos trabalhar em grupo, com afinação".
Depois, fez brincadeiras com
quase todos os anunciados, num
estilo de liderança que guarda semelhanças com o do treinador da
seleção pentacampeã.
Lula adota uma abordagem pessoal e emocional com seus auxiliares, mas também tem momentos de mau humor pouco conhecidos publicamente. Usa muito
expressões como "meu querido"
e "vamos tratar isso com carinho", além de tratar sua equipe
com gestos afetuosos. Daí vem
parte de sua fama de chorão.
Chamado pelos mais próximos
de "baiano" (codinome usado
por seus seguranças nas campanhas de 1989 e 1994, inspirado
num apelido que ganhou na época em que era líder sindical), Lula
também tem explosões de ira,
principalmente quando discute as
disputas internas do PT.
Com uma equipe heterogênea,
que reúne petistas no núcleo dominante, neolulistas, ortodoxia
na equipe econômica, empresários e nomes mais à esquerda, Lula também usará a reunião ministerial para fazer uma espécie de
confraternização. Muitos dos futuros ministros se conhecerão
pessoalmente no encontro.
Com as metáforas futebolísticas
de sempre, Lula deverá dizer, por
exemplo, que Luiz Furlan (Desenvolvimento) e Roberto Rodrigues
(Agricultura), dois empresários
que votaram no tucano José Serra, formarão "a dupla de ataque
das exportações".
Para os ministros da área social,
Lula e Palocci darão uma orientação: em tempos bicudos, eles devem procurar os organismos internacionais para pedir financiamento a seus projetos.
Lula dirá que as administrações
do PT, especialmente as prefeituras, têm boa imagem nesses organismos, em razão de prêmios internacionais obtidos.
O BID (Banco Interamericano
de Desenvolvimento), presidido
por Enrique Iglesias, deverá ser
um dos principais financiadores
de novos projetos petistas.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Lula critica números do governo sobre a transição Índice
|