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Sergio Widder, do Centro Simon Wiesenthal, se diz chocado e defende que anti-semitismo não pode se somar a protestos justos de Porto Alegre
Fórum é anti-semita, diz militante judeu
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Representante do Centro Simon
Wiesenthal na América Latina, o
argentino Sergio Widder, 34, participa do Fórum Social Mundial,
em Porto Alegre, com um propósito bem definido: não deixar que
o anti-semitismo tome conta da
esquerda do mundo.
Dizendo-se "espantado" com
demonstrações anti-israelenses,
Widder lamenta a "visão maniqueísta" da esquerda a respeito do
conflito no Oriente Médio, entre
judeus e palestinos.
"Fica difícil haver diálogo quando a gente chega a Porto Alegre e
vê camisetas misturando uma estrela de David com uma suástica."
Para Widder, nem a ofensiva armada do governo israelense de
Ariel Sharon nem a ação militar
dos EUA justificam a onda anti-semita na esquerda. "Não se pode
vincular um governo a um povo
ou nação. A onda de anti-semitismo é injustificável. Estão jogando
a culpa nas vítimas", diz.
O CSW foi fundado em 1977,
em Los Angeles (Estados Unidos)
-onde fica sua sede central, com
o Museu da Tolerância. Seu propósito original era caçar nazistas.
Hoje, luta pela tolerância e a luta
contra o anti-semitismo. A seguir,
trechos da entrevista:
Agência Folha - Como o sr. vê o
tratamento da esquerda para o
conflito israelo-palestino?
Sergio Widder - Há muito maniqueísmo, em um assunto tão
complexo. Se os palestinos têm
problemas históricos, os judeus
também os têm. Somos um povo
que somente com a criação do Estado de Israel, no local onde estão
nossas origens, passou a ter uma
representação. Errávamos pelo
mundo, enfrentando perseguições. Há uma causa judaica.
Esse maniqueísmo nos trouxe a
Porto Alegre. Não podemos deixar que o anti-semitismo tome
conta de protestos tão justos, como os que são feitos aqui.
Agência Folha - Qual sua impressão em relação ao Fórum Social?
Widder - Fiquei chocado com
manifestações anti-semitas, desvirtuam tudo. Fica difícil o diálogo quando a gente chega a Porto
Alegre e vê camisetas misturando
uma estrela de David com uma
suástica. O Fórum Social Mundial
não deve ser o fórum do anti-semitismo mundial.
Agência Folha - Como o sr. vê o
vínculo entre sionismo e racismo?
Widder - Há diversas vertentes
do sionismo. Sionismo é movimento de libertação nacional do
povo judeu. Subliminarmente, o
que é pregado é a exclusão dos judeus pela destruição de Israel. Há
um roubo semântico incrível, definindo o sionismo como uma
reação racista.
Agência Folha - Essa visão não estaria vinculada aos laços de Israel
com os EUA desde sua criação, após
a 2ª Guerra Mundial?
Widder - Pessoas são contra os
Estados Unidos e o neoliberalismo e aliam isso a Israel, demonizando a todos, inclusive a israelenses e judeus. Veja: demonizam
os judeus. É uma ironia ocorrer
tal raciocínio na esquerda. Tentam desjudaizar o holocausto. É
uma infiltração do anti-semitismo nos ideais mais justos.
Agência Folha - Estaria havendo
um crescimento do anti-semitismo
em razão da ação militarizada do
governo direitista de Ariel Sharon
em Israel?
Widder - Não se pode vincular
um governo a um povo ou nação.
A onda de anti-semitismo é injustificável. Estão jogando a culpa
nas vítimas, isso novamente ocorre. Culpar os judeus pelo anti-semitismo é ardiloso. A violência
deve ser banida. Deve-se terminar
o terror. Sem isso, não é possível
dialogar. Aqui em Porto Alegre,
com o clima que existe, como pode haver um diálogo?
Agência Folha - Defensores da
atuação palestina e até de homens-bomba a justificam dizendo que se
trata de demonstrações de desespero. O que o sr. acha disso?
Widder - Os palestinos vivem dificuldades, é claro, e isso deve ser
modificado. Mas nem todos os
povos que enfrentam dificuldades
recorrem ao terrorismo. É um argumento inaceitável.
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