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O Fórum Social defende alternativas ao capitalismo, mas são os negócios da cidade que mais se ressentem da mudança de endereço do encontro
Índia fará Porto Alegre perder US$ 53 mi
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O mês de janeiro não será o
mesmo em Porto Alegre depois
que o Fórum Social Mundial tomar o rumo da Índia (em 2004).
Ou melhor: será o mesmo de antes -o segundo mês mais fraco
para os hotéis e restaurantes.
De cidade esvaziada, cujos habitantes buscam o litoral para fugir
das altas temperaturas, Porto Alegre vive uma ebulição neste mês
de janeiro. Trata-se, por conta do
fórum, do mês mais movimentado de todo o ano.
A Porto Alegre Turismo estima
em US$ 55,4 milhões os gastos na
cidade, divididos em hospedagem (25,2%), diversão (16,5%),
consumo no evento (15,8%),
compras (14,3%), alimentação
(14%) e transportes (14,3%). A
prefeitura acredita que arrecadará
R$ 4 milhões em impostos.
Cada pessoa gasta, segundo a
Porto Alegre Turismo, US$ 59,7.
Na pior das hipóteses, a rede hoteleira terá 70% das vagas preenchidas, mas espera ficar lotada
durante o evento.
Há alguns casos curiosos. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não conseguiu vagas no Sheraton para sua comitiva de dez
pessoas. A Agência Folha não
soube qual foi a solução. Em início de temporada, os clubes de futebol contratam novos jogadores.
O Grêmio teve de instalar o volante Amaral, que retorna do futebol
turco, no Estádio Olímpico.
Para se ter um paralelo em relação aos meses de janeiro que estarão de volta, antes de 2001 (quando houve a primeira edição do fórum), a rede hoteleira tinha apenas 30% de ocupação no período.
Os 64 hotéis de categoria turística na cidade, com 15 mil leitos, estão lotados. Em um há mais sul-africanos. Em outro, franceses.
Em um hotel "equatoriano", um
casal que levou seu ratinho de estimação para a temporada de debates políticos. Outro deixou o
chuveiro ligado o dia inteiro.
Nada disso tira a alegria dos hoteleiros. Pressionam o governador Germano Rigotto (PMDB) a
reverter a decisão da organização
do evento de levá-lo para a Índia.
E Rigotto ainda tenta mantê-lo,
alegando até que o Estado, na
próxima edição, contribuiria com
valor superior ao R$ 1,8 milhão
utilizado -o governo anterior,
do PT, previra R$ 2,7 milhões.
Outro setor que vibra com a
movimentação em pleno mês de
janeiro é o de transportes. Os taxistas, porém, torcem o nariz para
algumas iniciativas tomadas pelo
prefeito João Verle (PT), de incrementar o transporte coletivo.
Além de linhas especiais de ônibus abertas para conduzir os participantes entre os locais dos
eventos, há em funcionamento
um ônibus de dois andares, com
sistema de áudio em três idiomas
(português, espanhol e inglês) e
guia turístico, que passeia pela cidade, ao custo de R$ 5 por viagem, R$ 15 para quem quer um
bilhete válido por 48 horas e R$ 20
por 72 horas.
No quesito diversão, o "povo de
Porto Alegre" se esquece do politicamente correto e recorre a casas noturnas com strip-tease. A
boate Gruta Azul, a mais tradicional da cidade, tem pulado de seus
120 frequentadores diários para
180. Nada como o que ocorre durante as feitas agropecuárias, em
que o número sobe a 300, mas já é
motivo de alegria.
"O pessoal do fórum que vem
aqui é carinhoso. Eles parecem
nos entender melhor, não nos tratar como objeto", conta Mara,
uma das garotas do Gruta.
Os restaurantes também faturam mais. A churrascaria Barranco, por exemplo, tem movimento
entre 20% e 40% mais intenso.
Seu gerente, Ilmar Tasca, o "Chico", diz que os principais pedidos
são picanha, cordeiro e entrecot.
"Os europeus não comem porco." Quanto aos bares, os da Cidade Baixa têm sido frequentados
pela turma do Acampamento da
Juventude. Os do bairro Moinhos
de Vento, por jornalistas e representantes diplomáticos. Tudo de
acordo com o perfil. Nas ruas da
cidade, o que se vê é uma mistura
de cores, idiomas e perfis.
(LÉO GERCHMANN)
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