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São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003

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O Fórum Social defende alternativas ao capitalismo, mas são os negócios da cidade que mais se ressentem da mudança de endereço do encontro

Índia fará Porto Alegre perder US$ 53 mi

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O mês de janeiro não será o mesmo em Porto Alegre depois que o Fórum Social Mundial tomar o rumo da Índia (em 2004). Ou melhor: será o mesmo de antes -o segundo mês mais fraco para os hotéis e restaurantes.
De cidade esvaziada, cujos habitantes buscam o litoral para fugir das altas temperaturas, Porto Alegre vive uma ebulição neste mês de janeiro. Trata-se, por conta do fórum, do mês mais movimentado de todo o ano.
A Porto Alegre Turismo estima em US$ 55,4 milhões os gastos na cidade, divididos em hospedagem (25,2%), diversão (16,5%), consumo no evento (15,8%), compras (14,3%), alimentação (14%) e transportes (14,3%). A prefeitura acredita que arrecadará R$ 4 milhões em impostos.
Cada pessoa gasta, segundo a Porto Alegre Turismo, US$ 59,7.
Na pior das hipóteses, a rede hoteleira terá 70% das vagas preenchidas, mas espera ficar lotada durante o evento.
Há alguns casos curiosos. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não conseguiu vagas no Sheraton para sua comitiva de dez pessoas. A Agência Folha não soube qual foi a solução. Em início de temporada, os clubes de futebol contratam novos jogadores. O Grêmio teve de instalar o volante Amaral, que retorna do futebol turco, no Estádio Olímpico.
Para se ter um paralelo em relação aos meses de janeiro que estarão de volta, antes de 2001 (quando houve a primeira edição do fórum), a rede hoteleira tinha apenas 30% de ocupação no período.
Os 64 hotéis de categoria turística na cidade, com 15 mil leitos, estão lotados. Em um há mais sul-africanos. Em outro, franceses. Em um hotel "equatoriano", um casal que levou seu ratinho de estimação para a temporada de debates políticos. Outro deixou o chuveiro ligado o dia inteiro.
Nada disso tira a alegria dos hoteleiros. Pressionam o governador Germano Rigotto (PMDB) a reverter a decisão da organização do evento de levá-lo para a Índia. E Rigotto ainda tenta mantê-lo, alegando até que o Estado, na próxima edição, contribuiria com valor superior ao R$ 1,8 milhão utilizado -o governo anterior, do PT, previra R$ 2,7 milhões.
Outro setor que vibra com a movimentação em pleno mês de janeiro é o de transportes. Os taxistas, porém, torcem o nariz para algumas iniciativas tomadas pelo prefeito João Verle (PT), de incrementar o transporte coletivo.
Além de linhas especiais de ônibus abertas para conduzir os participantes entre os locais dos eventos, há em funcionamento um ônibus de dois andares, com sistema de áudio em três idiomas (português, espanhol e inglês) e guia turístico, que passeia pela cidade, ao custo de R$ 5 por viagem, R$ 15 para quem quer um bilhete válido por 48 horas e R$ 20 por 72 horas.
No quesito diversão, o "povo de Porto Alegre" se esquece do politicamente correto e recorre a casas noturnas com strip-tease. A boate Gruta Azul, a mais tradicional da cidade, tem pulado de seus 120 frequentadores diários para 180. Nada como o que ocorre durante as feitas agropecuárias, em que o número sobe a 300, mas já é motivo de alegria.
"O pessoal do fórum que vem aqui é carinhoso. Eles parecem nos entender melhor, não nos tratar como objeto", conta Mara, uma das garotas do Gruta.
Os restaurantes também faturam mais. A churrascaria Barranco, por exemplo, tem movimento entre 20% e 40% mais intenso. Seu gerente, Ilmar Tasca, o "Chico", diz que os principais pedidos são picanha, cordeiro e entrecot. "Os europeus não comem porco." Quanto aos bares, os da Cidade Baixa têm sido frequentados pela turma do Acampamento da Juventude. Os do bairro Moinhos de Vento, por jornalistas e representantes diplomáticos. Tudo de acordo com o perfil. Nas ruas da cidade, o que se vê é uma mistura de cores, idiomas e perfis.
(LÉO GERCHMANN)


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