São Paulo, quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ACORDÃO NO AR?

Testemunho do ministro começará às 10h e está marcado para terminar entre 14h e 15h; oposição fala em baixar tom de questionamentos

Depoimento de Palocci terá tempo limitado

HUDSON CORRÊA
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Sob o argumento de que uma festa reunirá à noite senadores e líderes do PFL na Bahia, o depoimento do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) à CPI dos Bingos correu risco de adiamento e acabou marcado para as 10h de hoje -com previsão de terminar entre 14h e 15h-, embora estivesse previsto para começar à tarde, sem hora de terminar.
A oposição está dividida sobre o tom dos questionamentos a Palocci, o que alimenta a especulação de que haveria um acordo entre governo e oposição para poupar o ministro na CPI. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) disse que sairá em defesa de Palocci. ACM é o principal anfitrião da festa na Bahia em comemoração ao aniversário de 27 anos do deputado ACM Neto (PFL-BA).
"Se ele [Palocci] viesse à tarde, muitos senadores importantes estariam ausentes. Como o ministro viaja à Rússia na próxima semana, não foi possível adiar. Ele só poderia depor na semana do dia 20", afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Ontem, no começo de uma sessão administrativa da CPI, às 14h30, o tucano disse que seis senadores importantes estariam ausentes, parte deles em função da festa.
ACM e o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN) estariam comprometidos com a festa de ACM Neto. Virgílio citou ainda Tasso Jereissati (PSDB-CE), que faltará porque sua mãe está doente. ACM negou que o depoimento tenha sido alterado por causa da festa. "O ministro pediu para antecipar o horário e acho que ele está certo. Não estarei aqui [à tarde] e também acho que não há razão para ouvi-lo neste horário", disse o senador. "O evento do meu neto é secundário."
O ministro tem reunião marcada às 14h30 no Conselho Monetário Nacional.
Embora tenha dito que a CPI "não tem nada a ver com festa na Bahia", o presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB), contradisse ACM ao afirmar que foi ele, "por entendimento de lideranças", quem pediu ao ministro Palocci a antecipação.
O PFL não vai colocar o "ministro na parede", segundo Agripino. ACM atuará na defesa. "Vou jogar no meio-campo. Sei que vão ter perguntas fortes e outras mais tranqüilas. Estou aqui para acalmar os ânimos", afirmou.
Questionado se acreditava que a oposição partirá para cima de Palocci devido à recuperação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse não ter sentido esse clima. "Ao contrário, conversei com o Agripino e o [Jorge] Bornhausen e não é isso que eles dizem. O ACM, por exemplo, tem uma boa relação com o Palocci. A expectativa é muito boa em relação ao desempenho dele. Toda vez que ele vem aqui se sai muito bem", disse Renan.
Tucanos são mais contundentes. "O ministro terá de esclarecer suas gestões na Prefeitura de Ribeirão Preto [SP] e o recebimento dos dólares de Cuba para a campanha do presidente Lula", afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
"O Senado sabe que não tem condições de fazer pastelão [palhaçada] no depoimento de Palocci", afirmou o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT).
"Acreditar que o ministro não tem nada ver com isso [acusações envolvendo assessores] é acreditar no Papai Noel, que cegonha traz bebê e que não existe mensalão", ironizou Antero.
O principal articulador da defesa de Palocci na CPI é o senador Tião Viana (PT-AC). "Já vasculharam mais de 13 mil contratos efetuados na época em que ele foi prefeito em Ribeirão Preto e não encontraram nada. Não vai ser agora que isso vai acontecer."
Palocci responderá na CPI à acusação de seu ex-secretário de Governo na Prefeitura de Ribeirão Preto em 1993 e 1994, Rogério Buratti. Em depoimento à Polícia Civil e à CPI em agosto passado, Buratti afirmou que a empresa Leão Leão pagava à prefeitura em 2001 e 2002, com consentimento de Palocci, propina de R$ 50 mil. O dinheiro seria para um caixa dois do PT.
Outro assessor da prefeitura, Ralf Barquete (morto em 2004), arrecadou dinheiro com bingos para caixa dois de campanha petista de 2002, afirma Buratti.
A CPI investiga também se Cuba enviou até US$ 3 milhões para a campanha presidencial do PT em 2002, coordenada por Palocci. O dinheiro teria sido transportado de Brasília a São Paulo por dois ex-assessores do ministro, Vladimir Poleto e Barquete.


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