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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ACORDÃO NO AR?
Testemunho do ministro começará às 10h e está marcado para terminar entre 14h e 15h; oposição fala em baixar tom de questionamentos
Depoimento de Palocci terá tempo limitado
HUDSON CORRÊA
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Sob o argumento de que uma
festa reunirá à noite senadores e
líderes do PFL na Bahia, o depoimento do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) à CPI dos
Bingos correu risco de adiamento
e acabou marcado para as 10h de
hoje -com previsão de terminar
entre 14h e 15h-, embora estivesse previsto para começar à tarde,
sem hora de terminar.
A oposição está dividida sobre o
tom dos questionamentos a Palocci, o que alimenta a especulação de que haveria um acordo entre governo e oposição para poupar o ministro na CPI. O senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL)
disse que sairá em defesa de Palocci. ACM é o principal anfitrião
da festa na Bahia em comemoração ao aniversário de 27 anos do
deputado ACM Neto (PFL-BA).
"Se ele [Palocci] viesse à tarde,
muitos senadores importantes estariam ausentes. Como o ministro
viaja à Rússia na próxima semana, não foi possível adiar. Ele só
poderia depor na semana do dia
20", afirmou o líder do PSDB no
Senado, Arthur Virgílio (AM).
Ontem, no começo de uma sessão
administrativa da CPI, às 14h30, o
tucano disse que seis senadores
importantes estariam ausentes,
parte deles em função da festa.
ACM e o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN) estariam
comprometidos com a festa de
ACM Neto. Virgílio citou ainda
Tasso Jereissati (PSDB-CE), que
faltará porque sua mãe está doente. ACM negou que o depoimento
tenha sido alterado por causa da
festa. "O ministro pediu para antecipar o horário e acho que ele
está certo. Não estarei aqui [à tarde] e também acho que não há razão para ouvi-lo neste horário",
disse o senador. "O evento do
meu neto é secundário."
O ministro tem reunião marcada às 14h30 no Conselho Monetário Nacional.
Embora tenha dito que a CPI
"não tem nada a ver com festa na
Bahia", o presidente da comissão,
senador Efraim Morais (PFL-PB),
contradisse ACM ao afirmar que
foi ele, "por entendimento de lideranças", quem pediu ao ministro Palocci a antecipação.
O PFL não vai colocar o "ministro na parede", segundo Agripino. ACM atuará na defesa. "Vou
jogar no meio-campo. Sei que vão
ter perguntas fortes e outras mais
tranqüilas. Estou aqui para acalmar os ânimos", afirmou.
Questionado se acreditava que a
oposição partirá para cima de Palocci devido à recuperação do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas, o presidente do
Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), disse não ter sentido
esse clima. "Ao contrário, conversei com o Agripino e o [Jorge]
Bornhausen e não é isso que eles
dizem. O ACM, por exemplo, tem
uma boa relação com o Palocci. A
expectativa é muito boa em relação ao desempenho dele. Toda
vez que ele vem aqui se sai muito
bem", disse Renan.
Tucanos são mais contundentes. "O ministro terá de esclarecer
suas gestões na Prefeitura de Ribeirão Preto [SP] e o recebimento
dos dólares de Cuba para a campanha do presidente Lula", afirmou o senador Álvaro Dias
(PSDB-PR).
"O Senado sabe que não tem
condições de fazer pastelão [palhaçada] no depoimento de Palocci", afirmou o senador Antero
Paes de Barros (PSDB-MT).
"Acreditar que o ministro não
tem nada ver com isso [acusações
envolvendo assessores] é acreditar no Papai Noel, que cegonha
traz bebê e que não existe mensalão", ironizou Antero.
O principal articulador da defesa de Palocci na CPI é o senador
Tião Viana (PT-AC). "Já vasculharam mais de 13 mil contratos
efetuados na época em que ele foi
prefeito em Ribeirão Preto e não
encontraram nada. Não vai ser
agora que isso vai acontecer."
Palocci responderá na CPI à
acusação de seu ex-secretário de
Governo na Prefeitura de Ribeirão Preto em 1993 e 1994, Rogério
Buratti. Em depoimento à Polícia
Civil e à CPI em agosto passado,
Buratti afirmou que a empresa
Leão Leão pagava à prefeitura em
2001 e 2002, com consentimento
de Palocci, propina de
R$ 50 mil. O dinheiro seria para
um caixa dois do PT.
Outro assessor da prefeitura,
Ralf Barquete (morto em 2004),
arrecadou dinheiro com bingos
para caixa dois de campanha petista de 2002, afirma Buratti.
A CPI investiga também se Cuba enviou até US$ 3 milhões para
a campanha presidencial do PT
em 2002, coordenada por Palocci.
O dinheiro teria sido transportado de Brasília a São Paulo por dois
ex-assessores do ministro, Vladimir Poleto e Barquete.
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