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"Vou ouvir isso a vida toda", diz Lalo
DA REPORTAGEM LOCAL
"Ele não vai falar. Eu falo por
ele", diz logo de início a advogada
Betina, sentada ao lado de L.N., o
Lalo, que confessou ter assassinado Celso Daniel (PT) com oito tiros. O aviso é descumprido pelo
próprio jovem, que gesticula para
que o gravador seja desligado.
Lalo reclama do assédio da imprensa sobre a sua família e do tumulto causado ontem por jornalistas quando ele era conduzido à
delegacia. "Até me machucaram."
A expressão do rosto e a voz
mudam quando o tema é a morte
de Daniel. Lalo abaixa a cabeça e
brinca com as algemas. "A vida
toda vou ouvir isso. Você matou?
Matei." Sobre o motivo, é evasivo.
"Você nunca fez nada que não
soubesse explicar depois?"
Para a Promotoria e, mais recentemente, para a polícia, Lalo
não matou Daniel. Assumiu o crime pressionado pelos acusados.
A versão dele é conflitante com a
perícia feita no corpo de Daniel.
Ao ser questionado sobre as divergências, Lalo contorce a boca e
volta a olhar para as algemas.
"Não gosto de falar disso."
Ele também não responde
quanto teria recebido pelo crime.
Depois de alguns segundos, diz
que nunca dorme bem. "Sempre
acordo assustado." Arrependimento? "Dos amigos que fiz no
passado. Meu erro começou lá." E
pela morte? "Também, claro."
A imagem que mais o atormenta, afirma, é a da polícia entrando
na casa dos avós, logo após a morte de Daniel. "Foi horrível."
Lalo fala com maior desenvoltura dos dois anos e meio que passou na Febem. Diz que estudou
sozinho para o vestibular de Educação Física e aprendeu a tocar
violão. "Eu só comia, tocava violão e estudava". Ele passou numa
faculdade em Mogi das Cruzes.
"Lá era muito bom. Ninguém
sabia quem eu era." Por conta de
um acidente de moto, afirma, perdeu três provas e foi reprovado.
Desanimado, desistiu de voltar
para a Febem.
A conversa é interrompida pela
TV, que exibe uma reportagem
sobre a captura dele. "Olha lá, é a
minha casa...", diz contrariado.
"Queria que vocês [jornalistas]
deixassem meus pais em paz."
(LILIAN CHRISTOFOLETTI E ALEXANDRE HISAYASU)
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