São Paulo, quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

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"Vou ouvir isso a vida toda", diz Lalo

DA REPORTAGEM LOCAL

"Ele não vai falar. Eu falo por ele", diz logo de início a advogada Betina, sentada ao lado de L.N., o Lalo, que confessou ter assassinado Celso Daniel (PT) com oito tiros. O aviso é descumprido pelo próprio jovem, que gesticula para que o gravador seja desligado.
Lalo reclama do assédio da imprensa sobre a sua família e do tumulto causado ontem por jornalistas quando ele era conduzido à delegacia. "Até me machucaram."
A expressão do rosto e a voz mudam quando o tema é a morte de Daniel. Lalo abaixa a cabeça e brinca com as algemas. "A vida toda vou ouvir isso. Você matou? Matei." Sobre o motivo, é evasivo. "Você nunca fez nada que não soubesse explicar depois?"
Para a Promotoria e, mais recentemente, para a polícia, Lalo não matou Daniel. Assumiu o crime pressionado pelos acusados. A versão dele é conflitante com a perícia feita no corpo de Daniel.
Ao ser questionado sobre as divergências, Lalo contorce a boca e volta a olhar para as algemas. "Não gosto de falar disso."
Ele também não responde quanto teria recebido pelo crime. Depois de alguns segundos, diz que nunca dorme bem. "Sempre acordo assustado." Arrependimento? "Dos amigos que fiz no passado. Meu erro começou lá." E pela morte? "Também, claro."
A imagem que mais o atormenta, afirma, é a da polícia entrando na casa dos avós, logo após a morte de Daniel. "Foi horrível."
Lalo fala com maior desenvoltura dos dois anos e meio que passou na Febem. Diz que estudou sozinho para o vestibular de Educação Física e aprendeu a tocar violão. "Eu só comia, tocava violão e estudava". Ele passou numa faculdade em Mogi das Cruzes.
"Lá era muito bom. Ninguém sabia quem eu era." Por conta de um acidente de moto, afirma, perdeu três provas e foi reprovado. Desanimado, desistiu de voltar para a Febem.
A conversa é interrompida pela TV, que exibe uma reportagem sobre a captura dele. "Olha lá, é a minha casa...", diz contrariado. "Queria que vocês [jornalistas] deixassem meus pais em paz."
(LILIAN CHRISTOFOLETTI E ALEXANDRE HISAYASU)


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