São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2001

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Carlistas devem manter ataques

FELIPE PATURY E
SANDRA BRASIL
ENVIADOS ESPECIAIS A SALVADOR

A crise entre o governo federal e o PFL baiano deve aumentar. Na Bahia, os aliados do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) prometem manter o governo sob ataque nos próximos dois meses. Ao mesmo tempo, acham que o presidente Fernando Henrique Cardoso deve demitir nos próximos dias os carlistas que ainda ocupam postos importantes.
A avaliação é que os presidentes da Eletrobrás, Firmino Sampaio, e do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), Crésio Rolim, têm os dias contados no governo. O grupo carlista só não entregará os cargos porque quer transferir a FHC o desgaste das demissões.
"Não vejo porque quem tem cargo técnico deve pedir para sair", diz o ex-ministro Waldeck Ornélas (PFL-BA). Ele foi demitido da Previdência na sexta-feira juntamente com Rodolpho Tourinho (Minas e Energia), depois que as denúncias que ACM fez ao Ministério Público sobre o governo se tornaram públicas.
Ornélas orientou todos os seus assessores a permanecerem nos cargos. "Quem tinha cargo político era eu", afirma. "Crésio já estava lá quando eu cheguei e Firmino é um excelente técnico."
Firmino Sampaio tem-se movimentado para ficar no cargo. No último dia 23, quando FHC demitiu Tourinho e Ornélas, Sampaio começou a procurar orientação sobre como deveria proceder.
Primeiro, falou com Tourinho, seu chefe, que lhe disse não acreditar que havia condições para permanecer no cargo. Depois, telefonou para o presidente de Itaipu, Euclides Scalco, tucano histórico e amigo de FHC. Perguntou o que deveria fazer e se seria demitido. Scalco o acalmou. Disse que seu cargo era técnico e, portanto, poderia permanecer.
Ainda na sexta, ligou para o ministro da Casa Civil, Pedro Parente, para conversar sobre o assunto. Recebeu dele um recado duro. Interlocutor freqüente dos carlistas, Parente disse-lhe que acreditava que ele tinha poucas chances de continuar na função.

Mais demissões
Segundo César Borges, os carlistas querem que os ministros dos Transportes, Eliseu Padilha (deputado federal pelo PMDB gaúcho), e do Trabalho, Francisco Dornelles (deputado pelo PPB fluminense), sejam demitidos para compensar a perda dos dois ministros do PFL.
A luta pela demissão dos ministros foi uma promessa feita pelo senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) a ACM.
Antes da demissão de Tourinho e Ornélas, Bornhausen disse ao baiano que brigaria pelo afastamento de Padilha e Dornelles. Era uma forma de compensar o partido pela perda das presidências do Senado e da Câmara.
"Vou me insubordinar contra o governo federal quando houver retaliação ao meu Estado e já está havendo", afirmou o governador. "A Bahia tem 5 mil quilômetros de estradas federais e nem 10% disso estão em boas condições." Borges já havia se queixado por carta a FHC do tratamento que Padilha dispensa à Bahia.
O ataque deve continuar sobre essas duas áreas, nas quais os carlistas acreditam que possa haver focos de corrupção. "Já ouvi que tem problemas lá", afirmou César Borges. O governador ressalta, no entanto, que a oposição dos carlistas ao governo não será sistemática, mas pontual.
Ornélas, que reassume o mandato de senador na próxima quinta-feira, ainda analisa o conteúdo do discurso que deverá fazer na volta ao Senado. O ex-ministro só pretende falar, porém, na próxima semana.


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