São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2002

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ELEIÇÕES-2002

Direção rejeita consulta sobre PL; Dirceu critica "hipocrisia" dos insatisfeitos

PT vive dia de racha e teme pelo apoio interno a Lula

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O racha interno no PT provocado pela negociação eleitoral com o PL já causa temor dentro do partido de que haja prejuízo para a quarta campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.
A fissura interna ficou evidenciada ontem, durante reunião da Executiva Nacional petista. Houve confronto aberto entre as alas radicais do partido e a direção, controlada pelos moderados.
"Estou preocupado. Temos muito tempo para acertar tudo, mas me preocupo em que não entremos na campanha unidos como deveríamos estar", disse o deputado José Genoino, pré-candidato ao governo de São Paulo.
O coro dos descontentes com a aliança ampliou-se ontem, com a entrada do senador Eduardo Suplicy, pré-candidato a presidente. "As contradições internas neste processo de aproximação fragilizam nosso partido. Estaremos mais fortes para disputar o primeiro turno sem coligar", declarou o senador, em referência à entrevista de ontem na Folha com o senador José Alencar (PL-MG), cotado para ser vice de Lula [ver texto abaixo".
Confrontada com uma reação interna maior do que a esperada, a direção petista está na defensiva -e pisando em ovos para não prejudicar o projeto presidencial.
Reservadamente, integrantes da cúpula admitem que hoje seria difícil aprovar a aliança com o PL, apesar da maioria que têm no partido, próxima de 70%.
A tensão interna é grande -não restrita aos "radicais"-, o tom das declarações está alto e as diferenças entre os partidos nos Estados inviabilizariam o projeto nacional. Uma medida de força neste momento causaria uma ruptura difícil de reverter.
Um contra-exemplo citado ontem é o de 1998, no Rio. Na ocasião, o PT nacional impôs à seção fluminense a aliança com Anthony Garotinho. O trauma até hoje não foi superado.
Por isso, a direção petista prefere deixar para o mês de maio as negociações finais para fechar a aliança. Até lá, a cúpula pretende desfazer alguns nós estaduais e tentar persuadir a "esquerda" da necessidade da aliança -ou pelo menos a baixar o tom das críticas. A ameaça feita por Lula de não concorrer sem alianças será usada como instrumento de pressão.
Na reunião da Executiva, foi derrotada uma proposta da ala "radical" do PT de fazer um plebiscito com os filiados em 17 de março sobre a aliança com o PL.
O argumento usado foi de que a Executiva não é a instância adequada para discutir o tema -mas sim o diretório nacional.
A ausência de discussão irritou integrantes da "esquerda" partidária, caso da senadora Heloisa Helena (AL). "Estão querendo esconder o lixo debaixo do tapete. É uma aberração que o debate eleitoral esteja impedido de ser feito."
Em resposta a Heloísa Helena, o presidente nacional do PT, José Dirceu, disse "quem for contra terá ampla oportunidade de expressar seus pontos de vista". Mas declarou que considera uma "tremenda hipocrisia" dos radicais rejeitarem o PL. "Tivemos 250 alianças com o PL em 2000. Eles são contra aliança, mas no governo compõem com todo mundo."
Ontem, Lula divulgou artigo em defesa da aliança. "O PT ou qualquer outro partido, da oposição ou da situação, praticamente não tem chances de vencer sozinho as eleições presidenciais", diz.



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