São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2002

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JANIO DE FREITAS

Questão aberta

Menos de 12 horas depois de cumprir a formalidade de manifestar, por carta à desnecessária pré-convenção do PSDB, sua "confiança em José Serra" por "ver nele as condições indispensáveis para dirigir o país", Fernando Henrique Cardoso usou da espontaneidade de uma conversa com jornalistas para emitir uma mensagem muito mais significativa.
Pregar a necessidade de permanência da associação PSDB-PFL-PMDB e dizer que o nome do candidato para isso "é uma questão aberta", como fez Fernando Henrique, dispensa qualquer outro sinal para significar que Roseana Sarney não é menos candidata dele, e portanto do governo, do que Serra. O que pode ter várias formas de desdobramento na disputa sucessória.
Entre os que se lançaram como pretendentes à sucessão, Serra tem uma desvantagem especial em relação aos demais, exceto aos peemedebistas Itamar Franco e Pedro Simon. Assim como estes, Serra tem lutar em duas frentes para se impor: na opinião eleitoral e com grande parte, senão a maior, das figuras mais relevantes do seu partido em todas as instâncias.
A José Serra não bastará mostrar melhoras sucessivas em sua posição nas sondagens do eleitorado. Não há pré-convenção arranjada para marketing e fotos arrumadas que esvaziem as ressalvas, tão presentes nas conversas reservadas de peessedebistas, à assimilação da candidatura de Serra. Tudo sugere que Serra só alcançará a adesão real da cúpula peessedebista -a adesão que extravasa dos formalismos partidários para o trabalho intenso junto a cabos eleitorais e ativações do eleitorado- se em prazo razoável estiver disputando posição com Roseana Sarney nas pesquisas.
O que está chegando à superfície refletida pelo noticiário tem muito pouco a ver com o que, de fato, se passa no PSDB. O mesmo se pode dizer do PMDB, no qual os grupos que bloqueiam Itamar Franco e Pedro Simon acionam possibilidades com peessedebistas e com pefelistas, a não ser no caso só dos peemedebistas baianos brigados com Antonio Carlos Magalhães. No Nordeste há mesmo uma linha do PMDB pró-Roseana, embora sem explicitação pública a respeito.
A subida de Serra na pesquisa do Datafolha foi estimulante para sua candidatura, mas, de prático no seu campo de luta ainda principal, significou menos do que os percentuais conquistados. Fernando Henrique não falou só por ele.



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