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ANÁLISE
Renda e preços influenciam o eleitor mais do que corrupção
DA REDAÇÃO
Em 20 dias de fevereiro, Luiz
Inácio Lula da Silva quase dobrou
sua votação entre os eleitores
mais ricos. Parece impressionante. Mas esses votos são muito
poucos, e os "ricos" na verdade
não o são. O que explica a recuperação de Lula é o voto de quem recebe Bolsa-Família e/ou pertence
a famílias em que a renda não
passa de R$ 1.500, do Nordeste, do
Centro-Oeste e do Norte.
Do início de fevereiro para a semana que passou, a votação de
Lula entre os mais "ricos" subiu
de 16% para 31% no cenário em
que disputa a reeleição com José
Serra e Anthony Garotinho.
Mas "ricos", no universo brasileiro, espelhado pelo Datafolha,
são os eleitores das famílias com
renda maior que R$ 3.000. Isto é,
na maioria, integrantes da muito
pequena classe média brasileira.
Contribuem com cerca de apenas
1,5 ponto dos 39% que Lula tem
contra o tucano e o peemedebista.
Quando se divide o eleitorado
entre beneficiários de Bolsa-Família (e seus parentes) e não-beneficiários (e que não conhecem
beneficiados), constata-se que
70% dos votos que Lula colocou a
mais na sua urna desde outubro
de 2005 vieram do "eleitor Bolsa-Família". Se considerados em
conjunto o programa social e as
grandes regiões, observa-se que
os votos agregados por Lula vieram em 40% dos casos do "eleitor
Bolsa-Família" do Nordeste.
Isto é, Lula, desde sempre o preferido do "eleitor Bolsa-Família",
superou sua crise de votos conquistando ainda mais eleitores
desta mesma base. Serra e Geraldo Alckmin, por sua vez, ainda
têm mais votos que em outubro.
Quando se considera o eleitorado a partir de sua região, verifica-se que a arrancada de Lula deveu-se também ao eleitor de renda
mais baixa do Nordeste, do Norte
e do Centro-Oeste. Vieram do interior do Nordeste mais 30% dos
votos extras que Lula passou a receber depois de outubro de 2005.
Quase 68% dos votos extras de
Lula vieram de eleitores do Nordeste, Centro-Oeste e Norte que
vivem em famílias com renda
mensal menor que R$ 1.500.
Associados aos motivos principais da aprovação e da reprovação do governo, tais números indicam que a maioria do eleitorado por ora faz sua escolha com
base nas prioridades administrativas e de propaganda de Lula.
Queixas e recusas de voto baseadas em corrupção, saúde e
educação, embora importantes,
são ora superadas pela satisfação
com a transferência de renda e
com o nível da inflação.
O desemprego, tema relevante
na avaliação do governo, no entanto tem efeito quase nulo na nota do governo, e em parte nos votos. A atuação federal nessa área é
tida como ótima ou ruim por
quantidades iguais de eleitores.
Outro dado forte das pesquisas
é a alta volatilidade do período
pré-eleitoral. Embora a novidade
desta reeleição seja a grande identificação entre eleitor pobre-ação
social-voto em Lula, mesmo dentro deste universo a mudança de
opinião tem sido considerável.
O número mais forte e imutável
da campanha será o da renda:
mais de 60% dos brasileiros ganha menos de R$ 500 mensais. A
importância eleitoral dos programas sociais de Lula e do fim da inflação sob FHC parecem a maneira de o brasileiro comum dizer
que, não importa o meio, se mais
emprego, mais transferências de
renda ou preços menores, o essencial é aumentar a renda.
(VINICIUS TORRES FREIRE)
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