São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 2006

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ANÁLISE

Renda e preços influenciam o eleitor mais do que corrupção

DA REDAÇÃO

Em 20 dias de fevereiro, Luiz Inácio Lula da Silva quase dobrou sua votação entre os eleitores mais ricos. Parece impressionante. Mas esses votos são muito poucos, e os "ricos" na verdade não o são. O que explica a recuperação de Lula é o voto de quem recebe Bolsa-Família e/ou pertence a famílias em que a renda não passa de R$ 1.500, do Nordeste, do Centro-Oeste e do Norte.
Do início de fevereiro para a semana que passou, a votação de Lula entre os mais "ricos" subiu de 16% para 31% no cenário em que disputa a reeleição com José Serra e Anthony Garotinho.
Mas "ricos", no universo brasileiro, espelhado pelo Datafolha, são os eleitores das famílias com renda maior que R$ 3.000. Isto é, na maioria, integrantes da muito pequena classe média brasileira. Contribuem com cerca de apenas 1,5 ponto dos 39% que Lula tem contra o tucano e o peemedebista.
Quando se divide o eleitorado entre beneficiários de Bolsa-Família (e seus parentes) e não-beneficiários (e que não conhecem beneficiados), constata-se que 70% dos votos que Lula colocou a mais na sua urna desde outubro de 2005 vieram do "eleitor Bolsa-Família". Se considerados em conjunto o programa social e as grandes regiões, observa-se que os votos agregados por Lula vieram em 40% dos casos do "eleitor Bolsa-Família" do Nordeste.
Isto é, Lula, desde sempre o preferido do "eleitor Bolsa-Família", superou sua crise de votos conquistando ainda mais eleitores desta mesma base. Serra e Geraldo Alckmin, por sua vez, ainda têm mais votos que em outubro.
Quando se considera o eleitorado a partir de sua região, verifica-se que a arrancada de Lula deveu-se também ao eleitor de renda mais baixa do Nordeste, do Norte e do Centro-Oeste. Vieram do interior do Nordeste mais 30% dos votos extras que Lula passou a receber depois de outubro de 2005.
Quase 68% dos votos extras de Lula vieram de eleitores do Nordeste, Centro-Oeste e Norte que vivem em famílias com renda mensal menor que R$ 1.500.
Associados aos motivos principais da aprovação e da reprovação do governo, tais números indicam que a maioria do eleitorado por ora faz sua escolha com base nas prioridades administrativas e de propaganda de Lula.
Queixas e recusas de voto baseadas em corrupção, saúde e educação, embora importantes, são ora superadas pela satisfação com a transferência de renda e com o nível da inflação.
O desemprego, tema relevante na avaliação do governo, no entanto tem efeito quase nulo na nota do governo, e em parte nos votos. A atuação federal nessa área é tida como ótima ou ruim por quantidades iguais de eleitores.
Outro dado forte das pesquisas é a alta volatilidade do período pré-eleitoral. Embora a novidade desta reeleição seja a grande identificação entre eleitor pobre-ação social-voto em Lula, mesmo dentro deste universo a mudança de opinião tem sido considerável.
O número mais forte e imutável da campanha será o da renda: mais de 60% dos brasileiros ganha menos de R$ 500 mensais. A importância eleitoral dos programas sociais de Lula e do fim da inflação sob FHC parecem a maneira de o brasileiro comum dizer que, não importa o meio, se mais emprego, mais transferências de renda ou preços menores, o essencial é aumentar a renda.
(VINICIUS TORRES FREIRE)


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