São Paulo, domingo, 26 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Igreja deu função social à terra, diz bispo

da Agência Folha, em Coruripe

O bispo de Penedo, dom Valério Breda, 55, afirmou que a situação criada pela cobrança de taxas dos moradores de Coruripe (AL) pela utilização das terras da igreja são decorrentes de circunstâncias históricas e sociais que podem ser "modernizadas" a partir de um acordo judicial.
O bispo não considera que a igreja deva passar a propriedade das terras a seus ocupantes sem que haja um ressarcimento financeiro. Para ele, isso feriria o Código Canônico, que prevê que a finalidade da doação recebida pela igreja é a de manutenção do "culto e dos templos".
"Não raciocinamos em termos de piedade, mas em termos de lei", afirmou. "Esses patrimônios foram perdendo os laços com o santo (em nome do qual era feita a doação), o que nos deixa em uma situação preocupante."
Breda disse que, apesar de não ser uma prioridade da Igreja Católica, ele está fazendo um levantamento da situação das propriedades doadas para a igreja local.
Mas, para mudar o atual quadro, é necessário um consenso entre a igreja e as pessoas que estão com a posse da terra.
O bispo lembra que, com a formação de grandes fazendas em Alagoas durante a colonização, boa parte das cidades se formou em terras doadas em nome de santos. "As terras dos santos católicos foram o único espaço de liberdade, e a igreja deu uma função social e cívica a essas terras. Ninguém conseguia enfrentar o poder. Por isso, hoje, essas terras não são absoluta propriedade da igreja. O país ainda não vive uma democracia social", afirmou.
Dom Valério Breda admite que pode ter havido má-fé dentro da própria igreja nos últimos anos, nas transações de venda de parte das propriedades.
"Algumas transações foram feitas por meio legal, mas não posso dizer que alguém que tenha zelado por esse patrimônio não tenha cedido às tentações."
Ao assumir a diocese de Penedo, que congrega a paróquia de Coruripe, o bispo proibiu novas vendas definitivas das propriedades da igreja.
"A suspensão das vendas foi para que os bens não fossem extintos de mão beijada", afirmou o bispo. (AC)


Texto Anterior: Brasil 500: Igreja cobra taxa na região onde bispo Sardinha foi devorado
Próximo Texto: Intelectual, religioso não gostava dos índios
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.