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SOMBRA NO PLANALTO
Em conversa reservada com músicos, presidente diz que 2004 será seu ano mais difícil
Lula culpa os "conservadores" por crise e prevê ano de guerra
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva afirmou ontem a um grupo
de representantes do movimento
hip hop que foram recebidos por
ele no Palácio do Planalto que "este é o ano mais difícil de todo o governo", culpou "os conservadores" pela atual crise política e previu "uma guerra" contra a sua administração.
A Folha teve acesso à audiência
e presenciou a conversa de Lula
com os artistas. A reportagem foi
convidada a participar do evento
por integrantes do movimento.
Lula se encontrou com músicos
como MV Bill, Rappin'hood, o
grupo Racionais e Gog, que foram
a Brasília pedir maior interlocução com a gestão. No fim da conversa, quando já se abraçavam e
tiravam fotografias, Lula pediu silêncio para fazer um "alerta".
"Este é o ano mais difícil de todo
o governo. O ano passado foi um
ano econômico muito difícil. Este
ano é um ano político muito difícil." Em tom professoral, ele continuou: "Por que político? Porque
nós terminamos o ano [de 2003]
muito bem. Ou seja, todo mundo
pensava que a gente não ia conseguir recuperar a credibilidade
deste país e chegar ao final do ano
numa situação confortável. E nós
provamos que sabemos tomar
conta do pedaço".
"E o que aconteceu?", prosseguiu Lula. "Os conservadores sabem se reorganizar. Eles têm pesquisas de opinião pública e sabem
que nós podemos ganhar [as eleições] em muitas capitais neste
ano. Então, todo esse barulho que
vocês estão ouvindo por aí é a demonstração do que vai ser este
ano. Neste ano, pelo que estão dizendo aí, parece que vão fazer
uma guerra contra o governo."
Informalmente, Lula acabou fazendo a declaração mais aberta
sobre o que pensa do momento
político de seu governo -que vive um terremoto desde 13 de fevereiro, quando foi veiculado que o
ex-subchefe do Planalto, Waldomiro Diniz, pediu propina em
2002 para si e para campanhas do
PT e do PSB a um empresário do
jogo. À época, trabalhava no governo Benedita da Silva (PT-RJ).
Waldomiro saiu do governo,
mas o caso só cresceu desde então. Com a paralisia do governo,
as dificuldades econômicas do
país e o enfraquecimento político
de José Dirceu (Casa Civil) -até
então homem mais poderoso da
Esplanada dos Ministérios-,
aliados aproveitaram para exigir
cargos e emendas parlamentares.
A crise quase provocou o esfarelamento da base aliada. Para contê-la, o governo foi obrigado a fazer uma série de concessões.
Apanhei tanto na vida
Na conversa com os músicos, o
presidente não disse quem seriam
os "conservadores" em questão.
Ontem, a oposição liderada por
PFL e PSDB lançou um fórum para tentar unificar seu discurso.
Aliados como o PL e o PMDB,
além do próprio PT, têm feito críticas à política econômica.
Lula afirmou ainda que "o governo nunca pode perder a tranqüilidade" e disse aos músicos:
"Vocês nunca vão me ver ficar
nervoso com isso. Eu já apanhei
tanto na minha vida". Para ele, os
músicos do hip hop, que só chamavam o presidente de "você" e o
governo petista de "nosso", têm
de aproveitar enquanto ele estiver
exercendo o poder no Planalto.
"O importante é vocês terem
claro o seguinte: nós temos um
mandato de quatro anos. Vamos
aproveitar para prestigiar companheiros como vocês. Os companheiros de "depois" [de ter sido
eleito] têm qualidade. Mas os de
antes têm muito mais qualidade."
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