São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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INVESTIGAÇÃO

Ministério Público recebe documentos bancários em nome de "offshore" usada para movimentar dinheiro

Extrato mostra US$ 1,5 mi de Pitta nos EUA

DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-prefeito Celso Pitta (1997-2000) movimentou cerca de US$ 1,5 milhão nos EUA por meio de uma "offshore" (empresa no exterior) aberta quando ele ainda era secretário das Finanças do ex-prefeito Paulo Maluf (1993-1996). Para o Ministério Público do Estado de São Paulo, os documentos comprovam que parte da conta foi alimentada com o desvio de dinheiro de obras públicas.
A denúncia partiu da ex-mulher de Pitta, Nicéa Camargo Pitta, que forneceu ontem à polícia e ao Ministério Público extratos bancários em nome da "offshore" Diderot (filósofo francês). "Essa conta foi aberta no período de Natal, no dia 20 ou 21 de dezembro de 1994, em Nova York, no Commercial Bank", afirmou Nicéa.
Para o Ministério Público, Pitta e Maluf são responsáveis pelo superfaturamento na construção da avenida Águas Espraiadas. Calcula-se em aproximadamente R$ 500 milhões o valor de recursos desviados da obra. De acordo com os documentos, o dinheiro não está mais em Nova York. "Foi para a Suíça", afirmou Nicéa.
A Justiça suíça já enviou ao Brasil cópias dos extratos bancários de uma conta em nome da Cutty International aberta em Zurique. Encaminhou ainda um termo de abertura da conta, assinado por Pitta e por Nicéa.
O ex-prefeito chegou a usar um aparelho de fax do gabinete da Prefeitura de São Paulo para repassar documentos para o banco internacional -o número está registrado no cabeçalho da folha.
Segundo o Ministério Público, o dinheiro saiu da Suíça, foi para os EUA e, depois, foi depositado na ilha de Guernsey, paraíso fiscal do canal da Mancha. A ilha é vizinha a Jersey, onde Maluf teve bloqueado pelo menos US$ 200 milhões, segundo autoridades de lá.
Com os documentos de Suíça e EUA em mãos, o Ministério Público espera agora poder contar com a cooperação de Guernsey.
Já os documentos enviados pela Suíça referentes a movimentações bancárias de Maluf naquele país serão abertos na próxima terça-feira pelos procuradores e promotores que investigam remessa ilegal de dinheiro para o exterior.
Esse foi o prazo dado ontem pelo chefe do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça, Antenor Madruga, aos promotores Sílvio Marques e Sérgio Turra Sobrane.
Os documentos são aguardados no Brasil há dois anos e meio. E, apesar de já estarem com o Ministério da Justiça, apenas os juízes de São Paulo Toru Yamamoto (federal) e Renata Okida (estadual) podem analisá-los e repassá-los ao Ministério Público.
(LILIAN CHRISTOFOLETTI)


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