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foco
Sindicalistas bancam festa para secretário em três barcos no Paranoá
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A antiga "companheirada"
dos sindicatos, identificada
como uma das novas elites
emergentes da era Lula, celebrou ao melhor estilo brasiliense a despedida de um de
seus expoentes do governo na
madrugada de ontem.
O ex-sindicalista e quase ex-secretário de Relações do Trabalho, Luiz Antonio Medeiros, levou 150 convidados para uma festa em três barcos no
lago Paranoá, devidamente
apelidados de "Bateau Mouche do Medeiros".
Medeiros deixa na próxima
semana a secretaria no Ministério do Trabalho para disputar o cargo de deputado federal pelo PDT de São Paulo. A
secretaria é o elo do governo
com o mundo sindical, e tem
entre suas atribuições dar o
registro a novas entidades.
O "Bateau Mouche do Medeiros", alusão de mau gosto
dos convidados ao barco que
naufragou no Rio, em 1988, foi
bancado por uma "vaquinha"
que reuniu funcionários terceirizados, servidores públicos e assessores do Ministério
do Trabalho, além de líderes
de centrais sindicais e confederações empresariais. A cota
paga por assessor especial,
por exemplo, foi de R$ 120.
O programa no Paranoá é típico entre os novos-ricos da
cidade. Os barcos alugados
oferecem coquetel, mesa de
frios e caldos, e bebidas (refrigerantes, cerveja, vodca). Tem
ainda bar, pista de dança, música ao vivo e show de fogos.
Os convidados são levados
para um passeio pelo lago que
dura quatro horas, com paradas em pontos turísticos.
"Custa menos que uma festa
de criança. Cerca de R$
8.000", disse o proprietário do
Imagination, Marlon de Almeida. A expectativa de lotação levou os organizadores a
fretarem mais dois barcos:
Netuno e Lua Azul.
"Esse evento foi organizado
pelos funcionários, não estou
sabendo de nada", desconversou Medeiros ao ser questionado pela Folha sobre a festa.
Também disse não estar certo
de sua candidatura.
Na festa de ontem, o tour
pelo Paranoá foi abreviado.
Muitos convidados levaram a
sério o apelido de "Bateau
Mouche", entre eles o ministro do Trabalho, Carlos Lupi.
Acabaram pedindo ao capitão
para deixar o passeio para
mais tarde e foram embora
antes de os barcos zarparem.
"Esse negócio é mesmo um
barco amarrado no outro? Isso é seguro", perguntava Lupi.
Lupi discursou: "Medeiros
foi um presente que os deuses
colocaram no meu caminho".
O secretário ganhou flores e
um quadro com sua caricatura. Um vídeo com cenas da rotina de Medeiros e depoimentos foi projetado em meio aos
discursos de elogio.
Alguns convidados usavam
camiseta com a foto de Medeiros e a frase: "Uma vida dedicada à negociação".
No final da noite, enquanto
os mais animados se aglomeravam na pista de dança, em
outro barco rolava um karaokê com direito a uma interpretação de "Fuscão Preto".
Era o pedetista e ex-superintendente da Delegacia do Trabalho do Paraná João Alberto
Graça.
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