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REFORMA MINISTERIAL
Rumo ao virtual segundo mandato, presidente busca novas alianças, como faz com o PMDB
FHC e Motta procuram limitar ação do PFL
KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel
A volta do senador José Serra
(PSDB) ao governo foi articulada por Fernando Henrique Cardoso e
pelo ministro das Comunicações,
Sérgio Motta, para limitar desde já
o espaço do PFL no eventual segundo mandato do presidente.
No fim de janeiro, FHC e Serra
tiveram uma longa conversa. O
presidente fez o convite para o senador assumir a pasta da Saúde
quando tivesse que reformar sua
equipe, em abril, por ocasião dos
ministros que sairiam para disputar a eleição.
Preocupado com a aproximação
entre o PFL e o PPB, expressa pelas inúmeras aparições públicas da
dupla Antonio Carlos Magalhães e
Paulo Maluf, FHC disse a tucanos,
entre os quais Serra, que daria
uma feição mais pessoal à sua segunda administração.
Para reclamar do carimbo de
que ACM manda no governo,
FHC dizia a tucanos que o PSDB
tem a área econômica e a Educação, ficaria com a futura pasta da
Infra-Estrutura e que gostaria de
pôr Serra na Saúde.
O presidente tem trabalhado
com o cenário de que está reeleito.
Sua dúvida é se ganha no 1º turno,
o que seria uma aprovação incontestável de sua gestão. Ou se leva
no 2º turno, uma aprovação por
falta de melhor alternativa.
Serra, que planejava voltar ao
governo só em 99, ficou de pensar
e deu início a um demorado processo de reflexão e de consultas a
amigos, médicos e políticos.
Sérgio Motta entrou no circuito,
argumentando que, no começo de
99, todas as pastas, em tese, estariam abertas a discussão. Avisou
que o momento era agora, pois ele
seria apenas um dos nomes fortes,
ao lado das indicações de PFL,
PMDB, PPB, PTB e PSDB.
Na última sexta, quando ainda
hesitava sobre a conveniência de
aceitar "um ministério onde morre gente", Serra teve duas conversas com Motta, uma delas à noite,
na casa do ministro das Comunicações. Motta voltou a lembrar
que ACM estava de olho na pasta
da Saúde. Em conversas no plenário do Senado, já "nomeara" Paulo Souto futuro ministro em 99.
Projeto 2002
Preocupado em viabilizar o projeto presidencial em 2002 de seu
filho e deputado federal, Luís
Eduardo Magalhães, ACM queria
colocar na Saúde um executivo
subordinado às suas diretrizes. Seria uma forma de tomar um trampolim político de um adversário
futuro.
Registre-se que Luís Eduardo,
em conversas com FHC, chegou a
dizer que seria um desafio assumir
a Saúde. Parlamentares próximos
ao deputado contam que sua preferência era disputar o Senado e
ser ministro de FHC em 99. Mas o
pai, avaliando que seria temerário
deixar Paulo Souto oito anos dirigindo a Bahia, praticamente obrigou o filho a disputar o governo.
Ciente do significado de seu retorno ao ministério, ocupando
uma pasta cobiçada pelos aliados,
Serra recebeu na sexta à noite um
telefonema de FHC, informando
que acabara de aceitar a demissão
de Carlos Albuquerque e que
aguardava uma resposta urgente.
Serra, que fez basicamente duas
exigências para assumir a Saúde
(garantia de recursos e liberdade
para poder enfrentar nomeações
políticas), foi a Brasília em segredo no dia seguinte, um sábado.
Conversou com FHC e voltou
decidido a aceitar. Mas, num processo de decisão tipicamente tucano, só deu o sim definitivo no domingo, por telefone.
Acabava aí uma articulação que
marca a primeira grande derrota
do PFL para o núcleo tucano que
comanda o governo.
Para entender melhor a razão
disso, é preciso voltar a novembro, quando FHC editou o Pacote
51 em resposta à crise asiática e
avaliou o momento como o mais
delicado de sua administração.
Àquela altura, já estava claro que
o namoro entre PFL e PPB era para valer e almejava lances políticos
concretos no eventual segundo
mandato e na sucessão de 2002.
Barco
No entanto, o comportamento
de ACM, que capitaneou a oposição ao pacote contrapondo-se ao
aumento do imposto de renda, foi
lido por FHC como um sinal de
que o PFL não hesitaria em pular
do barco imediatamente no caso
de uma tragédia econômica.
No desfecho do pacote, ACM
contabilizou uma vitória pública
porque conseguiu reduzir o aumento do imposto de renda, mas
se desgastou muito com FHC.
Desde então, o presidente se
convenceu da necessidade de
atrair o PMDB, garantindo ao partido um espaço similiar ao do PFL,
até então o aliado mais importante do PSDB. Eliseu Padilha, por
exemplo, recebeu garantia de que
será ministro no ano que vem.
Os caciques do PFL, entre os
quais Luís Eduardo, vendiam para
o Planalto a tese de que o PMDB
jamais viria majoritariamente para o palanque de FHC. Mas a vitória da ala governista na convenção
do PMDB mostrou o contrário.
O estilo de FHC não é de mudanças bruscas, e o susto que passou
no PFL não significa que prescinda do apoio do partido.
O presidente sempre diz que a
atuação de ACM foi importante
para aprovar as reformas da Previdência e administrativa. No entanto, deu sinal claro de quem tem
outros parceiros para uma emergência agora ou depois da eleição.
E que quer ter mais liberdade política em 99.
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