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REGIME MILITAR
Zuzu Angel foi assassinada, diz comissão
ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília
A Comissão Especial de Mortos e
Desaparecidos Políticos, do Ministério da Justiça, reconheceu
ontem, por 4 votos a 3, que a estilista Zuzu Angel foi vítima de
atentado político, em 1976, em
acidente de carro provocado por
agentes do regime militar
(1964-85).
A decisão da comissão foi baseada principalmente em novo laudo
sobre o acidente. Esse laudo desmonta a versão oficial de que ela
teria dormido ao volante e capotado depois de bater nos meios-fios
da auto-estrada Lagoa-Barra, na
cidade do Rio de Janeiro.
Com a decisão de ontem, a família da estilista terá direito a indenização, cujo valor ainda será arbitrado.
Mãe de Stuart Angel, ativista político morto em 1971 na Base Aérea
do Galeão (RJ), Zuzu Angel denunciava na época a violência do
regime militar.
A comissão já aprovou pedido
de indenização apresentado pela
família em relação a Stuart Angel.
Cada indenização varia entre R$
100 mil e R$ 150 mil. A família
quer utilizar esses recursos para
divulgar a luta de ambos em defesa
dos direitos humanos.
O relator do processo da estilista, Luís Francisco Carvalho Filho,
afirma que o Karmann-Guia dirigido por Angel foi fechado por outro carro, com base nos testemunhos dos advogados Marcos Pires
e Carlos Medeiros, que estavam
próximos do acidente.
"Fora da perspectiva política,
não há explicação razoável para a
falsidade da versão oficial", afirma
o relator. "Minha convicção é de
que Zuleika Jones foi vítima de
atentado político."
Meio-fio
O novo laudo foi elaborado pelos especialistas em acidente de
trânsito Valdir Florenzo e Ventura
Martello Filho, da Polícia Civil de
São Paulo.
Um vídeo elaborado pelos especialistas apresenta simulação gráfica do acidente e imagens de um
carro ultrapassando facilmente
um meio-fio da mesma altura do
do local onde ocorreu o acidente.
Eles contestam laudo elaborado
na época pelo perito Elson Rangel,
do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, da Polícia Civil do Rio.
Segundo Rangel, o carro ziguezagueou e derrapou na pista após
bater nos meios-fios.
Em entrevista à Folha, publicada
no dia 23 de fevereiro, Elson Rangel estranhou que as fotos do acidente não apresentassem sinais da
derrapagem do carro. "É estranho, não tem. Não é preciso ter foto. Eu tenho fé pública", disse o
perito.
O vídeo exibido pelo relator
aponta que a estilista apresentou
fratura do perônio direito por ter
freado o carro no momento do
impacto. Isso mostra que ela não
estava adormecida no momento
da colisão.
Esses fatos levaram a comissão a
retificar decisão anterior sobre o
caso. Em agosto passado, com o
apoio do relator, a comissão havia
rejeitado por 5 votos a 2 o pedido
apresentado pela família por falta
de provas que apontassem o envolvimento de agentes públicos na
morte da estilista.
O caso da estilista foi desempatado pelo voto do presidente da comissão, Miguel Reale Júnior. Para
ele, ficou caracterizado que a estilista morreu por ação de agentes
do Estado.
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