São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 2005

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PT NO DIVÃ

Para vice-presidente da sigla e candidato adversário, acordo é desnecessário

Genoino propõe pacto com esquerda

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois do acalorado embate do fim de semana, o presidente nacional do PT, José Genoino, propôs ontem um pacto a seus adversários nas eleições do partido: "Que assumam um compromisso público pelo nível do debate e com o projeto do governo Lula".
Tarde demais. Ontem mesmo, o candidato da Articulação de Esquerda e vice-presidente do PT, Valter Pomar, divulgou uma carta com severas críticas ao roteiro do Campo Majoritário para o debate.
Para Genoino, a carta "é de alto nível" e "eleva o debate".
Segundo Pomar, "o texto [do Campo Majoritário] é governista no mau sentido" por contornar a gravidade da "ditadura do capital financeiro" no país. "Se faço um documento para um partido, que vai além do governo, tenho de dizer as coisas como são. Se faço um documento para o governo, tenho de usar aquela linguagem cheia de diplomacia, o tucanês."
Para ele, um pacto é desnecessário: não há dúvida de que os candidatos estão comprometidos com a reeleição de Lula. Além disso, o candidato da Democracia Socialista (DS), Raul Pont, deixou evidente sua insatisfação com as declarações do secretário-geral do PT, Sílvio Pereira. Na véspera, Pereira ameaçou expor as mazelas da administração Pont (Porto Alegre) em resposta às críticas da DS ao governo. "Não vou descer o debate a esse patamar. Há questões objetivas: a política econômica e a ética no governo."
Até Maria do Rosário (RS), do moderado Movimento PT, prega a discussão da política econômica. "Para apoiar o governo tem de ser propositivo. Não pode só acolher propostas e dar sustentação."
Em sua carta, a Articulação de Esquerda avalia que Lula vive sob a sombra do "espectro neoliberal" e que seus colegas Néstor Kirchner (Argentina) e Hugo Chávez (Venezuela) governam mais à esquerda. Pomar recorre ao neologismo "gustavo-franquiana" para descrever a política econômica.
A crítica também respinga no ministro José Dirceu (Casa Civil). Segundo ele, "a estratégia hegemônica" tem o apoio de Dirceu, "embora este aparente sempre estar alguns graus à esquerda da sua posição real". Assim com a DS, a AE tem cerca de 15% do PT.
Os adversários de José Genoino na disputa pela presidência do PT mostraram ontem discordância, em um debate em Belo Horizonte, em relação ao caso do deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG) -apontado por setores do PT como um dos principais responsáveis pela derrota do candidato petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), que perdeu a eleição para Severino Cavalcanti (PP-PE). Virgílio contrariou decisão da bancada do PT e lançou-se candidato independente.
No debate de ontem, participaram dois dos três pré-candidatos à presidência do PT nacional, Plínio Arruda e Valter Pomar, e um representante de Raul Pont, o professor universitário Juarez Guimarães. Valter Pomar disse que, "se houver união de forças, teremos chances de ir para o segundo turno e aí fica difícil de a gente [a oposição a Genoino] perder".
Mas o caso Virgílio indica que pode ser difícil alcançar essa união de forças. Valter Pomar, da tendência Articulação de Esquerda, defendeu a expulsão de Virgílio do partido. "Eu vou votar pela expulsão. Vai ser um voto solitário, mas eu vou votar na expulsão."


Colaborou ANA KARENINA BERUTTI, colaboração para a Agência Folha, em Belo Horizonte

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