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Presidenciáveis disputam voto evangélico
Pré-candidatos cortejam pastores em busca de apoio na campanha; protestantes já são 25% do eleitorado brasileiro
Serra e Dilma negociam alianças com Assembleia de Deus e Universal; única evangélica, Marina aposta na identificação com fiéis
BERNARDO MELLO FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL
De olho num rebanho que já
representa um quarto do eleitorado brasileiro, os pré-candidatos à Presidência iniciaram
uma guerra de bastidores pelo
apoio das igrejas evangélicas. A
disputa para engajar bispos e
pastores nas campanhas promete ser a mais acirrada desde
a explosão do segmento religioso, na década de 1990.
À frente nas pesquisas de intenção de voto, José Serra
(PSDB) e Dilma Rousseff (PT)
investem na aproximação com
as gigantes Assembleia de Deus
e Universal, respectivamente.
Única evangélica na disputa,
Marina Silva (PV) enfrenta dificuldade para fechar alianças
formais, mas dedica parte expressiva da agenda a encontros
com fiéis e líderes religiosos.
Desde outubro passado, os
três concorrentes já bateram à
porta do presidente da Convenção Geral da Assembleia de
Deus, pastor José Wellington
Bezerra da Costa. Ele lidera
cerca de 10 milhões de seguidores, o equivalente à população
do Rio Grande do Sul. Pouco
conhecido fora dos templos, é
considerado mais próximo de
Serra, a quem apoiou no segundo turno de 2002.
"Serra sempre teve um canal
muito forte conosco e mantém
contato direto com o pastor José Wellington. Os dois conversam muito por telefone", afirma o pastor Lélis Marinho, relator do conselho político da
Assembleia e responsável por
negociar com os partidos.
Apesar do flerte tucano, o líder da igreja também tem sido
cortejado pelos outros concorrentes. Há seis meses, ainda como chefe da Casa Civil, Dilma
participou de sua festa de 75
anos, num templo em São Paulo. Orou com os fiéis e disse, no
púlpito, que o governo Lula defendia "valores cristãos".
Fiel da Assembleia, Marina
se reuniu com o conselho da
igreja em março, em Brasília.
Mas o fato de ser considerada
um azarão deve impedir uma
aliança. "Por ser da igreja, Marina seria nossa candidata de
coração. Mas precisamos saber
se sua candidatura foi lançada
só para atender a interesses do
partido", diz Lélis. "Vamos nos
definir em junho, perto das
convenções [partidárias]."
Vista com reservas em setores do meio evangélico, Dilma
tem recorrido à ajuda de aliados como o senador Marcelo
Crivella (PRB-RJ), bispo da
Igreja Universal, e o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR), presbiteriano.
"Dilma tem posições pouco
claras em questões sensíveis
aos evangélicos, como a defesa
da família e o aborto. Ela ainda
precisa ser reconhecida como
defensora das causas cristãs",
disse Garotinho na noite de
sexta-feira, quando chegava a
um encontro com evangélicos
na Baixada Fluminense.
A ex-ministra busca o apoio
da Convenção Nacional da Assembleia de Deus, que contabiliza 5 milhões de seguidores.
Seu líder é o deputado pastor
Manoel Ferreira (PR-RJ), pré-candidato ao Senado na chapa
de Garotinho. Ele simboliza a
volatilidade das alianças "de
fé": em 2002, quando o PSDB
era governo, apoiou Serra no
segundo turno. Em 2006, com
o PT no poder, esteve com Lula.
Aliada do presidente em suas
duas vitórias, a Universal é tida
como certa na campanha de
Dilma. O PRB, ligado à igreja,
deve integrar a coligação. "A
tendência é apoiar Dilma", diz
o presidente do partido, bispo
Vitor Paulo, que divide com
Crivella a função de articulador
político do bispo Edir Macedo.
Para a equipe de Marina, a
identificação com os evangélicos será um de seus maiores
trunfos na eleição. Ela tem
aproveitado as viagens da pré-campanha para encontrar pastores, orar com grupos de fiéis e
dar entrevistas a emissoras de
rádio e sites religiosos.
"Não temos cacife para disputar a cúpula das maiores
igrejas, mas a Marina tem comunicação direta com a base
cristã. Por mais que o pastor
mande votar na Dilma, os fiéis
vão saber quem tem fé", alfineta o coordenador da campanha
do PV, Alfredo Sirkis.
Em março, a senadora ouviu
promessa de apoio de Silas Menezes, número dois da hierarquia da Igreja Presbiteriana,
com 1 milhão de seguidores. O
reverendo declarou que ela merecia o voto dos cristãos por ser
uma "doméstica da fé".
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