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Institutos divergem sobre metodologia
Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi explicam critérios para seus levantamentos sobre a intenção de voto do brasileiro
Pontos de discordância são
a definição do universo pesquisado e a formulação
e ordem das perguntas mostradas no levantamento
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
De 30 de março a 18 de abril,
o pré-candidato a presidente
pelo PSDB, José Serra, apareceu em quatro pesquisas de intenção de voto. Suas taxas variaram de 33% a 38%. No caso
da ex-ministra Dilma Rousseff
(PT), os percentuais foram de
28% a 32%. A diferença entre o
tucano e a petista chegou a ser
de um a dez pontos pontos percentuais nesse período.
Há várias razões para essa
discrepância entre Datafolha,
Ibope, Sensus e Vox Populi, os
institutos mais conhecidos do
país. Entre as mais visíveis estão duas. Primeiro, a data de coleta de dados não foi exatamente a mesma. Segundo, a metodologia usada é diferente entre
as quatro empresas.
Há grande divergência entre
os institutos a respeito de qual
é a melhor forma de coletar dados sobre intenção de votos. A
Folha fez uma lista de perguntas e enviou para as quatro empresas detalharem seus procedimentos. A íntegra das respostas pode ser acessada por meio
de link no final deste texto.
Os pontos principais de discordância são a definição do
universo pesquisado (como escolher o grupo socioeconômico
mais representativo do eleitorado) e a formulação e ordem
das perguntas apresentadas.
O Datafolha faz sua escolha
de universo a ser pesquisado
mesclando dados do TSE (número de eleitores existentes
em cada cidade) e do IBGE (sexo e faixa etária). "Não usamos
cotas para variáveis como escolaridade ou renda familiar
mensal pois não há dados atualizados para os municípios brasileiros", diz o diretor-geral do
instituto, Mauro Paulino.
Para não ocorrer distorção, o
Datafolha controla algumas variáveis (renda e escolaridade)
conforme o histórico de sua
ampla série pesquisas.
Já o Ibope usa um sistema
"de cotas proporcionais em
função das variáveis sexo, idade, grau de escolaridade e setor
de dependência econômica",
diz Márcia Cavallari Nunes, diretora-executiva de Atendimento e Planejamento.
Para o diretor do Sensus, Ricardo Guedes, "os dados da divisão socioeconômica geográfica do IBGE representam adequadamente o país". O Vox Populi, de acordo com seu diretor-presidente, João Francisco
Meira, "usa os dados censitários do IBGE".
Ordem das perguntas
Apenas um dos institutos
abordados nesta reportagem, o
Datafolha, começa suas pesquisas sobre eleição presidencial
sem "esquentar" o entrevistado. Trata-se do jargão usado no
meio para designar as perguntas que oferecem algum tipo de
estímulo antes de indagar sobre intenção de voto.
"A ordem das perguntas pode
influenciar as respostas dos entrevistados. Dependendo dos
assuntos colocados antes da
pergunta central da pesquisa,
seja ela sobre a aprovação do
governo ou confiança no político, a resposta pode ser afetada",
diz Mauro Paulino.
Quando faz levantamentos
regionais e o contratante pede
uma pergunta "quebra-gelo"
(outro sinônimo para "esquentar"), o Datafolha escolhe temas que não suscitem um juízo
de valor sobre os candidatos.
Numa pesquisa sobre intenção de voto realizada no final de
março no Rio Grande do Sul,
por exemplo, o Datafolha perguntou qual era o interesse dos
entrevistados pelo processo
eleitoral. Só depois indagou sobre a intenção de voto.
O Ibope há vários anos faz algumas perguntas de "quebra-gelo". No último levantamento
sobre voto para presidente,
concluído no dia 18, indagou
sobre o interesse do entrevistado pelo processo eleitoral e sobre a satisfação em relação "à
vida que vem levando hoje".
"É um tema polêmico", diz
Márcia Cavallari, do Ibope. "A
única forma de comprovarmos
se a ordem do questionário faz
diferença seria realizarmos
duas pesquisas com a mesma
metodologia amostral e mesmo
período de tempo, apenas com
questionários diferentes".
Para Ricardo Guedes, do
Sensus, "é lícito ter perguntas
que repliquem o processo natural de escolha do eleitor". Pelo
seu argumento, na hora do voto,
as pessoas fazem algum tipo de
reflexão sobre o desempenho
do governo. Na pesquisa, portanto, seria natural buscar um
comportamento semelhante.
O Sensus foi o único dos quatro institutos cuja pesquisa
apontou empate técnico entre
José Serra, com 33%, e Dilma
Rousseff, com 32%. É também
o instituto que faz mais extensivamente perguntas para "esquentar" o entrevistado.
No questionário do Sensus,
antes de apurar a intenção de
voto, o entrevistado é questionado sobre como avalia "o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva". Em seguida,
outra pergunta: "Por quê?". Só
depois de o entrevistado refletir sobre esse assunto é que
vêm as perguntas sobre sua intenção de voto.
João Francisco Meira, do
Vox Populi, acha que um instituto pode "desejar reproduzir
determinada situação que vai
influir na hora do voto". Para
ele, "o questionário é relevante,
mas não existe um jeito mais ou
menos correto", afirma.
O Vox Populi faz primeiro a
pergunta de intenção de voto
com resposta espontânea (sem
mostrar os nomes dos pré-candidatos). Mas antes de começar
as perguntas com estimulação
de resposta (mostrando os nomes de quem vai concorrer),
apresenta duas indagações.
A primeira tenta aferir se o
entrevistado conhece cada candidato. Em seguida, pergunta
sobre cargos ocupados pelos
principais políticos na disputa
presidencial. O eleitor, portanto, é instado a refletir sobre
quem são os candidatos antes
de declarar o seu voto.
Há um outro aspecto metodológico a ser considerado: a
consistência dos formulários
ao longo da série de pesquisas
de cada instituto.
No caso do Datafolha, o formulário se mantém inalterado
ao longo de todo o processo
eleitoral. O instituto também
não faz pesquisas para partidos
ou para políticos.
Todos as outras empresas de
pesquisa aceitam serviços de
partidos ou de políticos. E há
também pesquisas comparadas
como se fossem da mesma série, mas cujos formulários de
coleta de dados são diferentes.
No caso das duas pesquisas
Sensus deste ano, há diferença
nas perguntas formuladas. Em
janeiro, o instituto fez o seu tradicional levantamento para a
CNT (Confederação Nacional
do Transporte) no qual começa
a coleta de dados com mais de
dez perguntas sobre a situação
do país, incluindo as áreas de
saúde, emprego, educação, segurança pública e renda. Pergunta sobre a avaliação do governo Lula e só depois passa para o bloco de intenção de voto.
Já em abril, o Sensus fez nova
pesquisa -desta vez para um
sindicato de São Paulo. As perguntas prévias foram apenas
sobre preferência partidária e
avaliação do governo Lula, mas
com uma novidade: pedia ao
entrevistado que elaborasse
uma resposta sobre a razão de
aprovar ou desaprovar a administração do petista. É nesse levantamento que Serra e Dilma
surgiram empatados.
FOLHA ONLINE
Leia a íntegra das
respostas dos institutos
www.folha.com.br/1011327
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