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PITTAGATE
Cerca de uma hora e meia após a decisão do TJ, advogados entram com ação em Brasília para tentar manter Pitta no cargo
STJ rejeita recurso da defesa de prefeito
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O prefeito de São Paulo, Celso
Pitta, fracassou na tentativa de
suspender no STJ (Superior Tribunal de Justiça) a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que
determinou seu afastamento do
cargo.
Às 21h20 de ontem, a ministra
da STJ Eliana Calmon, relatora do
pedido dos advogados de Pitta,
assinou uma decisão de quatro
páginas mantendo o afastamento.
O prefeito poderá recorrer à 2ª
turma do STJ contra essa decisão,
mas os cinco ministros que a integram, inclusive Eliana, não deverão se reunir antes da próxima
quinta-feira.
Segundo entendimento colhido
pela Folha no STJ e no STF (Supremo Tribunal Federal), o simples ajuizamento no STJ de medida cautelar, com pedido de liminar, para suspender a decisão do
tribunal paulista, poderá gerar a
interpretação de que Pitta já está
ciente da decisão de afastamento.
Por sua vez, o entendimento de
que ele já está ciente da decisão
permite o afastamento sem notificação ou publicação da decisão
do TJ.
O prefeito deverá ainda entrar
com recurso especial no STJ contra a decisão do TJ-SP. A cautelar
apresentada ontem representa
um passo anterior, preparatório
do recurso no qual ele contestará
o mérito da ação de improbidade.
Na decisão, a ministra fez considerações de natureza política, como o fato de o processo ter "grande e grave repercussão política e
social" e o seu acompanhamento
pela sociedade "em uma lenta
agonia".
Ela também apresentou razões
técnicas. Afirmou ser "prematura" a apresentação de cautelar ao
STJ no momento em que o processo ainda está em curso no tribunal de São Paulo. Segundo Eliana, a questão deveria ser examinada pelo presidente do TJ.
Mesmo assim, a ministra considerou que a decisão não poderia
ser meramente formal. A partir
disso, a ministra rejeitou os dois
argumentos básicos de Pitta que
justificariam a concessão da liminar requerida por ele: risco de o
afastamento do prefeito do cargo
provocar "dano irreparável" e a
existência de fundamentação jurídica no pedido.
"O afastamento do prefeito não
mais ferirá a sua imagem, porquanto já desgastada perante a
opinião pública, opinião esta que
poderá ser revertida até mais facilmente, se, ao final do julgamento da ação de responsabilidade,
concluir-se que inexiste improbidade."
A ministra também levou em
consideração que a eventual permanência de Pitta desgastaria a
imagem da administração pública, em razão da necessidade de
prosseguimento da ação de responsabilidade civil.
"A sua manutenção à frente do
executivo municipal traria para os
órgãos de controle enorme desgaste, pois é muito difícil manter-se em curso uma ação que visa
responsabilizar um agente político por ato de improbidade, sem
que se possa dispor livremente
dos registros administrativos."
Segundo ela, "o desgaste que se
deve resguardar é da própria imagem de transparência da administração pública".
A relatora da medida cautelar é
uma das duas mulheres que integram o STJ. Foi a primeira mulher
a chegar ao tribunal, há quase um
ano. A indicação de seu nome teve o apoio do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA). Ela é baiana e atuava
antes no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília.
O recurso de Pitta assinado pelos advogados Marco Antonio
Mundim e Carlos Augusto Rolemberg, de um escritório de Brasília, foi protocolado no STJ às
15h15, uma hora e 35 minutos depois de anunciada a decisão do
TJ-SP.
No início do recurso especial,
antes mesmo do nome de Pitta,
aparece uma citação de um discurso feito na posse do novo presidente do STJ, Paulo Costa Leite,
no mês passado, contra as pressões da opinião pública: ""Não é de
hoje que se adverte quanto à necessidade de o juiz se precaver das
influências perigosíssimas da opinião pública exaltada, porque frequentemente distorcida e inexatamente informada".
Os advogados afirmaram ainda
que o STF concedeu liminar recentemente para sustar o afastamento do prefeito de Ubatuba
(SP) e outros agentes públicos até
o julgamento de recurso especial.
Para eles, trata-se de caso ""quase
idêntico" ao de Pitta. A liminar foi
concedida no início do mês pelo
ministro Franciulli Neto.
""A decisão se aplica como uma
luva ao caso em julgamento", defenderam os advogados de Pitta,
insistindo em que a manutenção
do prefeito no cargo não será obstáculo às investigações. A saída do
cliente da prefeitura causaria ""danos irreparáveis", alegaram.
Notificação
Pitta não foi notificado oficialmente de seu afastamento do cargo por decisão judicial. De acordo
com a sua assessoria de imprensa,
Pitta deixou a prefeitura às 18h15.
O oficial de Justiça encarregado
de entregar a notificação, Antunes Dantas, chegou à prefeitura às
18h07. Saiu às 18h20 depois de ter
sido informado que o prefeito já
não estava no prédio.
O secretário municipal de Comunicação Social, Antenor Braido, negou que Pitta estivesse tentando escapar do oficial de Justiça. "O prefeito cumpriu a sua
agenda normalmente até as 18h e,
depois disso, deixou a prefeitura".
Jornalistas permaneceram no
portão principal da prefeitura
desde as 16h. Não viram Pitta sair.
Às 19h, o carro oficial do prefeito
permanecia no pátio.
O procurador de Justiça Airton
Florentino de Barros, responsável
pelo recurso que levou à decisão
do TJ-SP, protocolou requerimento ao tribunal solicitando o
afastamento imediato de Pitta.
Colaborou a Reportagem Local
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