São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2000


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PITTAGATE
Encontro fechado do prefeito com representantes dos supermercados Wal-Mart discutiu projeto que interessava ao empresário
Yunes esteve em reunião de Pitta em 98

DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Jorge Yunes, que não ocupa nenhum cargo na Prefeitura de São Paulo, acompanhou uma reunião fechada do prefeito Celso Pitta (PTN) com representantes da rede de supermercados Wal-Mart, que teria interesse em um projeto de lei de autoria de Pitta.
Na ação que levou a Justiça a decidir, ontem, pelo afastamento do prefeito, Yunes é citado como o suposto beneficiário no projeto de lei que estava sendo discutido nesta reunião por Pitta e pelos representantes da Wal-Mart.
A presença de Yunes, na reunião fechada no Palácio das Indústrias, no final de 1998, só foi confirmada pela assessoria de imprensa da Wal-Mart na semana passada.
"A informação é importante porque revela uma conexão entre Yunes e Pitta. Por que o empresário, que não trabalha na prefeitura, participou dessa reunião?", questiona o procurador de Justiça Airton Florentino de Barros.
Yunes confirmou à Folha, em entrevista gravada, que realmente esteve na prefeitura naquele dia, porém, ele diz não ter acompanhado toda a reunião.
A assessoria de Pitta, entretanto, diz que não pode confirmar a informação, já que o nome do empresário não consta no livro de registros do Palácio das Indústrias.

Zoneamento
A Wal-Mart informou que o motivo da reunião era consultar a possibilidade de mudança do zoneamento de uma área do Parque Vila Maria 3, onde a legislação municipal não permite a construção de lojas de grande porte.
Zoneamento é a divisão urbana que define as atividades comerciais permitidas em cada região.
A mesma alteração interessava a Yunes, que possui na região um depósito da editora Ibep, especializada em livros pedagógicos.
Apesar de o imóvel dele estar fora da área do projeto, o empresário tinha interesse em transferir a sede de sua editora, que funciona no Brás, para o mesmo terreno que interessava à Wal-Mart.
A intenção do empresário foi confirmada, em conversas gravadas, por funcionários de sua editora que disseram que a transferência era "quase certa".
A construção da loja Wal-Mart ou a transferência da Ibep só poderiam ocorrer com a aprovação do projeto de lei, de autoria de Pitta, que amplia as possibilidades de uso daquela área.
Segundo o projeto do prefeito, onde hoje só seria possível construir galpões ou garagens de empresas de ônibus serão permitidos shoppings, supermercados ou editoras de livros.

Contradições
Desde a publicação de reportagem sobre o caso na Folha, em abril de 1999, a prefeitura, a Wal-Mart e o empresário passaram várias informações desencontradas.
Na época, a Wal-Mart informou que a intenção era comprar o terreno, o que só seria possível com a mudança do zoneamento.
Agora, a empresa informa que nunca teve interesse pela compra, mas sim pela locação do terreno. "Fizemos uma consulta na prefeitura, como é comum. O interesse não era específico por aquele terreno. Tanto é que, como não houve a mudança do zoneamento, procuramos outro local", diz o assessor de imprensa Paulo Kus.
Outro desencontro de informação refere-se ao número de empregados da futura loja. Pitta e Yunes haviam afirmado que a empresa geraria mil empregos. A mesma informação havia sido prestada pela assessoria da Wal-Mart em fax enviado à reportagem em 29 de abril de 1999.
A Folha apurou que uma loja da Wal-Mart emprega em média 500 pessoas. A Wal-Mart informou que nos "mil empregos" citados naquele fax estão os funcionários previstos para a construção da loja. (LILIAN CHRISTOFOLETTI)


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