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PITTAGATE
Encontro fechado do prefeito com representantes dos supermercados Wal-Mart discutiu projeto que interessava ao empresário
Yunes esteve em reunião de Pitta em 98
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Jorge Yunes, que
não ocupa nenhum cargo na Prefeitura de São Paulo, acompanhou uma reunião fechada do
prefeito Celso Pitta (PTN) com representantes da rede de supermercados Wal-Mart, que teria interesse em um projeto de lei de
autoria de Pitta.
Na ação que levou a Justiça a decidir, ontem, pelo afastamento do
prefeito, Yunes é citado como o
suposto beneficiário no projeto
de lei que estava sendo discutido
nesta reunião por Pitta e pelos representantes da Wal-Mart.
A presença de Yunes, na reunião fechada no Palácio das Indústrias, no final de 1998, só foi
confirmada pela assessoria de imprensa da Wal-Mart na semana
passada.
"A informação é importante
porque revela uma conexão entre
Yunes e Pitta. Por que o empresário, que não trabalha na prefeitura, participou dessa reunião?",
questiona o procurador de Justiça
Airton Florentino de Barros.
Yunes confirmou à Folha, em
entrevista gravada, que realmente
esteve na prefeitura naquele dia,
porém, ele diz não ter acompanhado toda a reunião.
A assessoria de Pitta, entretanto,
diz que não pode confirmar a informação, já que o nome do empresário não consta no livro de registros do Palácio das Indústrias.
Zoneamento
A Wal-Mart informou que o
motivo da reunião era consultar a
possibilidade de mudança do zoneamento de uma área do Parque
Vila Maria 3, onde a legislação
municipal não permite a construção de lojas de grande porte.
Zoneamento é a divisão urbana
que define as atividades comerciais permitidas em cada região.
A mesma alteração interessava
a Yunes, que possui na região um
depósito da editora Ibep, especializada em livros pedagógicos.
Apesar de o imóvel dele estar fora da área do projeto, o empresário tinha interesse em transferir a
sede de sua editora, que funciona
no Brás, para o mesmo terreno
que interessava à Wal-Mart.
A intenção do empresário foi
confirmada, em conversas gravadas, por funcionários de sua editora que disseram que a transferência era "quase certa".
A construção da loja Wal-Mart
ou a transferência da Ibep só poderiam ocorrer com a aprovação
do projeto de lei, de autoria de Pitta, que amplia as possibilidades
de uso daquela área.
Segundo o projeto do prefeito,
onde hoje só seria possível construir galpões ou garagens de empresas de ônibus serão permitidos
shoppings, supermercados ou
editoras de livros.
Contradições
Desde a publicação de reportagem sobre o caso na Folha, em
abril de 1999, a prefeitura, a Wal-Mart e o empresário passaram várias informações desencontradas.
Na época, a Wal-Mart informou
que a intenção era comprar o terreno, o que só seria possível com a
mudança do zoneamento.
Agora, a empresa informa que
nunca teve interesse pela compra,
mas sim pela locação do terreno.
"Fizemos uma consulta na prefeitura, como é comum. O interesse
não era específico por aquele terreno. Tanto é que, como não houve a mudança do zoneamento,
procuramos outro local", diz o assessor de imprensa Paulo Kus.
Outro desencontro de informação refere-se ao número de empregados da futura loja. Pitta e
Yunes haviam afirmado que a
empresa geraria mil empregos. A
mesma informação havia sido
prestada pela assessoria da Wal-Mart em fax enviado à reportagem em 29 de abril de 1999.
A Folha apurou que uma loja da
Wal-Mart emprega em média 500
pessoas. A Wal-Mart informou
que nos "mil empregos" citados
naquele fax estão os funcionários
previstos para a construção da loja.
(LILIAN CHRISTOFOLETTI)
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