São Paulo, sábado, 26 de maio de 2007

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Renan agora é questionado por sua relação com lobista

Funcionário de empreiteira fazia pagamentos de despesas pessoais do senador

Presidente do Congresso nega ter recebido recurso ilícito e afirma que era dele próprio o dinheiro entregue à mãe de uma filha sua


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior, fazia pagamentos de despesas pessoais para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O senador diz que o dinheiro era dele próprio.
O gasto de R$ 16,5 mil mensais, segundo reportagem da revista "Veja", era uma ajuda financeira para uma filha do senador, de três anos, e o aluguel do apartamento onde a menina mora com a mãe. O pagamento teria sido feito de janeiro de 2004 até dezembro passado.
Renan reconheceu a paternidade de Maria Catharina Freitas Vasconcellos Calheiros, filha da jornalista Mônica Veloso, há alguns meses. Eles discutem na Justiça o valor da pensão em um processo que tramita em sigilo. Ontem pela manhã, Renan, Mônica e Gontijo ficaram cara-a-cara, por cerca de três horas, em audiência na 4ª Vara de Família de Brasília. O lobista foi arrolado como testemunha da jornalista.
O presidente do Senado entrou pela garagem privativa e não deu declarações. Em nota divulgada no final da tarde por sua assessoria, afirmou: "Nunca recebi qualquer recurso ilícito ou clandestino de qualquer empresa ou empresário". Disse ainda: "Jamais tive qualquer despesa ou gasto pessoal ou de meus familiares custeados por terceiros. Meus compromissos sempre foram honrados com meus próprios recursos".
Nos últimos três anos, segundo a revista, o lobista pagou R$ 12 mil de ajuda financeira a Mônica além de R$ 4.500 pelo aluguel do imóvel onde mora a jornalista. Ela receberia o dinheiro em um envelope, deixado no escritório da Mendes Júnior, com o nome de Gontijo. O salário bruto de Renan no Senado é R$ 12.720.
O lobista também seria o fiador do contrato de aluguel do apartamento de Mônica. Gontijo confirmou à revista que entregava o dinheiro, mas teria dito que os recursos não eram dele nem da empreiteira. Ele não foi localizado pela Folha.
A pedido de Renan, a audiência ontem foi transferida da sala de audiências da 4ª Vara de Família, no segundo andar do fórum de Brasília, para o 8º andar para despistar a imprensa. O corredor onde ocorria a audiência foi isolado. O senador saiu sem falar com a imprensa.
Mônica também não quis dar declarações. Seu advogado, Pedro Calmon, alegou segredo de Justiça. O mesmo argumento foi utilizado pela outra parte. "Tenho uma procuração para defendê-lo, não para falar por ele. O processo está em segredo de Justiça e é crime violá-lo", disse Paulo Baeta, que é um dos advogados de Renan no caso.
A assessoria do senador, que é casado, trata o assunto como uma questão de sua vida privada. A Folha apurou que ele recebeu ontem um telefonema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em solidariedade.
Nesta semana, Renan foi questionado também sobre sua relação com outra empreiteira, a Gautama, acusada de fraudes em obras públicas e investigada pela Polícia Federal. O senador já disse que conhece Zuleido Veras, dono da Gautama, há 30 anos e admitiu que trabalhou para liberar recursos para obras da construtora. Mas ele afirma que não tinha conhecimento de irregularidades.


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