São Paulo, Quarta-feira, 26 de Maio de 1999
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Defesa do presidente é articulada com rapidez

da Sucursal de Brasília

Os partidos aliados ao governo no Congresso assumiram ontem a defesa do presidente Fernando Henrique Cardoso, numa reação rápida e afinada à divulgação pela Folha do conteúdo de conversas grampeadas durante a privatização do Sistema Telebrás.
Líderes do PFL, do PMDB e do PSDB se revezaram em discursos de solidariedade a FHC. A ofensiva tem como objetivo fazer com que o assunto se esgote em poucos dias, sem desdobramentos mais graves para o governo.
Os dirigentes dos partidos governistas condenaram a proposta de impeachment de FHC e criticaram a oposição, a quem acusam de tentar desestabilizar o governo no momento em que a economia está se recuperando.
A reação só não foi uniforme no que diz respeito ao comportamento dos personagens que conduziram a venda das companhias telefônicas. Alguns parlamentares da base governista chegaram a assinar o requerimento de abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar irregularidades na privatização. Até o final do dia, a oposição não divulgava quantas e quais pessoas haviam assinado o requerimento.
Na avaliação do governo, a comissão tem poucas chances de ir adiante. Os presidentes da Câmara e do Senado, Michel Temer (PMDB-SP) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), criticaram a idéia. ACM chegou a afirmar que a criação de uma CPI para investigar as as privatizações "não terá êxito".

""Traque"
A reação governista foi comandada pelo próprio FHC. Seus interlocutores durante o dia demostraram irritação com o episódio. O presidente se reuniu duas vezes com o ministro das Comunicações e articulador político do governo, Pimenta da Veiga.
Nas primeiras horas da manhã, FHC também conversou por telefone com ACM. Partiu dele uma das defesas mais radicais no caso: "Não há nada que incrimine o presidente", afirmou o senador. "O que o presidente fez foi mostrar interesse em que houvesse concorrência no leilão", disse.
Para ACM, as conversas em torno da privatização da Telebrás "são coisas do passado". Ele considerou o assunto "requentado".
Sobre as suspeitas de que o envolvimento de FHC poderia ser a "bomba atômica" que a equipe econômica teria usado na montagem dos consórcios que participaram do negócio (expressão citada em conversas telefônicas anteriormente divulgadas entre autoridades envolvidas na privatização), ACM respondeu: "Isso não é bomba atômica nenhuma. Isso é um traque". Ele classificou de "idiota" a proposta de abertura de processo de impeachment contra FHC.

""Atestado de idoneidade"
Os argumentos e as palavras de defesa dos governistas se repetiram durante o dia. Em resumo, os líderes aliados ao Planalto insistem em que não há nenhuma novidade nas conversas publicadas pela Folha e sustentam que a política do governo durante o processo de privatização da Telebrás era obter o preço mais alto no negócio.
O principal argumento na defesa do presidente continua sendo o resultado do leilão realizado no ano passado e a derrota do consórcio formado pelo grupo Opportunity na privatização das empresas reunidas na holding Tele Norte Leste. Venceu o consórcio Telemar, que não contava com a simpatia dos comandantes do processo.
Segundo os principais líderes e dirigentes dos partidos governistas, as conversas transcritas ontem só demonstram a preocupação de FHC com o sucesso do leilão.
""A republicação confirma e aprofunda o atestado de idoneidade aos que conduziram o processo de privatização do Sistema Telebrás, que buscavam e conseguiram valorizar o patrimônio público e garantir a qualidade dos serviços a serem prestados à população", afirma nota divulgada pela executiva nacional do PSDB, da qual faz parte o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Como a nota oficial do Palácio do Planalto, a nota tucana também classifica a divulgação das fitas de ""sensacionalista e irresponsável".
"O presidente não cometeu nenhuma irregularidade. Ele estava apenas torcendo e colaborando para o sucesso da privatização", disse o novo líder do governo no Senado e presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), senador Fernando Bezerra (PMDB-RN).
Ele subiu à tribuna para dizer que a honra do presidente ""está preservada". O senador avaliou que a divulgação das novas fitas provoca "receio" no setor produtivo de desestabilização do país. "O sentimento dos industriais brasileiros é de que isso venha a trazer mais incertezas", afirmou.

""Incompetentes"
Num dos detalhes destoantes do discurso governista, o presidente do PMDB, senador Jader Barbalho (PA), acusou os integrantes da equipe que comandou a privatização do Sistema Telebrás de "envolverem" o presidente em conversas sobre atos irregulares.
Barbalho chamou esses personagens de "incompetentes" por não terem desqualificado previamente o grupo que julgavam ""aventureiro" -o consórcio Telemar, que acabou vitorioso.
""Acho que o presidente foi levado por essa gente a um gesto intuitivo (ao permitir o uso do seu nome para que a Previ participasse do consórcio) pelo empenho em ver o sucesso do leilão", disse. ""Eles levaram o presidente a acreditar que o setor de telefonia poderia cair nas mãos de um grupo incapaz de gerenciar o setor."
O presidente nacional do PMDB disse que as conversas divulgadas ontem mostram que FHC estava "engajado" no sucesso do leilão.


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