São Paulo, domingo, 26 de junho de 2005

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PERFIL

Militância política teve início aos 19 anos

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dilma Vana Rousseff é filha de uma família de classe média alta de Belo Horizonte. Seu pai, falecido quando ela tinha 14 anos, era advogado e construtor búlgaro naturalizado. Sua mãe, uma professora de Friburgo (RJ), criada em Uberaba (MG). É "coruja" assumida, foi corajosa e solidariamente ativa no período em que a filha esteve na prisão.
A ministra do governo Lula entrou na militância organizada de esquerda nos idos de 1967, na organização Política Operária (Polop). Tinha 19 anos e era estudante universitária de economia.
Casou-se, em setembro daquele ano, com o também militante e jornalista Cláudio Galeno Linhares. Os dois logo estariam na dissidência que queria a luta armada contra a ditadura. Era a O...("O pontinho") para os militantes, ou OPM (Organização Político-Militar) para a repressão.
Começou a correr riscos quando parte de seus companheiros foi presa, na capital mineira, em janeiro de 1969, depois que a polícia invadiu um aparelho clandestino, feriu militantes e teve a baixa de dois policiais mortos. Dilma e o marido não estavam presentes, mas seus nomes foram ventilados em depoimentos de presos obtidos sob tortura. Com a cara a prêmio, e a ditadura na sua caça, o casal fugiu para o Rio de Janeiro e entrou na clandestinidade, radicalizando a militância. A "O pontinho" já era o Comando de Libertação Nacional (Colina).
O Inquérito Policial Militar desse primeiro processo a que respondeu, revel, foi comandado, em Belo Horizonte, pelo coronel do Exército Octávio Aguiar de Medeiros, então comandante do CPOR da 4ª Região Militar e mais tarde chefe do SNI dos governos Figueiredo e Geisel (interino).
No relatório do IPM, Medeiros acusou Dilma, ou "Estela", um de seus codinomes, de integrar "a Organização clandestina e revolucionária de cunho marxista-leninista denominada OPM, cujos objetivos são a implantação da guerrilha e da luta armada no país, a derrubada do governo e a implantação de regime socialista de fundo marxista-leninista".

VAR-Palmares
Em junho de 1969, o Colina e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) fundiram-se na VAR-Palmares. Dilma estava na reunião de fundação, realizada clandestinamente em Mongaguá, no litoral de São Paulo. Três meses depois, a nova organização rachou, em um encontro tumultuado realizado em Teresópolis (RJ).
A estrela mais vermelha da reunião era o capitão Carlos Lamarca [assassinado em 1971], que ali refundou a VPR, retirando-se da VAR com um grupo expressivo. Dilma ficou na VAR e desempenhou um papel importante para evitar uma debandada maior. O dinheiro do cofre do ex-governador Adhemar de Barros e as armas "expropriadas" foram divididos entre as duas organizações.
O casamento acabou no segundo semestre de 1969. Linhares exilou-se, no primeiro dia de janeiro de 70, nas asas de um seqüestro de avião bem sucedido que o levou a Cuba. Dilma não participou do seqüestro, mesmo tendo aprovado a sua execução, porque tinha responsabilidades internas e não foi designada para a tarefa. Foi presa 15 dias depois. Ela e Linhares são amigos até hoje. A ministra foi companheira do advogado trabalhista Carlos Franklin Paixão de Araújo, então dirigente da VAR, igualmente preso e torturado, mais tarde deputado. Têm uma filha. Estão separados, mas são amigos. (LMC)


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