|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CAMPO MINADO
D. Tomás acusa governo de ter postura que "reforça" latifúndio e aponta impunidade como 1 dos fatores do aumento
Morte em conflito agrário cresceu 40%, diz Pastoral
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O número de mortes no campo
por conflitos relacionados à terra
aumentou 40% no ano passado
em relação a 2000. A quantidade
de trabalhadores encontrados em
regime semelhante à escravidão
cresceu 519%. Os dados fazem
parte de relatório anual, divulgado ontem pela Comissão Pastoral
da Terra (CPT), que até 1999 integrava as estatísticas governamentais sobre reforma agrária.
O Incra não reconhece os dados
da CPT desde 2000. O Ministério
do Desenvolvimento Agrário
mantém a Ouvidoria Agrária, responsável pelo mapeamento da
violência rural. Segundo o órgão,
em 2000 ocorreram dez mortes (e
não 21) e em 2001, 14 (e não 29).
"O mesmo governo que deflaciona os conflitos inflaciona os assentamentos", diz dom Tomás
Balduíno, presidente da CPT. A
Folha revelou a "inflação" do número de assentados em junho.
D. Tomás disse que o governo
adota postura de "reforçar" o latifúndio, o que elevaria a violência.
Outro fator apontado é a impunidade: um exemplo seria o julgamento de Eldorado do Carajás,
em que apenas dois dos 146 policiais julgados pelo massacre ocorrido em 96 no Pará foram condenados -e apelam em liberdade.
Segundo a CPT, nos últimos oito anos 296 pessoas foram assassinadas em conflitos no campo.
D. Tomás atribui o aumento do
número de conflitos à "judicialização" do assunto pelo governo.
Para ele, a medida provisória de
2000 que proibiu, por dois anos,
vistoria para desapropriação em
fazendas invadidas e autorizou a
suspensão de créditos para entidades que apoiem invasões agravou o problema.
O relatório mostra aumento do
número de pessoas encontradas
em regime semelhante à escravidão. Em 2000, fazendas visitadas
por agentes da CPT identificaram
465 pessoas nessas condições. Em
2001, foram encontradas 2.416.
A assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho informou
que houve 1.433 trabalhadores "libertados" em 2001 e 764 em 2002.
Entre os Estados, o que mais
tem problemas na questão agrária
é o Pará. No ranking de mortes relacionadas a conflitos no campo,
ele vem em primeiro com oito casos, seguido por Mato Grosso
(quatro), Pernambuco (quatro) e
Mato Grosso do Sul (três).
Sucessão
Questionado, o presidente da
CPT disse ser simpático à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), porque sua proposta para a
reforma agrária prioriza o indivíduo. "Cansei de ver reformas feitas por tecnocratas, por generais."
Texto Anterior: "Com o tempo, a pele vira couro", diz presidente ao defender o Sivam Próximo Texto: Outro Lado: Secretário não reconhece números da CPT Índice
|