São Paulo, terça, 26 de agosto de 1997.



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INVESTIGAÇÃO
Superintendência no AM vai abrir inquérito
Polícia Federal vai apurar assassinato

ESTANISLAU MARIA
da Agência Folha, em Belém

A Superintendência da Polícia Federal no Amazonas vai abrir inquérito para investigar a morte do funcionário da Funai Raimundo Batista Magalhães, 42, na reserva Vale do Javari, oeste do Amazonas, próximo à fronteira com o Peru.
O funcionário foi morto a pauladas pelos índios corubos na última sexta-feira.
A informação foi dada ontem pelo diretor do Departamento de Índios Isolados da Funai, Sydney Possuelo, 57, por telefone, de Tabatinga (AM).
Possuelo afirmou também que fará "uma série de reformulações" no posto que, para evitar ataques, funciona em dois barcos no meio do rio Ituí na área indígena, a cerca de 140 quilômetros de Tabatinga (1.100 km a oeste de Manaus).
"Precisamos de materiais e homens adequados. Vamos equipar o posto e fazer algumas trocas no pessoal", disse Possuelo, evitando entrar em detalhes.
Na última sexta-feira, os corubos atacaram quatro funcionários da Funai que faziam um novo contato na margem do rio.
Magalhães foi morto com pancadas na cabeça. Os outros três conseguiram escapar no barco.
Reação
Para a Funai, a causa do ataque seria uma reação a brigas, disputas e conflitos acumulados nos últimos anos.
"Esses índios vêm sendo assassinados, massacrados, explorados, roubados pelos brancos há anos", disse Possuelo.
Na região, há ribeirinhos que extraem madeira, caçam, invadem a área indígena. Segundo Possuelo, "já ocorreram dezenas de mortes dos dois lados."
No posto trabalhavam dez funcionários. Apenas Magalhães e mais dois eram efetivos. Os outros são contratados temporários. Três estão afastados, doentes de malária.
Magalhães era auxiliar de sertanista da Fundação Nacional do Índio e trabalhava havia 17 anos com índios isolados (com pouco ou nenhum contato com o branco).
Os corubos não usam arco e flecha, mas são agressivos e conhecidos como "caceteiros" por atacarem com uma espécie de porrete de madeira.
Outras mortes
Desde 1972, a Funai tentava contato com eles. O primeiro foi feito apenas no ano passado. Nesses 25 anos, os índios mataram oito funcionários da fundação e um da Petrobrás.
Nos últimos dez meses, os corubos fizeram quase 30 contatos com a Funai, sem incidentes.
"Não digo que eles fingiam estar pacificados, mas a violência é uma reação esperada. Nenhum funcionário portava uma espingarda na sexta-feira. Isso intimidaria", disse Possuelo.



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