São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 2000

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Novo laudo de Carajás não muda tese da defesa, diz advogado de PMs

LUÍS INDRIUNAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O novo laudo sobre o massacre de Eldorado do Carajás não muda as teses da defesa dos policiais militares, segundo seus advogados.
"É irrelevante saber quem atirou primeiro", disse o advogado Américo Leal, que defende o coronel Mário Colares Pantoja, ex-comandante da tropa de Marabá.
O laudo, assinado por técnicos do Laboratório de Fonética Forense e Processamento de Imagens da Unicamp (Universidade de Campinas), conclui que os policiais atiraram primeiro.

Fumaça
Durante o julgamento dos três principais comandantes das tropas, o jurado Sílvio Queiroz Mendonça questionou a versão do Ministério Público de que a PM havia atirado primeiro, mostrando nas imagens uma fumaça saindo do lado dos sem-terra.
Os técnicos conseguiram captar uma fumaça do lado dos policiais militares aparecendo antes do primeiro tiro dos sem-terra.
O novo exame, feito com equipamentos que não existiam na época, identifica também o corpo do sem-terra Amâncio Rodrigues, caído do lado dos policiais militares.
Para Leal, Rodrigues caiu do caminhão. Assim, a defesa vai insistir nas teses de negativa de autoria, legítima defesa e estrito cumprimento do dever.
Para os advogados dos policiais militares, é impossível provar quais dos 150 policiais militares deram os 35 tiros que mataram os 19 sem-terra.
Em 17 de abril de 1996, 19 sem-terra foram mortos e 69 pessoas ficaram feridas durante um confronto com policiais militares na desobstrução da rodovia PA-150, na curva do "S", em Eldorado do Carajás (PA).
"Quem vai ter coragem de condenar 150 policiais, sendo que a maioria é inocente?", disse o advogado Luiz Alberto Abdoral Lopes, que defende cinco oficiais e 19 sargentos e subtenentes envolvidos no caso.
Leal disse ainda que, se for preciso, vai solicitar novos exames ao laboratório da Unicamp. "Mas para mim, continua claro que eles provocaram aquilo tudo."

Prova contundente
Para o Ministério Público, o laudo é uma "prova contundente" de quem iniciou o massacre. "Ele comprova o que já sabíamos: Amâncio, que era surdo-mudo, foi o primeiro a ser massacrado", disse o promotor Marco Aurélio do Nascimento.
O Ministério Público já decidiu que irá arrolar como testemunha o coordenador do laboratório da Unicamp, Ricardo Molina, para o próximo julgamento.
O processo está atualmente parado à espera do julgamento dos recursos da defesa.
Nascimento pretende incluir nos testemunhos o da sem-terra Maria Abadia Barbosa, que aparece ao lado do corpo do sem-terra morto.
O promotor havia pedido a identificação da sem-terra, que testemunhou a morte de Rodrigues. Ela ficou com uma bala alojada na perna esquerda.
O laudo considerou que Maria Abadia aparece nas imagens,"com alto grau de probabilidade".


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