São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COLÔMBIA
Fiscalização da divisa é reforçada, com custo de R$ 10,4 milhões e a participação de 180 agentes federais
Operação Cobra, da PF, começa na fronteira

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A TABATINGA

Começa amanhã a megaoperação de fiscalização da fronteira do Brasil com a Colômbia organizada pela Polícia Federal para tentar impedir que o país sofra os efeitos do plano de combate ao narcotráfico e à guerrilha do país vizinho.
A ação brasileira foi batizada de Operação Cobra (em referência às sílabas iniciais de Colômbia e Brasil), mobilizará 180 agentes da Polícia Federal de diversos Estados e está prevista para durar três anos. O custo da operação está estimado em R$ 10,4 milhões.
A Operação Cobra será lançada oficialmente pelo ministro da Justiça, José Gregori, e pelo diretor-geral da Polícia Federal, Agílio Monteiro Filho. Os dois chegam amanhã, às 9h, a Tabatinga (na fronteira com a Colômbia) e visitam a base de policiamento da PF no rio Solimões (base Anzol) e uma comunidade ribeirinha nas proximidades da base.
O governo brasileiro resolveu se antecipar na defesa de sua fronteira. A Polícia Federal acredita que o Plano Colômbia só será deslanchado de fato no ano que vem, em razão da eleição presidencial nos Estados Unidos, que deve retardar a ajuda financeira norte-americana ao governo colombiano.
A principal preocupação do governo brasileiro ao reforçar o policiamento na fronteira é impedir a imigração de lideranças do narcotráfico e da guerrilha colombianas para a Amazônia Brasileira.
O Plano Colômbia prevê a erradicação de 50 mil hectares de plantio de coca na região do rio Putumaio, onde cerca de 13 mil famílias camponesas dependem dessa atividade. Informações em poder da Polícia Federal dão conta ainda de que pelo menos 8.000 guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), além de organizações paramilitares, vivem naquela área e também estariam envolvidos com o narcotráfico.
Outra preocupação do governo, já manifestada pelo Ministério da Defesa, é com a possibilidade de utilização de fungos para a destruição dos plantios de coca que poderiam levar à contaminação dos rios da Amazônia.
O delegado Mauro Spósito, chefe da Unidade de Projetos Especiais da Polícia Federal do Amazonas e coordenador da Operação Cobra, diz que serão feitas coletas diárias de amostras de água do rio Içá (continuação do Putumaio em território brasileiro) e do Solimões. As amostras serão analisadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus.
Há receio também de imigração clandestina em massa de camponeses e de confrontos com a população indígena e com as pequenas comunidades ribeirinhas do rio Içá.
A Polícia Federal guarda sigilo sobre a logística da Operação Cobra, mas já se sabe que ela envolverá bases fixas de policiamento em Tabatinga, Belém do Solimões, Ipiranga, Bitencourt, São Gabriel da Cachoeira, Iuaretê e Cucuí.
Em Tabatinga, funcionará um grupo de gerenciamento de crise, com representantes da FAB (Força Aérea Brasileira), Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Ministério das Relações Exteriores, Exército, Marinha e Ministério da Justiça.
Dois aviões, um helicóptero, 15 embarcações, seis motocicletas e quatro caminhonetes constituem a infra-estrutura de transporte inicialmente planejada para a operação.
Na Operação Cobra, segundo o delegado Mauro Spósito, estão previstas 20 tipos de tarefas, como o controle do tráfego de produtos químicos, do fluxo de estrangeiros, repressão do contrabando de arma, identificação de pistas de pouso clandestinas e até repressão do trabalho escravo.


Texto Anterior: Janio de Freitas: O país dos maus papéis
Próximo Texto: Folha Eleições 2000
Reta final: Ministros trocam Brasília por campanha

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.