São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FOLCLORE POLÍTICO

Alkminianas

RONALDO COSTA COUTO

José Maria Alkmin (1901-74), referência do folclore político nacional, raposa ágil e manhosa do pragmático PSD mineiro. Secretário estadual, deputado, ministro da Fazenda de JK, vice-presidente da República de Castello Branco e, orgulho maior, provedor da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte.
Do tempo em que os políticos cuidavam principalmente de política, ele é quase sinônimo de matreirice, sagacidade, astúcia. Gentil, espirituoso, humor à primeira vista. Inteligência afiada, de repentista. Como no conhecido diálogo com o filho de velho eleitor. Alkmin: "Lembranças pro seu pai!". "Meu pai já morreu, doutor Alkmin". "Morreu pra você, filho ingrato! Continua bem vivo no meu coração."
É de uma geração de penhascos políticos mineiros: o amigo de infância JK, Tancredo Neves, Milton Campos, Pedro Aleixo, Magalhães Pinto, Israel Pinheiro e outros. Poucos sabem que era primo dos santos Henfil e Betinho e marido de uma prima de JK, a também santa Das Dores. Milagres de Minas.

Honra ao mérito
Belo Horizonte, Praça da Liberdade, meados dos anos 50. Depois de muito tempo sem vê-la, Alkmin dá de cara com Lia Salgado, mulher do vice-governador Clóvis Salgado. Derrete-se: "Há quanto tempo, Lia! Como você está jovem, bonita!". "Que nada, doutor Alkmin. Acabo de ser avó." "Sim, mas avó por mérito, não por antiguidade."

Alto nível
Belo Horizonte, final dos anos 20. O jovem telegrafista José Maria Alkmin estuda advocacia. Muito brilho, pouca sombra: franzino, metro e 60 ou menos. Certo dia, JK o apresenta a uma garota linda, alta, fôrma e formas perfeitas. Brota doida paixão. Dá sutilmente em cima, ela fecha a guarda. Insiste. Agrada, elogia, presenteia, suspira, geme, carrega água na peneira. Nada, a comprida não cede. Então escancara o jogo, propõe namoro. Ela: "Vê se te enxerga, Zé Maria! Cresça e apareça!". Ele: "Crescer eu não garanto, não."

Cobrança
Brasil, regime militar, final dos anos 60. Radicais e simpatizantes falam em constitucionalizar o peçonhento AI-5. Alkmin: "Nunca vi passarinho engolir cobra".


RONALDO COSTA COUTO, 59, escritor, doutor em história pela Sorbonne, escreve às quintas-feiras nesta coluna



Texto Anterior: Cardápio de Campanha
Próximo Texto: Entrevista: Lula está longe de ser estadista, diz Ermírio
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.