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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CÂMARA NO ESCURO
Acordo para unificar "centrão" é discutido com Ciro Nogueira, Luiz Antônio Fleury e João Caldas
Temer e baixo clero tentam definir candidatura única
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma candidatura única dos que
se situam entre o governo e a oposição, com forte apoio no estratégico "baixo clero" da Câmara, está sendo articulada por quatro
dos postulantes à presidência da
Casa. Até terça, Ciro Nogueira
(PP-PI), Luiz Antônio Fleury
(PTB-SP), João Caldas (PL-AL) e
Michel Temer (PMDB-SP) esperam fechar um acordo para uma
candidatura que consideram "imbatível". Seriam uma opção ao
oposicionista José Thomaz Nonô
(PFL-AL) e ao candidato do governo, Aldo Rebelo (PC do B-SP).
Francisco Dornelles (PP-RJ),
outro pré-candidato, poderia
unir-se ao grupo. No papel, os
quatro partidos somam 231 deputados, mas admite-se que pelo
menos 40 peemedebistas devem
apoiar o governista Aldo Rebelo.
Para se eleger, o candidato precisa
ter mais da metade dos votos válidos dos presentes, com um quórum mínimo de 257 deputados.
Hoje, os nomes mais fortes para
o acordo são os de Ciro, herdeiro
do espólio de Severino Cavalcanti
(PP-PE), e Temer. O peemedebista, no entanto, insiste em um
acordo que contemple sua própria candidatura.
Oficialmente, todos juram que
seguem até o fim. Mas já passam a
admitir um entendimento. Ciro e
Caldas, ambos da atual Mesa Diretora, têm trânsito fácil em vários partidos e são pupilos de Severino. Os dois têm um entendimento de apoio mútuo ainda antes do primeiro turno, segundo a
Folha apurou. Ontem juntou-se a
eles Fleury, que conversou longamente com o candidato do PP. Ficaram de se encontrar novamente
na terça para uma avaliação final.
Caldas diz que pode apoiar outro nome para efetivar um acordo. "Quem tiver mais apoio recebe o apoio dos outros."
O raciocínio do chamado "novo
centrão" é simples. Unidos, estariam assegurados no segundo
turno e poderiam ampliar a base
de apoio no segundo.
"O presidente da Câmara, em
razão do momento político que
vivemos, deve ser um nome neutro, nem vinculado ao governo,
nem à oposição", afirma Ciro.
O acordo conseguiria a façanha
de reunir três partidos protagonistas da crise do "mensalão":
PTB, PP e PL -embora um dos
pivôs do escândalo, o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, tenha
afirmado que integrantes do PT,
PMDB e PC do B também receberam dinheiro de caixa dois.
O fato é que a imagem de "partido do mensalão" colou com mais
força em PTB, PP e PL. Há menos
de quatro meses, o então presidente nacional petebista, Roberto
Jefferson, acusou os demais de receber dinheiro por meio de um
esquema ilegal patrocinado pelo
governo. Jefferson já foi cassado.
O presidente do PL, Valdemar
Costa Neto, renunciou ao mandato para fugir de uma punição
maior. O líder do PP na Câmara,
José Janene (PR), e o presidente
do PP, Pedro Corrêa, estão ameaçados de cassação.
Janene não enxerga problemas
na imagem de sua sigla. Fala como se as desavenças com o PTB
nunca tivessem ocorrido. "O que
tem uma coisa a ver com a outra?", disse, com irritação, ao ser
questionado pela Folha.
Aldo ontem esteve reunido na
Câmara cabalando votos com os
líderes do PT, Henrique Fontana
(RS), e do PC do B, Renildo Calheiros (PE). "O balanço é otimista, se bem que o candidato é um
ser otimista por natureza."
Temer e Nonô
Os candidatos do PMDB e do
PFL já iniciaram negociações para
um acordo no segundo turno da
eleição. O primeiro passo foi dado
por Nonô, que ontem encontrou-se com Temer na presidência do
PMDB. O candidato pefelista
aposta no fato de já ter pertencido
ao PMDB e, sobretudo, por Temer estar magoado com presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Na semana passada, Renan afirmou assegurar
apoio a Temer para, horas depois,
tornar-se um dos principais defensores do nome de Aldo.
"Com o Nonô, eu tive a oportunidade de conversar sobre uma
possibilidade de apoio no segundo turno. Seja ele ou eu [o vitorioso], a Câmara estará bem representada", disse Temer.
Diferentemente do presidente
do PMDB, Nonô preferiu ser comedido sobre o acordo. "Ainda é
muito cedo para discutir o segundo turno, mas é claro que ele [Temer] pode me apoiar. Eu já fui vice-líder dele", disse.
Além de apostar na mágoa de
Temer e no descontentamento de
congressistas da base com o governo, Nonô deve explorar como
trunfo seu posto de primeiro vice-presidente. "Quem cobiça a vice
tem que ser meu eleitor. Só vai
existir a vaga se eu for eleito presidente da Câmara", disse.
O candidato pefelista adiantou
ontem que as negociações sobre o
cargo devem se dar depois do segundo turno. "E isso será feito em
comum acordo com todos os partidos que me apoiarem no primeiro turno", disse Nonô. Hoje
ele já tem fechados os apoios de
PSDB e PFL. Até terça-feira, espera conquistar a adesão de PPS,
PDT, PV e Prona.
(FÁBIO ZANINI, ADRIANO CEOLIN E FERNANDO RODRIGUES)
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