da Reportagem Local

O líder petista Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a decisão do partido no Rio de deixar o governo de Anthony Garotinho (PDT) e fez elogios ao pedetista.
"Se o partido decidiu sair do governo, eu acho que agiu de forma irresponsável. Desde o começo do governo Garotinho, eu tenho ponderado com o PT do Rio que era preciso negociar com o governador como partido político e não pessoalmente", declarou Lula durante manifestação na av. Paulista contra a privatização da Cesp-Tietê (Companhia Energética de São Paulo).
Na visão de Lula, esse relacionamento do PT com Garotinho permitiu que houvesse uma disputa entre duas correntes no partido: a que é a favor do governador e a que se posiciona contra ele, fato que o petista também criticou.
A "Articulação", tendência da vice-governadora do Rio, Benedita da Silva, e de Jorge Bittar, secretário de Planejamento, foi contra a saída do PT do governo durante a convenção estadual de anteontem. Já as correntes Refazendo, de esquerda, e Opção Popular, considerada de centro e integrada pelo deputado federal Carlos Santana, votaram a favor da entrega dos cargos ao governador.
"O Garotinho teve o apoio do PT nas eleições e nós vendemos a idéia para o povo do Rio de que ele era o melhor candidato. Na minha opinião, é e está fazendo um bom governo", elogiou Lula.
Ele aproveitou a ocasião para mandar um recado aos petistas do Rio. Disse que seu partido "tem de aprender que o Garotinho não pode ser um governador do PT, porque ele é do PDT".
Apesar do tom crítico em relação a seu partido, Lula também condenou as declarações do governador, que, na última sexta-feira, chamou o PT de "Partido da Boquinha" numa referência a suposto fisiologismo da legenda.
"Acho que o Garotinho, se disse aquilo, cometeu um grave erro. Se ele tem uma briga pessoal com alguém do PT, jamais pode generalizar a crítica até porque, no nível nacional, temos mantido uma relação saudável, democrática e respeitosa com o governo dele."
Lula admitiu que as divergências entre o PT e o governador do PDT, se continuarem, podem abalar a unidade da frente de esquerda, composta pelos dois partidos e por PC do B, PSB e PCB.
O presidente nacional do PT, deputado José Dirceu, disse que o melhor caminho agora para o partido no Rio é o diálogo. Ele considera um "erro" a saída do PT do governo e reconheceu que a situação no Estado é "difícil".
"Somos contra a saída do governo. Há uma crise, mas vamos fazer tudo para reverter esse quadro e estabelecer um entendimento com o governador e os partidos da frente", defendeu Dirceu.
Ele ressalvou, entretanto, que o governador precisa definir melhor qual sua pretensão na relação com os petistas. "Temos de saber o que o Garotinho quer. Não existe "PT do A" e "PT do B'", afirmou, referindo-se à recente declaração do governador dizendo que quando falava de "Partido da Boquinha" dirigia sua crítica a setores da legenda.
Ao contrário de Lula e José Dirceu, o secretário-geral do PT, deputado Arlindo Chinaglia (SP), atacou Garotinho. Para ele, o governador agiu de forma "desleal" e "antiética" ao acusar o partido de fisiologismo.
Os desentendimentos entre PT e PDT são mais um episódio da série de crises protagonizadas pelos petistas nos últimos meses.
O partido não conseguiu chegar a um consenso sobre o slogan "Fora FHC". Condenou o deputado Eduardo Jorge (SP) por ele ter se reunido com o governo para discutir seu projeto de Previdência. E os governadores foram proibidos pela legenda de participar da reunião com o presidente.
O líder do PT na Câmara, José Genoino (SP), reconhece que o partido está passando por uma "situação complicada" e que a frente de esquerda vive uma crise.
"O PT precisa definir melhor seu rumo. Espero que o 2º Congresso Nacional do partido, em novembro, defina uma direção política que evite esse vai-e-vem."
(PATRÍCIA ANDRADE)


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