São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

"Nenhum país soberano exporta o que falta na mesa do povo", diz petista, que voltou a defender protecionismo

Lula insiste em priorizar fome à exportação

António Gaudério/Folha Imagem
A vice-governadora do Rio, Benedita da Silva, e o presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva


ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO

Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT à Presidência da República, voltou a defender ontem que o Brasil restrinja suas exportações de gêneros agrícolas, enquanto houver pessoas passando fome no país. Também repetiu o elogio que fez, em visita recente à França, ao modelo europeu de proteção aos produtores rurais.
"Nenhum país soberano, nenhum país que respeita seu povo, exporta aquilo que falta na mesa do povo para comer", disse Lula, durante cerimônia de lançamento do projeto "Moradia", que propõe a resolução do déficit habitacional brasileiro em 15 anos, no Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) do Rio.
Anteontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a proposta de Lula era "inflacionária". Na terça, foi o ministro José Serra (Saúde), que quer disputar a Presidência pelo PSDB, quem criticou a idéia do petista.
Na Câmara, Serra disse que é um equívoco, uma falsa opção, contrapor a exportação ao mercado interno. "É um equívoco trivial. Quanto mais cresce exportação mais cresce a renda. Isso melhora os salários, aumenta a produção doméstica", disse Serra.
Ontem, Lula fez referências às críticas que recebeu do ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, que o acusou de atacar os interesses nacionais ao defender o modelo agrícola europeu.
O petista fez questão de esclarecer que é contra os subsídios da Europa à exportação de produtos agrícolas, mas que admira aquilo que classifica de valorização do papel "multifuncional" da agricultura, que não se limita a cálculos de produtividade econômica.
"Os europeus protegem a agricultura familiar com controle soberano de seus territórios, com a manutenção do homem na terra, criação de empregos agrícolas, respeitando suas tradições e o meio ambiente", disse Lula.
A soja foi o produto citado por ele como passível de ter a exportação controlada. Para ele, é necessário cuidar da "segurança alimentar" da população, garantindo que todos tenham o que comer, ao mesmo tempo em que se adotam políticas de incentivo para que haja crescimento da produção agrícola e das exportações.
"O que não pode continuar acontecendo é vermos crianças morrendo de fome, sem poder tomar um copo de leite de soja, enquanto a gente exporta soja para fazer ração para porcos na França e em outros países", disse Lula, diante de uma platéia de cerca de 300 pessoas.
Para estimular o crescimento da produção agrícola e da exportação, Lula disse que é necessário adotar um planejamento que preveja mais créditos para o setor, redução dos fretes para transporte e redução dos custos portuários.
Antes de falar de suas idéias para o setor agrícola, o petista havia exposto o projeto "Moradia", descrito como proposta para ser adotado durante administrações sucessivas que atinjam 15 anos.
Nesse prazo, seriam investidos cerca de R$ 90 bilhões na construção e reforma de moradias, com programas de transporte, recuperação de áreas degradadas e saneamento. Os recursos viriam do FGTS, do ICMS e de parte do pagamento das dívidas estaduais à União.



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