|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Mudar por mudar
O governo Lula está sendo
conduzido para uma providência que, na melhor hipótese,
ficará como um risco desnecessário e, com muita probabilidade,
será um erro com variadas conseqüências prejudiciais. A providência leva o nome genérico de
reforma ministerial e, a depender dos seus adeptos mais inflamados, começa em seguida ao
segundo turno; pelos outros, é
discutida em novembro e dezembro e aplicada com o novo
ano.
A pressa é defendida como solução para recompor as forças do
governo, desarranjadas pelas
eleições, em tempo de aprovarem ainda neste ano projetos e
medidas provisórias que dormitam no Congresso, mas consideradas urgentes pelo governo
(poucas o são, de fato). Qualquer
passo apressado para a recomposição será, porém, uma temeridade. Os ressentimentos são
muito difundidos e às vezes fortes, além das valorizações de diversos grupos que, vitoriosos,
saem da eleição com novas perspectivas e ambições. E há ainda
que acomodar a efetivação dos
compromissos eleitorais, alguns
complicados, como no caso dos
malufistas, se cumprido o acordo de um ministério. Apesar disso tudo, não é aí que está o problema maior de uma reforma
ministerial.
Findo o primeiro ano do mandato, Lula fez uma semi-reforma
ministerial. Houve alguma mudança notável no desempenho
do governo? Não, e o primeiro a
dizê-lo é o próprio Lula, ao adotar a idéia de outra reforma ministerial para tornar o governo
mais eficaz. O que se passou é
que o ministério atual não poderia escapar ao destino médio do
primeiro. Ambos ficaram condicionados pela política mais geral
do governo, que provém da força
determinante concentrada na
chamada área econômica, com
predominância de Ministério da
Fazenda e Banco Central.
Talvez só o Ministério de Relações Exteriores, em que Celso
Amorim aplica o seu brilho e, até
que afinal, uma linha autenticamente brasileira, independa da
delimitação de desempenho imposta pela política econômica,
por intermédio da repressão de
verbas essenciais, até ao nível da
paralisação de inúmeros programas e atividades indispensáveis.
Como não há prenúncio de modificações na política econômica, os componentes de um novo
ministério estarão sob o mesmo
condicionamento paralisante
padecido pelo atual e pelo primeiro ministério.
Para quê, então, o custo de
uma reforma ministerial, sabido
que cada mudança de ministro
significa o recomeço de nomeações burocráticas, de novas assessorias, de novos planos? Uma
reforma por ano é um recomeço
por ano, ou seja, recomeço quando o anterior se completou. Tudo
isso com o risco de que a substituição não seja para melhor.
Nomeado para a Ciência e
Tecnologia porque neto de Miguel Arraes, Eduardo Campos,
por exemplo, até agora leva a
ouvir-se, no setor científico, referências muito boas ao seu desempenho, pela aplicação e pela
orientação. É uma área de máxima importância para o país,
mas, com tantas enrolações políticas do grupo central do governo, em reforma ministerial dificilmente escaparia de servir a
um arranjo de conveniência,
com menos sorte que o anterior.
O mais difícil dos ministérios é
o da Defesa. Lidar com os militares é uma dificuldade mesmo
para outros militares, quanto
mais para um ministro civil de
um governo civil. É exatamente
esse ministério que os políticos
desejosos de mudar o coordenador político, hoje Aldo Rebelo,
pretendem que inaugure a reforma ministerial. A cada dia há
uma nota plantada, em algum
jornal, falando em Aldo Rebelo
na Defesa. É conveniente, porém, saber-se desde logo que os
militares considerariam uma
provocação a escolha de um integrante do PC do B para ministro da Defesa. E alguma razão
teriam, sim. Por quê e para quê
Aldo Rebelo, com inúmeras escolhas disponíveis? Se é para dizer
que se trata de um governo de esquerda, não dirá. Primeiro porque não é, segundo porque o flexível coordenador Aldo Rebelo
não se porta como homem de esquerda.
Todos os informados sabem
que o problema na Defesa não é
o hábil ministro José Viegas, é o
comandante do Exército, Francisco Albuquerque. Assim como
o problema do ministério não é
do ministério, é das dificuldades
que lhe são criadas - como serão ao próximo, se houver.
Texto Anterior: Nuvem de lágrimas: Heloísa diz que Serra e Marta 'se merecem' Próximo Texto: São Paulo: PP municipal contraria Maluf e apóia candidatura de Serra Índice
|