São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2004

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Presidente da CPI confirma que foi a churrascos na casa de deputado

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Presidente da CPI da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro que investigou a Loterj, o deputado Alessandro Calazans (PV) afirmou ontem que em duas ocasiões foi a churrascos e dormiu na casa do deputado federal André Luiz (PMDB-RJ) em Brasília.
Gravações de conversas com o empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Cachoeira, mostrariam André Luiz pedindo R$ 4 milhões para que a CPI o livrasse do pedido de prisão. A suposta tentativa de extorsão foi revelada pela revista "Veja".
Calazans disse que tomará medidas na "área judicial" contra o deputado. Segundo ele, o convite para os churrascos partiu de André Luiz, com que conviveu de 1999 a 2002, quando exerceram mandatos na Assembléia.
"Eu já tinha um compromisso em Brasília. Lá, toda semana tem churrasco na casa dele. Ele convidou, já que eu estaria em Brasília. Você vai para Brasília resolver uma situação. Tem um churrasco na casa de um ex-companheiro de Assembléia Legislativa, ele te convida, você vai", afirmou Calazans, definindo como "infeliz" sua estada na casa de André Luiz.
Segundo Calazans, as visitas ao deputado ocorreram após a abertura da CPI, em março. Ele disse não se lembrar das datas e que concluiu que André Luiz tentou se valer do nome dele "para obter recursos de forma irregular".
Calazans disse que André Luiz não interferiu na CPI. "Nunca tentou falar nada, nunca tentou trazer recado de ninguém. A gente foi pego de surpresa em relação a tudo isso", disse, acrescentando não se lembrar de ter sido apresentado por André Luiz a representantes de Cachoeira, pois, "num churrasco com 40 pessoas na casa de alguém, todo mundo é apresentado a todo mundo".
O relatório da CPI será votado hoje em sessão convocada no sábado pelo presidente da Assembléia, Jorge Picciani (PMDB). O documento pede a prisão de Cachoeira e do ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz.
A Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro) foi presidida por Waldomiro de fevereiro de 2001 a dezembro de 2002. A CPI foi aberta após a divulgação de vídeo de 2002 em que Waldomiro pede a Cachoeira propina e doação a campanhas. Waldomiro foi afastado do governo após o caso.
De autoria dos deputados Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) e Paulo Mello (PMDB), o relatório da CPI pede ao Ministério Público o indiciamento de Waldomiro, acusado de formação de quadrilha, corrupção passiva, prevaricação, condescendência criminosa, sonegação fiscal, improbidade administrativa e fraudes contra a Lei de Licitações. A CPI concluiu que Cachoeira praticou formação de quadrilha, extorsão, corrupção ativa e fraudes à Lei de Licitações. Mais oito pessoas são acusadas pela CPI de terem cometido supostos crimes na autarquia.
Em reunião ontem entre Picciani, líderes das bancadas e membros da CPI, foi firmada uma espécie de pacto de solidariedade em torno de Calazans. Picciani falou que o contato de André Luiz com Cachoeira é assunto "de bandido para bandido". Membro da CPI e presidente do PT no Rio, o deputado Gilberto Palmares definiu Calazans como "cordial", que não se envolveria com corrupção.
Segundo as gravações, a garantia de Cachoeira de que não teria a prisão pedida, era ser ouvido em Goiânia, listar perguntas e indicar duas testemunhas.
Membros da CPI disseram que Cachoeira foi ouvido em Goiânia porque, como testemunha, poderia escolher o local, conforme o Código de Processo Penal. Sobre as perguntas, disseram que, quando souberem o teor, irão compará-las à ata do depoimento para saber qual deputado as fez.
O ex-governador Anthony Garotinho, presidente regional do PMDB, disse que André Luiz terá que comparecer à Comissão de Ética do partido.


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