São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2004

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ECOS DO REGIME

Qualidade dos retratos dificulta identificação

Para perito da Polícia Federal, foto não é do jornalista Vladimir Herzog

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Análise preliminar sobre as três fotos que causam polêmica desde a semana passada indica que o homem retratado nu, sob custódia do Exército, não seria o jornalista Vladimir Herzog. Especialista em identificação facial, o perito da Polícia Federal Paulo Quintiliano disse que a péssima qualidade das fotos e as poses retratadas tornam "dificílimo" atestar a verdadeira identidade do homem.
"Em comparação com a foto de Herzog enforcado, é possível verificar que a área da calvície é quase o dobro no homem nu da foto de perfil e muito maior nas outras duas", afirmou o perito.
Oficialmente, a PF não fez um laudo pericial sobre as imagens, porque nenhum órgão do governo ou do Congresso solicitou. Segundo Quintiliano, um eventual laudo da instituição trará as mesmas conclusões a que ele chegou.
"Com o material daquele jeito, de qualidade tão ruim, é impossível analisar. Podemos apenas verificar alguns detalhes, como a área da calvície", explicou.
Na semana passada, as fotos foram divulgadas pelo "Correio Braziliense" como sendo o jornalista Vladimir Herzog horas antes de sua morte em outubro de 1975 com base em identificação da viúva Clarice. Dias depois, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) informou ao ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) que as fotos não eram de Herzog.
Os documentos em posse do governo informam que nas fotos aparece o padre canadense Leopoldo d'Astous em cenas retratadas por agentes da repressão. Parte das fotos feitas por arapongas circulou em Brasília, em 1982, numa tentativa de difamar o pároco. Os militares sentiam-se incomodados com os sermões, a postura progressista do religioso e uma suposta ligação dele com o PCB (Partido Comunista Brasileiro).
A viúva Clarice Herzog identificou o jornalista em uma das fotos, a que mostra um homem com relógio, as mãos na frente do rosto. Ao ver a imagem, d'Astous disse não ter certeza se era ele mesmo. O perito, disse que a pose -o rosto encoberto- dificulta muito o reconhecimento.
De acordo com Quintiliano, a única imagem que possibilita a identificação do rosto é a que mostra o homem ao lado de uma mulher. Ao vê-la, o padre Leopoldo d'Astous se reconheceu.
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados aprovou o envio das fotos para perícia na semana passada, mas ainda não houve autorização da presidência da Casa.


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