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ECOS DO REGIME
Qualidade dos retratos dificulta identificação
Para perito da Polícia Federal, foto não é do jornalista Vladimir Herzog
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Análise preliminar sobre as três
fotos que causam polêmica desde
a semana passada indica que o
homem retratado nu, sob custódia do Exército, não seria o jornalista Vladimir Herzog. Especialista em identificação facial, o perito
da Polícia Federal Paulo Quintiliano disse que a péssima qualidade das fotos e as poses retratadas
tornam "dificílimo" atestar a verdadeira identidade do homem.
"Em comparação com a foto de
Herzog enforcado, é possível verificar que a área da calvície é quase
o dobro no homem nu da foto de
perfil e muito maior nas outras
duas", afirmou o perito.
Oficialmente, a PF não fez um
laudo pericial sobre as imagens,
porque nenhum órgão do governo ou do Congresso solicitou. Segundo Quintiliano, um eventual
laudo da instituição trará as mesmas conclusões a que ele chegou.
"Com o material daquele jeito,
de qualidade tão ruim, é impossível analisar. Podemos apenas verificar alguns detalhes, como a
área da calvície", explicou.
Na semana passada, as fotos foram divulgadas pelo "Correio
Braziliense" como sendo o jornalista Vladimir Herzog horas antes
de sua morte em outubro de 1975
com base em identificação da viúva Clarice. Dias depois, a Abin
(Agência Brasileira de Inteligência) informou ao ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos)
que as fotos não eram de Herzog.
Os documentos em posse do
governo informam que nas fotos
aparece o padre canadense Leopoldo d'Astous em cenas retratadas por agentes da repressão. Parte das fotos feitas por arapongas
circulou em Brasília, em 1982, numa tentativa de difamar o pároco.
Os militares sentiam-se incomodados com os sermões, a postura
progressista do religioso e uma
suposta ligação dele com o PCB
(Partido Comunista Brasileiro).
A viúva Clarice Herzog identificou o jornalista em uma das fotos,
a que mostra um homem com relógio, as mãos na frente do rosto.
Ao ver a imagem, d'Astous disse
não ter certeza se era ele mesmo.
O perito, disse que a pose -o rosto encoberto- dificulta muito o
reconhecimento.
De acordo com Quintiliano, a
única imagem que possibilita a
identificação do rosto é a que
mostra o homem ao lado de uma
mulher. Ao vê-la, o padre Leopoldo d'Astous se reconheceu.
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados
aprovou o envio das fotos para
perícia na semana passada, mas
ainda não houve autorização da
presidência da Casa.
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