|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo troca a redução da CPMF por mais verba à saúde
Ao negociar com tucanos, Planalto avisa que precisa do tributo para aumentar repasses
Idéia é fazer corte simbólico da CPMF em 2008 e elevar, em quatro anos, a fatia da contribuição destinada aos Estados para setor da saúde
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Lula praticamente
desistiu de adotar um cronograma de redução gradual da
alíquota da CPMF até 2010.
Agora, a idéia é fazer apenas um
corte no imposto do cheque no
próximo ano a fim de permitir
um aumento de repasse de verbas, principalmente na saúde,
para os governadores.
A proposta inicial do governo
era reduzir a alíquota dos
0,38% atuais para 0,30% no final do mandato do presidente
Lula. Foi abandonada pela
equipe de Lula por considerar
que ela diminuiria o espaço para negociar outros cortes de
impostos com os tucanos e, ao
mesmo tempo, elevar o repasse
de recursos para a saúde.
A Folha ouviu de um ministro, que pediu reserva de seu
nome, que se "os governadores
querem mais verbas e cortes de
impostos, não há como reduzir
a alíquota como planejado".
Há inclusive a sugestão de
não fazer nenhuma redução na
alíquota, mas o risco é o desgaste político. Segundo a avaliação de governistas, seria necessário pelo menos uma "redução simbólica" da CPMF.
Para convencer a oposição
desse único corte no imposto
do cheque em 2008, o governo
prometeu ontem aos tucanos
aprovar num prazo de um ano
uma reforma tributária.
Em reunião ontem no final
da tarde no Planalto, os ministros José Gomes Temporão
(Saúde), Guido Mantega (Fazenda) e Walfrido dos Mares
Guia (Relações Institucionais)
apresentaram a governistas e
membros da Frente Parlamentar da Saúde alternativas para
aumentar os recursos do setor.
Emenda 29
A proposta é aumentar em
R$ 20 bilhões os repasses à saúde nos próximos quatro anos. A
maior parte viria da própria
CPMF e as alterações seriam
feitas no âmbito da regulamentação da emenda 29 - ao ser
aprovada, em 2000, a emenda
definiu repasses obrigatórios
da União, Estados e municípios
para a saúde até 2004, mas o
Congresso ainda não votou a lei
para definir como ficariam essas regras a partir de então.
Segundo o deputado Darcísio
Perondi (PMDB-RS), o governo propôs um aumento escalonado, até 2010, do percentual
arrecadado com a CPMF e destinado à saúde. Hoje, dos 0,38%
da alíquota do imposto, 0,20%
vão para a saúde. Segundo Perondi, a idéia do governo é, em
2008, aumentar este percentual para 0,23% e chegar a
0,28% até 2011.
Para obter os recursos, a
União determinaria que a DRU
(Desvinculação das Receitas da
União) - que dá ao governo autonomia para usar como quer
20% dos recursos com destinação prevista no Orçamento -
não incidiria sobre a CPMF.
"Isso representaria R$ 3 bilhões a mais em 2008. Esses
R$ 3 bilhões não enfrentam a
crise", reclamou Perondi. Mantega rejeitou o pedido da Frente para que os repasses fossem
vinculados à receita corrente
bruta ou líquida da União.
Custo das exigências
Pelos cálculos da equipe econômica, a conta da negociação
para prorrogar a CPMF até
2011 pode atingir até R$ 7,2 bilhões se três pedidos dos governadores José Serra (SP) e Aécio
Neves (MG) forem atendidos.
Seriam cerca de R$ 3 bilhões
em aumento de repasse de verbas da saúde, por meio da
emenda 29; de R$ 2,5 bi a
R$ 3 bilhões com o corte de impostos nos investimentos em
saneamento básico e R$ 1,2 bilhão no aumento de transferências de recursos da Cide
(tributo para manutenção de
rodovias) aos Estados.
Para convencer a oposição,
sobretudo o PSDB, a votar com
o governo, a idéia é estabelecer
um calendário de aumento de
verbas à saúde, beneficiando
Estados, em quatro anos.
A proposta está contida no
PAC da Saúde por Temporão.
Só que ele defende R$ 9 bilhões
por ano. Esse valor é tido como
inviável. Inicialmente, o governo vai oferecer R$ 2 bilhões.
(VALDO CRUZ)
Texto Anterior: Decisão criou "parâmetro mínimo", diz Toffoli Próximo Texto: Quem quer ser presidente, quer CPMF, diz Lula Índice
|