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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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REFORMA SOB PRESSÃO

Líder do partido desautoriza o acordo sobre subteto

Rebelião do PMDB adia a votação da previdenciária

Alan Marques/Folha Imagem
Reunião dos líderes no Senado com José Sarney (sentado), para discutir a reforma da Previdência


RAQUEL ULHÔA
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo não conseguiu ontem votar a reforma da Previdência no Senado, embora todos os senadores estivessem presentes. Os governistas foram surpreendidos por um rompante do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL).
Ele fez ataques ao governador tucano Aécio Neves (MG) e desautorizou o acordo feito na véspera por Germano Rigotto (RS), governador de seu próprio partido, sobre as regras do subteto salarial nos Estados. A votação acabou transferida para hoje às 9h30.
A surpreendente reação de Renan atrasou o início da discussão do tema, que só começou às 18h, após a crise ser contornada numa reunião emergencial de líderes no gabinete do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
"A esperteza do governador Aécio é algo inadmissível. Ninguém pode pretender ser Tiradentes com a cabeça do servidor público", disse Renan, criticando os subtetos diferenciados para os três Poderes estaduais, dispositivo previsto na proposta aprovada na Câmara dos Deputados.
Às 19h, Sarney decidiu transferir a votação para hoje, embora todos os 81 senadores estivessem presentes. "Começar a votação tarde e num clima tenso seria no mínimo inábil", definiu o líder do PFL, José Agripino (RN).
Além dos 45 votos de sua base no Senado, o Planalto espera ter oito votos no PFL e seis no PSDB para aprovar a reforma previdenciária -são necessários 49.
Sem votos para aprovar qualquer alteração do texto, a oposição pretende marcar posição defendendo emendas sobre 11 pontos polêmicos, entre eles: regra de transição, paridade, subteto salarial, contribuição de inativos, redutor de pensão, fundo de pensão complementar e seguro de acidente de trabalho.

Subteto
O governador do Rio Grande do Sul defende subteto único para os três Poderes no Estado, mas, numa negociação realizada anteontem, da qual Renan não participou, concordou em manter os três subtetos do texto original, acreditando numa solução para o seu caso na chamada "PEC paralela" -emenda criada no Senado para alterar a reforma, preservando o texto aprovado pela Câmara.
O PMDB havia feito acordo com o governo para suprimir esse dispositivo da emenda principal. Mas encontrou resistência de Aécio Neves, que, contrário ao subteto único, pressionou o governo a manter a regra na proposta principal. Na véspera da votação, Mercadante convenceu Rigotto a aceitar o acordo.
Pelo entendimento, na emenda alternativa, o governador que quiser poderá estabelecer outro subteto no Estado, único, que não ultrapasse o valor do subsídio de desembargador. Ele terá 60 dias de prazo para encaminhar projeto de lei fixando esse subteto à Assembléia Legislativa.
Enquanto a PEC paralela não for aprovada, o governador poderá fixar um salário de referência exclusivamente com a finalidade de ser usado como subteto.
Numa reação interpretada por outros líderes como uma tentativa de se fortalecer e mostrar descontentamento com o atendimento dos interesses do PSDB, Renan negou o acordo. Criticou Aécio Neves com veemência e disse que o PMDB não concordaria em votar a reforma enquanto não houvesse o compromisso de que haveria um subteto único.
Em defesa de Aécio, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), chegou a ameaçar fechamento de questão da bancada contra a reforma, por causa dos ""insultos" ao governador mineiro e do rompimento do acordo. "Sem o PSDB, não vota nada", disse.

Telefonema
Para evitar um confronto maior, Mercadante telefonou para Aécio. Na reunião de líderes, Renan acabou concordando em votar o texto principal, desde que o PMDB participasse da redação do dispositivo do subteto na PEC paralela.
"Estamos recompondo o entendimento. É preciso dialogar com tolerância, mas a turbulência está superada", afirmou Mercadante.
Os governistas começaram o dia, ontem, em muita negociação. O presidente do PT, José Genoino, renovou apelo a Paulo Paim (PT-RS) e a Flávio Arns (PT-PR) para que ambos votassem a favor da reforma previdenciária. Mercadante fez um balanço dos votos com Roseana Sarney (PFL-MA) e com Renan, que também conversou com o ministro José Dirceu (Casa Civil) por telefone.
O líder do PMDB chamou ao seu gabinete Papeléo Paes (AP), que, no entanto, reafirmou a disposição de votar contra a reforma. Dos 23 peemedebistas, três votarão contra o texto básico.


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