São Paulo, Domingo, 26 de Dezembro de 1999


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CRIME ORGANIZADO
Testemunha diz na Justiça ter visto acusado ligado ao grupo de Hildebrando atirar três vezes

Açougueiro depõe sobre morte de policial


ABNOR GONDIM
enviado especial a Rio Branco


Testemunha convocada pelo Ministério Público Federal reforçou a suspeita que o policial civil Walter José Ayala foi morto em Rio Branco, em 1997, como "queima de arquivo" pelo suposto grupo de extermínio comandado pelo ex-deputado Hildebrando Pascoal.
O açougueiro José Lourival de Melo França disse ao juiz Pedro Francisco da Silva que viu o segurança Raimundo Alves de Oliveira, o Raimundinho, matar o policial a tiros dentro de um ônibus. Raimundinho seria um dos matadores do grupo do ex-deputado.
"O senhor sabe identificar quem disparou contra a vítima?", perguntou o juiz à testemunha em sessão reservada realizada no último dia 16 com a presença de 8 dos 41 acusados de integrar a suposta quadrilha. "Foi aquele", respondeu França na direção de Raimundinho, sem hesitação.
O Ministério da Justiça incluiu o açougueiro, sua mulher e três filhos no programa de proteção a testemunhas. Eles foram transferidos para Brasília sob a escolta do agentes do Comando de Operações Táticas da Polícia Federal.
O açougueiro é a primeira testemunha ocular dos crimes atribuídos ao grupo de Hildebrando que não responde a qualquer processo na Justiça, como ocorre com outras testemunhas protegidas que acusam o ex-deputado e querem anistia judicial.
França disse ao juiz que ouviu três tiros disparados contra Ayala no interior do ônibus onde ele estava, na avenida das Nações Unidas, em frente à agência do extinto Banacre, onde ocorreu o crime.
"O autor dos disparos portava duas armas, sendo um revólver e uma pistola", disse França. "Após efetuar os disparos, o elemento se dirigiu a uma motocicleta de cor vermelha que o esperava para empreender fuga", registra o depoimento da testemunha.
A versão do Ministério Público aponta que o assassino esperava que a vítima descesse na parada de ônibus. Como isso não aconteceu, ele subiu no ônibus e disparou quase à queima-roupa.
Ayala teria sido morto porque fora convidado para depor no Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, do Ministério da Justiça, sobre crimes atribuídos ao grupo de Hildebrando, do qual também teria participado.
Por isso, o Ministério Público pediu a federalização do crime. Alegou que os autores do assassinato feriram interesses da União porque impediram o depoimento de testemunha no CDDPH.
Jair Medeiros, advogado de Raimundinho, disse que o reconhecimento não é válido. Anteriormente, o açougueiro identificou o segurança diante de duas fotos mostradas pela polícia. Segundo ele, o reconhecimento, para ter validade, precisa ser feito com pelo menos outras quatro pessoas.


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